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sábado, 20 de fevereiro de 2016

A dança da morte


Lúcifer
Então, Deus, são estas tuas imagem e semelhança...
Por elas varreste-me de teus céus que minha luz esfuziava.
Por tais criaturas, arrogantes e francas,
Interrompeste o diálogo;
Desdenhaste o encontro permanente,
Deste-lhe o amor que só nosso.
Como com todas tuas outras, travestiram-no de tudo:
Menos de teu amor.

Eu lúcifer, hei de compor um vírus, uma anti-vida
Escondido no rubro que vida representa,
Tão faminta da vida que criaste,
Que aniquile, com insídias, a obra que amaste.

Que o amor que lhes deste seja a porta
Pela qual entre minha criação, portal da morte.
Tocada por mim, tua imagem te amaldiçoará a cada instante.
E nela, ferida, que te feriei. Porque te amo ainda.
Júlio Dias de Queiróz

A dança da morte

                           Desde que nasceu Jove ouvia falar em Deus. Sua mãe o obrigava a rezar, o padre a confessar, na escola professoras enchendo sua cabeça de Deus. Sempre quis falar com ele, mas ele nunca o atendeu. Entrava em igrejas, em templos em busca de Deus. Nada. Ficou cinco dias no monte Caparal olhando as estrelas procurando um sinal. Nada. Resolveu ficar jejuando para ver o que Deus faria. Não fez nada. Nando desistiu. Esse Deus não existia.

                         Se Deus não existe e o diabo? O demônio? O capeta? Ia provar que ele também não existia. Mas para isso teria que fazer a invocação com a Dança da Morte. O que iria fazer seria horrível, mas valeria a pena provar que o inferno não existia. Jove era magrinho, cara de “fuinha” na escola o chamavam de “porquinho da índia”. Alugou um sitio próxima a cidade. Avisou seus pais que iria fazer uma viagem de um mês para não se preocuparem.

                        Ele conhecia Safira, uma menina magrinha, com treze anos, muda e que morava com a avó próxima a sua casa. Safira quase nunca saia de casa. Olhos pequenos boca grande, cabelos escorridos, não tinha nada de belo em sua aparência. Nando a raptou quando ela ia a padaria comprar pão. Fazia isso toda a manhã. Colocou em seu fusquinha e partiu para o sitio. Tinha comprado éter e com ele embebido em um lenço viu que Safira tinha desmaiado.

                          Ao chegar ao sitio, tirou a roupa de Safira, deixou-a nua. Pequena, magra, apenas treze anos não possuía nenhum atrativo sexual. Levou-a ao quintal, colocou-a dentro de um tanque de agua fria, amarrou seus braços abertos em duas estacas fincadas ao lado do tanque com cordas finas. Ela não tinha como levantar e teria que ficar dentro da água só com a cabeça para fora. Safira quando acordou estava horrorizada. Abria a boca e só saia grunhidos. Seus olhinhos saltavam como se fosse fugir. A dor era incrível.

                        Um horror enorme saia de seus olhos quando Jove se aproximava. Ele cortou com canivete varias lascas finas de bambu. A cada hora enfiava uma lasca em uma parte do corpo de Safira. Sempre ria quando o sangue se misturava a água do tanque. No segundo dia a água já estava vermelha. Com um pequeno alicate, arrancou a força duas unhas de sua mão direita. E duas do pé esquerdo. A pobre da Safira gemia horrorizada tentava gritar um grito que não saia. Desmaiava e acordava. Uma dor tremenda. Não entendia nada do que estava acontecendo.

                       À noite Jove tirou sua roupa. Pintou-se de preto. Matou um galo que tinha comprado. Espalhou as penas e o sangue em cima de Safira que agora estava desmaiada. Daquele jeito Safira iria morrer no dia seguinte. Não aguentava mais de tanta dor. Jove começou a gritar a meia noite em ponto. Gritava e dançava, cacarejava e pedia – Apareça demônio! Mostre sua força! Mostre que você existe! Onde está você demônio dos infernos! E dava grandes gargalhadas e gritos. Dançou por muito tempo a Dança da Morte.

                       Estônio acordou assustado. Dois dias como o mesmo pesadelo. Estônio era investigador de polícia e também "Chefe" Escoteiro. Adorava sua profissão e ria quando os meninos e meninas da tropa pediam para ele contar historias de bandidos em acampamentos ou mesmo na sede. Considerava-se um bom policial. Nunca abusou e nunca deixou de cumprir suas obrigações dentro da lei.

                      Sempre o mesmo sitio que ele não conhecia. Uma menina indefesa na mão de um maníaco. Teria que ser verdade. Isso só podia ser um sinal de Deus. Teria que descobrir onde era o tal sítio. Sem querer comentou com amigos seu sonho. Estava preocupado. Afinal era casado também e tinha dois filhos homens. Ainda crianças com dois e três anos. Rildo um colega de trabalho lembrou que seu pai alugou um sitio para um homem e que ele tinha comentado que o tal queria só por um mês. Pagou adiantado e dobrado.

                      Junto ao pai de Rildo ele foi ao sitio. O que viram um verdadeiro terror. Nunca imaginaria algum parecido e olhe, ele era um policial. Tinha visto muitas coisas na sua profissão. Ainda encontraram Safira com vida. Desmaiada. Toda machucada, mas respirava. Em volta pedaços de corpo de um homem todo queimado. Tinha sido esquartejado. Seus membros fedia. Acharam sua cabeça fincada em um bambu. Sua língua para fora mostrando que morrera gritando e horrorizado. Em todos os membros cortados, lascas de bambus pontiagudos. Nas duas mãos e nos dois pés nenhuma unha. Foram todas arrancadas a alicate.

                      Estônio ficou estarrecido. Depois que a ambulância levou Safira, ele olhou e viu em uma porteira próxima fumaça como se ela estivesse queimando. Foi até lá. Viu escrito a fogo nas taboas e o que leu gelou suas veias. Estarrecido imaginou o que poderia ter acontecido ali. Dizia: – “Não se preocupem. Ele queria me ver, duvidava de mim. Ele agora vai morar comigo. Lá no meio dos infernos e vai queimar comigo para sempre” assinado o “Demônio”.

                      O que viu o que sentiu mostrou a Estônio que não se pode duvidar da morte, das pessoas, de Deus e do Demônio. Não soube explicar quando do seu relatório policial. Não sabia o que dizer. Escreveu o que viu. Hipóteses somente. Safira se recuperou. Com quinze anos começou a balbuciar. Aos dezoito já falava normalmente. Sua mente apagou tudo que tinha acontecido. A dor do passado agora eram alegrias do futuro.

                   Não sei quantas vezes outros fizeram a “Dança da Morte”. Espero que não sejam muitos, pois seu final é trágico.                 
Anjo ou Demônio
Por vezes te quero, anjo
Para afugentar meus demônios
Mas quando estou possuído
Peço-te socorro em meus sonhos.
Muitas vezes és demônio
Pecando me leva ao delírio
Minha alma fica entregue
Ardendo no seu martírio
Anjo que me fascina
Demônio que me instiga
E eu fico envolvido
No mistério que me domina
Sedutora e sensual
Me hipnotiza e conduz
Com seu olhar demoníaco
Sugando-me toda luz
Possuindo-me aos poucos
Demônio, Lasciva, Mandraca
Salvando-me de meus pecados
Anjo, Mulher, Fada.
Angelical e indemnizada
Forte como um vulcão
Arrebatou-me por inteiro
Corpo, alma, coração.

André Ferreira