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sábado, 7 de março de 2015

Uma estrada para o inferno!



Perdido na estrada do inferno,
Você é seu único Deus.
Além do frio sem inverno
E um nada prá esperar...

E eu te falo
Estrelas negras
Não aparecem no céu.
Sem o brilho da saliva,
Do teu cuspe prá acordar
Sangue estragado vermelho
Na estrada para o inferno
E um infinito para atravessar...

Demônio na noite,
Sou euuuuuu!
Sou euuuuu!
Sou euuuuu!

Passageiro de um destino
Que nem mesmo sabe onde chegar,
Anjo negro suicida
E um profundo abismo prá dragar...
Enfeitado em flor de plástico
Você é seu único Deus.
Perdido na estrada do inferno
E todo o resto prá dizer adeus...

A loucura devora a alma
Por favor, esqueça
Dane-se Exploda-se
Que tudo apodreça
Demônio na noite,
Sou euuuuuu!
“Bruna”

Uma estrada para o inferno!
“O inferno são os outros”.

               O tiro atingiu bem no meio da testa de Salamanca. Um pequeno buraco na frente e outro enorme atrás. Ele caiu duro na soleira da porta. Solange sua esposa veio correndo e nem soube quem a matou. Um tiro perfeito no coração. Calixto ouviu um choro de criança, desceu do cavalo e na pequena sala o menino de uns quatro meses chorava. Nem apontou atirou de primeira. O tiro atravessou a boca do menino e ele morreu na hora. Calixto nem foi ver se todos estavam mortos. Não precisava. Ele sabia que onde olhava a bala estava lá. Sua pontaria era terrível. Largou os corpos lá e partiu para a casa de Alencar. Não era longe, umas duas léguas no máximo. No caminho pensava no dinheiro que o Coronel Calazans tinha prometido. Pagou a metade e a outra só quando terminasse o serviço. O Coronel não explicou porque precisava de todos mortos. Ele também não perguntou. - Cinco mil por cabeça – ele disse. Não quero testemunhas, mate todos que estiverem por lá ou quem encontrar no caminho!

             Do alto da colina avistou a casa de Alencar. Na porta duas crianças brincando. – Seu pai? – Na roça Seu Moço! Maria veio ver quem era. Não deu tempo. Três tiros três mortos. Atrás da choupana Alencar chegou correndo. Mais um que recebeu um prêmio, um passaporte para o inferno. Morreu na hora com um tiro na boca. Faltavam ainda Nonô, Policarpo e Esmeralda. Matar uma moça sem pai e sem mãe? Não importava. Ele fora pago para isto. Nunca teve dó, pena, piedade. Já tinha perdido a conta de quantos havia matado. O dia estava terminando. Ele precisava parar e arranchar. Não dava para matar todo mundo num só dia. Parou próximo a um pequeno regato, jogou sua manta e dormiu. Acordou com uma fome “braba”. No bornal preso na sela ele tirou um pedaço de carne seca. Comeu sem cozinhar. Montou no cavalo e partiu. Na estrada viu alguém correndo. Estava em uma égua pequena, quando ele viu Calixto pediu a Deus por sua vida. Não adiantou. Deus não o atendeu. Morreu na hora com a bala de winchester que carregava preso a sela. Calixto não queria saber quem era.

                    Ele pensou que era alguém indo avisar os demais do matador que o Coronel contratou. Agora ele está lá, na porta do inferno conversando com o diabo esperando outros que em breve iriam chegar. Era um contratempo. Pensou em encontrar todos eles desprevenidos. Bem, dinheiro não cai do céu. Estava fácil demais. Viu de longe na trilha a fumaça na casa de Nonô. Quem sabe ele ainda não fora avisado? Ledo engano. Ao atravessar o Ribeirão das Cobras balas zuniam sobre sua cabeça. Calixto riu. Porra, o danado está armado! Parecia ser mais de um. Lembrou que o Coronel disse que ele tinha um filho de desesseis anos. Bem os dois devem estar armados. Vamos esperar a noite chegar. Procurou uma moita de capim colonião e deitou dormindo na hora. Os tiros cessaram. Quem sabe eles achavam que ele estava morto, mas ninguém foi lá para ver. Calixto acordou com noite escura. Olhou sua winchester e viu que estava pronta para cantar. Arrastando foi devagar até a casa de Nonô. Tudo escuro. Ele sabia que eles estavam lá dentro. Ele sabia que fugir dele era cair na frigideira.

                 Meteu o pé na porta e mesmo no escuro sentiu o fedor da morte. Não deu tempo para nada. Três tiros, três mortos. Melhor era confirmar se estavam a caminho do inferno. A noite todos os gatos são pardos. Mortinhos da silva. A mulher, o menino e Nonô. Ele sabia que o Coronel iria pagar por cada morte que ele encomendou. Procurou no quarto embaixo da cama se não tinha mais alguém. Não tinha. Calixto estava cansado de tanto cavalgar. Ele sabia que podia ficar mais uma semana na sela do cavado baio. Mas amanhã é outro dia e ele pensava que podia acabar de vez com a empreitada. Faltava Policarpo e Esmeralda. Se Deus ajudasse ele mataria os dois em um só dia. Resolveu dormir ali na casa de Nonô. Nem se preocupou em tirar os cadáveres da sala. Deixe eles lá. Não estão mais no corpo. Ou foram para o céu ou para o inferno. Deitou na cama de Nonô e dormiu em menos de dois minutos.

                Nem bem o sol apareceu e Calixto já estava na estrada rumo à casa de Policarpo. Iria deixar Esmeralda por último. Estava na campana há dias e precisava comer uma mulher. Disseram a ele que Esmeralda era uma moça linda e gostosa. – Como ela e meto uma bala nela depois de gosar pensou. Ele não entendia porque o Coronel Calazans queria matar todos eles. Quem sabe a nova lei do usucapião? É o tal negócio, você dá a mão e o cara quer tudo! Não dizem que quem tudo quer tudo perde? Interessante que as roças que viu eram uma merda. Ficar ali contra a vontade do coronel e não ter nada era só mesmo para filhos da puta que não queriam trabalhar. Às onze da manhã avistou a casa de Policarpo, ele estava sentado no banco na porta da sala. Será que ainda não sabia? Apalpou seu colt 45 e viu que estava bem no coldre. Já tinha visto as balas que colocara e elas já tinham dono e destino. Chegou sério até onde estava Policarpo. Ele não era de sorrir. Dizia para si mesmo que quem rí muito é viado.

                Policarpo olhou para ele e nos seus olhos Calixto viu a morte. Pulou do cavalo na hora que o tiro ecoou. A mulher de Policarpo estava armada e esperando ele chegar. Viado filho de uma puta. Quase me pegou. Policarpo deu um salto e atirando com um Taurus simples errou o primeiro tiro e o segundo engasgou. Tá fudido home! Comece a rezar, pois vai morrer agora disse Calixto. O primeiro tiro foi para Lena a mulher dele que estava na janela pronta para o segundo tiro. Ela nem sabe como morreu. De raiva Calixto descarregou o Colt em Policarpo. Cada tiro ele dançava no ar. O sangue espirrava e as balas de Calixto brincavam em entrar naquela pele negra, mas com sangue vermelho. Policarpo girou como um peão danado, sentindo a morte tomando conta dele e pedindo ao demônio que matasse aquele matador filho de uma égua. Calixto sentiu uma queimação na perna direita. Sangue jorrava e a calça estava vermelha. Danado, ele me acertou. Tirou a calça e viu que era um buraquinho de nada. A bala entrou e saiu.

                      Entrou na casa a procura de filhos e não encontrou ninguém. O filho da mãe havia despachado os três filhos antes da chegada dele. Agora seria difícil descobrir onde estavam. Quem sabe na montanha do Grilo? Bem ele ia até lá depois de foder e matar Esmeralda. Só de cueca foi até a bica no quintal e limpou a ferida da bala. Ardeu mas nada parecido com a ultima bala que recebeu nas costas. “Geraldino atirou nele pelas costas” Filho da puta! Ele até hoje nas prefundas do inferno deve estar gemendo. Morreu com quinze facadas. Não ia desperdiçar uma bala naquele demônio do caralho! Ficou de molho dois meses sem matar ninguém. Se sentiu órfão. Não gostava de ficar parado. Ele gostava de matar, matava tudo que era vivo e alguém pagava para acabar com o danado. Ele sabia que tinha muito dinheiro guardado. Não gostava de bancos. Comprou um baú a prova d’água, passou muito mel em volta, deixou secar e abriu uma pequena fenda no Rio das Mortes e lá preparou para guardar seu baú cheio de dinheiro.

                      Calixto chegou à casa de esmeralda à tardinha. Encostada na soleira da porta não fez nenhum sinal de medo ou que iria correr. Puta de uma morena bonita e gostosa. Que lábios para morder ele pensou. Peitos enormes, cabelos negros compridos do jeito que ele gostava. Sentiu um perfume no ar. Ela sorria para ele e devagar levantava a saia para ele ver a calcinha dela. Filha da mãe! Pensou. Me deixou duro. Saltou do cavalo e a pegou pelos cabelos arrastando até a cama. Jogou-a brutalmente no estrado, tirou seu membro para fora, rasgou a calcinha dela e meteu com força. Ele gostava assim. Este negócio de deixar a mulher gosar é coisa de bicha escrota. Não dava folga. Metia com força e viu que ela gemia. A puta estava gostando! Mulher é assim, sabe quando gosar. Fechou os olhos para jogar toda a porra dentro dela. Não esperava o que ela fez. Sentiu uma faca entrando em sua jugular. Espirrou sangue prá todo lado e a respiração era difícil.

                        Agora sabia que ia morrer. Queria matar a puta dos infernos, mas não tinha força. A faca encravada em sua garganta não lhe dava paz e nem maneira de pensar. Ele morria aos poucos. Esmeralda sentou na cama se ajeitando e rindo. Olhou para ele sem nada dizer. Ele olhou para ela e pensou que poderia ter feito dela sua mulher. Precisava de uma mulher assim. Valente sem medo e gostosa prá burro. O jeito era esperar o capeta chegar. Não ia rezar, sabia que Deus não iria perdoar seus pecados. Nunca rezou na vida. Nem mesmo quando matou o Monsenhor Diácono na sacristia. Matou rindo e o pendurou na imagem do cristo. Imagem? Uma estátua feia e sem valor para ele. Melhor fechar os olhos e só abrir quando chegasse ao inferno. Não deixou nada para trás, nunca teve nada a não ser seu dinheiro preso em um baú na beira do rio. Ia ficar para as piranhas se elas gostassem das verdinhas de cem.

                       Esmeralda foi até o córrego e tomou um belo banho gelado. Lavou bem suas entranhas para não ficar marca daquele bandido filho da puta. Vestiu uma calça simples e uma camisa estampada. Colocou um chapéu de palha e partiu no cavalo baio de Calixto. Bom cavalo, marchador. Ela conhecia um bom animal. Estava escurecendo quando chegou à fazenda do Coronel Calazans. Ele a esperava em pé na varanda. – Matou? – Mortinho da silva Coronel. Bom serviço! – Desceu os três degraus e entregou a ela uma sacola de dinheiro. Estava livre de todo mundo. Olhou para Esmeralda, vai ser bonita e gostosa assim no inferno, pensou! Ela sorriu. Sabia quando o Coronel queria foder. Mas não desta vez. Ela não confiaria nele nunca. Meteu a espora no baio e sumiu na trilha da Ema. Ninguém nunca mais ouviu falar dela.

Prologo: - Juventino notou que Calixto não mais apareceu no seu casebre na beira do Rio Pardo. Passou um mês, dois e nada. - Morreu o desgraçado pensou. Foi até a beira do rio onde sempre viu Calixto tirar e colocar um baú dentro d’água. Achou a cordinha de nylon e a puxou. O baú veio à tona. Abriu a tampa e viu sorridente um monte de dinheiro. Melhor ficar com ele do que com os peixes do rio, pensou. Arrastou o baú até sua casa. Vovó Mafalda sorriu quando viu tanto dinheiro. Juventino nos seus treze anos nem sabia quanto tinha, sua Avó foi quem disse que eles tinham enricado. Mudaram para São Lourenço uma cidade bem grande e que ninguém iria perguntar aquela velhinha e aquele negrinho como eles conseguiram comprar a casa de Dona Antônia. É como dizem. A males que vem prá bem. Calixto no inferno e Juventino gastando seu dinheiro a rodo. Dizem que eles viveram felizes para sempre!

Aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre isso
e nada mais incomoda eles
(...)
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou mesmo morrer.

Quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão indo? "
eles vão responder: "bem, muito bem... "

Uma vez que você foi para o inferno e voltou
é o bastante
é a mais silenciosa celebração conhecida.

Uma vez que você foi para o inferno
e voltou você não olha para trás
quando o chão range.
o sol está no alto à meia-noite

E coisas como os olhos de ratos
ou um velho pneu em um terreno baldio
pode torná-lo feliz.
(...) Uma vez que você foi para o inferno
e voltou.

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