Bem vindo ao blog do Osvaldo

Seja bem vindo a este blog. Espero que aqui você encontre boas historias para passar o tempo, e claro, que goste.

Honrado com sua presença. Volte sempre!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Quando e preciso ser homem.



Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Quando e preciso ser homem.

            Eu queria esquecer. Esquecer-se de tudo que meu passado insistia em trazer para o presente. Colocar bem no fundo do baú tudo que eu gostaria de esquecer e tirar da minha memória. Sempre tentei ser honesto, homem honrado e nunca esqueci aquele poeta desconhecido que um dia escreveu – Você não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo ouvir. Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto da Cotovia, dos ventos e das canções da brisa. Não sou bonito, nunca fui, mas tive algumas aventuras que para mim não passaram de tempos perdidos. Minha família tentou tudo para que eu fosse um doutor, mas não deu. Até que me esforcei e quase cheguei lá, mas a bebida tomou conta e por mais que me esforçasse não conseguia parar. Eu tinha hora para começar e não para parar. Nos bares que frequentava amigos ainda pagavam uma dose ou outra, mas aos poucos isto foi rareando. Sem dinheiro, sem emprego nada mais me restava do que viver à custa dos meus pais.

           Um dia assisti a um crime bem na minha frente quando voltava para casa. Não vi que deu as facadas, pois estava embriagado e meus olhos nada enxergavam. Uma nevoa espessa parecia flutuar em minha mente. Tentei socorrer a vitima, mas socorrer como? Alguém passava na hora e me viu ajoelhado junto a ela com a faca na mão. Chamou a policia, fui preso, julgado e condenado há trinta anos em regime fechado. Não reclamei. Merecia por ser tão idiota, pois se não tivesse bebido isto não teria acontecido. Na prisão não bebi mais e nem me tornei um viciado em drogas. Graças a Deus. Achei que a prisão seria meu castigo e se um dia saísse seria outro homem. Tentaram me convencer a participar das reuniões que os pastores faziam. Não me interessei não porque não acreditasse em Deus. Eu acreditava. Naquele momento achava que seria falsidade me arrepender só por acreditar em Jesus.

           Cinco anos depois fui solto. Disseram que o verdadeiro assassino foi preso. Ninguém me procurou para se desculpar. Não me importei com isto. Foram cinco anos de abstinência. Na saída não vi meus pais. Depois fui saber que foram embora para sua terra. Interior do Maranhão. Não deviam saber de mim. Resolvi ser outro homem, estudar, trabalhar mostrar que a sociedade poderia acreditar em mim. Assim fiz e em oito anos me formei em engenharia civil. Mais três anos e já era um diretor de uma grande empresa construtora. Como era sozinho me entregava de corpo e alma ao meu novo sonho de me tornar dono de uma empresa como aquela. Não sei o que deu em mim em uma noite quando cheguei a minha casa. Encontrei deitada no sofá a Dona Josefa, faxineira que vinha três vezes por semana fazer limpeza. Ela estava com a saia levantada e sua calcinha deixava transparecer a sua penugem. Fiquei tonto. Um calor enorme no corpo. Havia mais de oito anos sem sexo. Meu membro endureceu. Fechei os olhos, tirei sua calcinha e entre nela sem pedir licença.

          Vi que ela acordou e não disse nada. Deixou que eu a possuísse sem reclamar. Nem camisinha usei. Jorrei tudo que tinha direito e não parei por ai. Parecia ensandecido por sexo. Estava insaciável. Exausto fui para minha cama e dormi o sono dos justos. Durante uma semana ela fingiu que não houve nada e eu também. Não era uma mulher jovem, devia ter seus trinta anos ou mais e até que era simpática, mas muito magra. Baixa, morena carnuda, cabelos crespos uns olhos castanhos profundos e sempre que me via abaixava a cabeça e nada dizia. Não pediu favores, não pediu nada. Seu salário continuou o mesmo. Durante três semanas minha mente matutava sobre o que fazer. Não fui homem para ela. Usei-a como se fosse uma lata de lixo, sem pedir licença e como se fosse o capitão do engenho. Se arrependimento matasse eu estaria morto.

          Passou um mês, dois e ela calada claro, trabalhando e executando a função que competia. No quarto mês notei que sua barriga crescera. Fiquei pasmo. Boquiaberto. Passei uma noite em claro. Ela engravidara? Um maldito eu era. Tinha de tomar uma atitude. Mas qual? Oferecer-lhe dinheiro? Casamento? Eu? Afinal ela uma simples faxineira e eu um executivo de sucesso. Naquela tarde sai mais cedo do trabalho. - Dona Josefa, falei, poderíamos conversar? Só eu falei. Ela nada dizia e só de cabeça baixa. No dia seguinte trouxe sua mudança. Duas malas e mais nada. Passou a morar no quarto de hospedes. Continuou executando suas tarefas, mas dificilmente trocávamos uma palavra. Eu a respeitava e nunca tentei fazer sexo com ela novamente. Nunca perguntei o que ela sentia e sabia se perguntasse ela não responderia. Não era minha esposa, não era uma faxineira, mas afinal ao que ela era? Quem sabe uma concubina, mas sem formalização de corpos. Todo seu pré-natal foi custeado por mim. Ficou em um quarto especial quando deu a luz.

           Nancy nasceu com três quilos e meio. Linda. Nunca vi uma criança como ela. Achava que era a mais linda da face da terra. Josefa teve um parto normal, mas no segundo dia sofreu uma parada cardíaca e não se recuperou. Morreu uma semana depois. Chorei como se ela fosse minha esposa. Acredito que tinha por ela um amor diferente, fechado, preso no coração e que não se soltava. Nunca soube se ela tinha parentes, nunca me contou sua vida. Agora nada mais importava. Eu tinha Nancy, eu faria dela a rainha do mundo! Cerquei-a de tudo. Contratei uma babá, quando ela fez cinco anos fiz questão de contratar uma governanta trilíngue. Ela ia cursar a melhor escola, teria as melhores roupas, tudo dela seria como de uma princesa. O que ganhava era para ela. Minha empresa crescia a olhos vistos, eu era outro homem. Não tinha olhos para outras mulheres e olhe que muitas faziam de tudo para me conquistar. Agora só via minha filha. Amava-a mais que tudo.

           O tempo foi passando, Nancy crescendo e cada dia mais linda ficava. Adorava sair com ela, teatros, cinema, melhores restaurantes e entrava de braços dados. Todos olhavam abismados. Lembro quando fomos a Paris e entramos no L’ambroisie um dos meus restaurantes prediletos e todos os olhos masculinos se viraram para ela. Um porte de princesa um sorriso encantador e eu sabia que se ela mandasse todos eles ficarem de joelhos em frente a ela eles obedeceriam. Uma noite de gala fui convidado para um espetáculo que se apresentava ano Teatro ala Scala em Milão na Itália. Eu sabia que era uma das mais famosas casas de ópera do mundo. Don Fagundes um conde bem considerado em Roma fez o convite. Fiquei sabendo que iriam apresentar “Die Walküre, e como não conhecia lá fui eu de braços dados com Nancy”. Ela nos seus dezesseis anos parecia uma jovem de vinte e um. Qual não foi a surpresa que ela sem perceber foi até o balcão onde estávamos e o teatro em peso deu um sussurro de admiração. Logo uma salva de palmas. Ela ficou vermelha de vergonha e sentou sem levantar mais.

            A levei para as mais lindas cidades do mundo. Eu a amava como um pai amoroso ama sua filha. Mas como dizem por aí, tudo que é bom dura pouco. Minha sina nunca foi marcada de felicidade para sempre. Eu mesmo estava espantado por ter tido a sorte que tive. Fiquei riquíssimo, uma linda filha, uma mansão na Côte d’Azur na França. Sempre passava as férias lá. Nancy era loira, naturalmente loira com cabelos amarelos cor de palha, olhos azuis um lindo corpo que atraiam homens que davam tudo para ficar ao lado dela. Estudava em um colégio feminino e Gustavo seu guarda costa já passava dos sessenta anos. Um dia Nancy desapareceu do colégio. Fiquei petrificado. Um medo grande de perdê-la. A polícia dizia para esperar vinte e quatro horas. – Moças desta idade sempre dão um passeio mais longo e davam risadinhas nada agradáveis. Passaram mais de vinte dias e nada. Contratei uma agencia de detetives, a melhor da cidade. Disse que pagaria oque fosse para encontrarem-na.

           Moreno o Chefe dos detetives me procurou no escritório em uma terça feira. Mostrou-me fotos dela. De braços dado com Anthony Pergiano. Um mafioso contrabandista dos mais perigosos. Não disse nada. Saí correndo e ele atrás dizendo que não era o melhor caminho. Na Vinte e Cinco de Março subi correndo o prédio do mafioso. Barraram-me no terceiro andar. Pelo celular mandaram deixar-me entrar. Minha linda filha, a quem eu mais amava sentada no colo daquele filho da puta mafioso foi como uma facada no coração. Ele devia ter uns trinta anos no máximo. – Porque Nancy, por quê? – Ela abaixou a cabeça e balbuciando disse que o amava. Não me disse nada, pois sabia que seria contra. – E porque não deu notícias? – Anthony proibiu. Disse que eu era dele e de mais ninguém. Olhei nos seus olhos e parecia que chorava as escondidas. Não me deixaram falar mais nada. Escorraçaram-me e ela nada fez para impedir.

            Maldito mafioso. Filho de uma puta descarado. Não ia ficar assim. Sabia que ela estava sofrendo uma pressão enorme. Moreno o detetive contratado me disse que a policia nada ia fazer. Ele mandava na policia. Lembrei-me de Parafuso. Um negro enorme que conheci na prisão. Sempre conversava comigo mesmo sabendo que não teria resposta. Precisava encontrá-lo a todo custo. Não foi difícil. Moreno o levou em minha casa uma semana depois. – Preciso de um favor. Preciso que consiga alguém para matar um homem poderoso. Um mafioso que tem a polícia nas mãos. Parafuso não perguntou o nome. Só disse onde ele morava e se tinha uma foto. Mostrei-o com minha filha abraçados. – A moça não eu disse. Ela é minha filha. Dei a ele trinta mil reais. – Faça o serviço e recebe mais duzentos mil. Ele calado saiu. Um mês depois os jornais em letras garrafais anunciavam a morte do mafioso – O senhor Anthony Pergiano morreu hoje. Deram nele onze tiros. Ele achava que tinha o corpo fechado. Não tinha guarda costas. A policia jurou que o crime não ia ficar impune.

           Ninguém sabia onde andava Nancy. Eu sabia que a tinha perdido. Se ela amava o mafioso não ia me perdoar nunca. Um mês depois recebi a noticia. Notícia não foi um coice de multa no rosto. Forte, marcou. E como marcou. Encontraram-na morta num Beco da Rua Augusta. Foi morta com onze tiros. A mesma quantidade que recebera seu amado. O mafioso filho da puta. Chorei e como chorei. O mundo desabou sobre mim. Eu sabia que em minha vida nunca seria feliz. Onde colocava as mãos o sangue derramava. Um ano depois vendi tudo que tinha. Já havia pago os duzentos mil ao parafuso que sumiu da cidade. Não me disse aonde ia. – Olhe seu Freedy, não fique por aqui ele me disse. Esta quadrilha não vai perdoá-lo. Mais cedo ou mais tarde o senhor vai receber o mesmo que sua filha. Eles já sabem que fui eu e olhe, nunca disse nada para ninguém que o senhor foi o mandante. Estou indo para Bolívia e de lá sem destino.

         Cheguei a Matões do Norte onde meus pais moravam uma semana depois. A cidade é considerada uma das quatro mais pobres do Brasil. O sitio onde estavam meus pais fazia pena. Um casebre de pau a pique. Com as próprias mãos fiz uma puxadinha de um quarto. Minha morada. Com as próprias mãos também construí minha mesa e uma cadeira. Ia a pé até a cidade para fazer uma feira. Uma feira pobre. Não podia chamar a atenção. Quer saber? Eu vivia feliz ali. Consegui esquecer tudo que fui e tudo que eu era. Só não dava para esquecer Nancy. Nem lembrava mais de Josefa. Que Deus a tenha. Foram quatro anos labutando no campo, onde fiquei “maneiro” com uma enxada e um enxadão e de olho na estrada. Nunca mais ouvi falar nos mafiosos. Deixaram-me em paz. Casei com uma rapariga nova que não conhecia. Seus pais ofereceram para mim por cem reais. Aceitei mas disse a ela que não teríamos filhos. Não poderia sofrer de novo a sede de vingança dos mafiosos filho da puta.

         Lena não sabia que seu marido era bilionário. Nunca iria saber até minha morte. Um advogado em São Luiz providenciou tudo. Não disse tudo. Só que tinha cinco mil em poupança e se morresse era dela. Risos. Eram mais de um bilhão e quatrocentos milhões de reais. Dinheiro suficiente para transformar aquela cidade em um paraíso. Eu? Eu continuei pobre. Tirava minha comida da lida diária aqui e ali. Do feijão plantado, do pequeno arrozal e da horta que fez inveja a muitos vizinhos. Lena foi à mulher que não tive. Gostava de mim e fazia tudo por mim. Ela não sabia que seria a mulher mais rica do brasil. O que iria fazer com tanto dinheiro? Iria casar novamente? Quase não pensava nisto. Não precisava pensar. O dinheiro muitas vezes é uma desgraça e só quem o tem sabe explicar melhor. Eu esperava que ela fosse feliz, que tivesse tudo que quisesse apesar de que nunca me pediu nada.

         Fiz setenta e cinco anos ontem. Os cabelos brancos aparecendo em quantidades. Apesar de ter uma aparência magérrima me sentia bem. Nunca senti dores e peço a Deus para não demorar em me levar. Sempre penso o porquê não morri até hoje. Aprendi a gostar de todas as tardes ficar cochilando em um banco na Praça de Matões do Norte. Fiz muitos amigos, até me convidaram para me candidatar a prefeito. Dei boas risadas. Minha vida era outra. Só esperava a hora de partir para o céu e pedir perdão a Josefa e Nancy. Não sabia se iriam me perdoar. Oscar Wilde já disse que o amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor!

Fim.

Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...