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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Meu destino, minha vida.


Vida de drogado

Vagueias pelas ruas,
Perdido em teus pensamentos,
Já não sabes onde moras,
Pensas e agora choras,
Tua vida, feita de tormentos.
Já não te lembras como foi,
Deixaste-a entrar na tua vida.
No início era tudo mágico,
E depois da tua alma esquecida
Não vês como é tudo trágico.
Queres deixá-la e não consegues,
Quem te ajudará agora?
Ela não te irá perdoar
Tinhas tanto para viver lá fora…
E tu preso nela, a amargurar.
Pensas no fim que terás,
Procuras avidamente dinheiro,
Doente e desesperado,
No meio de uma noite escura,
Só a vida de drogado,
Não te permite ver tua figura.

lusos poemas.

Meu destino, minha vida.

                           Disseram-me um dia que precisamos ter sorte para a vida nos sorrir sempre. Nunca acreditei nisso. Não acredito em sorte. Acredito em escolhas. Estas sim decidem nosso destino. Afinal sempre disseram que temos o livro arbítrio para decidir o certo e o errado. Às vezes tomamos um caminho incerto achando que era o certo. Tomamos decisões que nunca deveriam ter sido tomadas. Mas e daí? Voltar atrás? Pensar de novo se a escolha foi correta? Absurdo. Uma vez a decisão tomada não tem volta. Ou tem?
                           Tudo começou quando fiz dezesseis anos. Loira, esbelta, corpo de Afrodite, uma perfeita combinação da mulher perfeita. Acreditava que sabia de tudo. Tinha todas as respostas. Até minhas amigas me achavam uma auto didata. Risos. Não era nada. Se tivesse metade do juízo delas não seria o que sou hoje. Mamãe sempre implicando. Papai ausente. Resolvi estudar a noite. Todos os meus amigos assim o faziam. Minha mãe dizia que deveria continuar no colégio onde estava. Lutavam com dificuldade, mas conseguiam sempre pagar a mensalidade.
                            Foi à conta. No Colégio Santa Maria das Mercês, do Estado, conheci Venâncio. Amor à primeira vista. Risos. Amor? Quem dera se fosse hoje. Mas os jovens acreditam em tudo. Entreguei-me a Venâncio. Como dizem por aí “ficávamos” em todos os lugares. A princípio usava preservativo, depois a paixão tomava conta. Esquecia-se de tudo. Durante um ano foi assim. Mesmo com minha mãe proibindo eu saia com ele. Braços dados, amor daqui, amor dali, paixão, todos sabem como é. Começa assim depois não quero vê-la nunca mais.
                          Não culpo Venâncio. Ele foi à mão do meu destino. Senti que estava grávida. Medo terrível. Precisava falar com minha mãe. Venâncio comprou uns comprimidos que se tomasse abortaria. Medo maior ainda. O Padre Juventino dizia que ia para o fogo do inferno quem fizesse aborto. Não tomei as pílulas. Tomei coragem. Falei com minha mãe. Que mãe eu tenho. – Gracielle, agora não tem volta. Vamos enfrentar juntas. Lembre-se, sua vida vai mudar. Ser mãe não é como ontem. Vamos exigir muito de você.
                         Estava no sexto mês de gravidez quando Venâncio me convidou para fumar um baseado. – É bom! Experimente! Dei uma tragada. Tossi muito. Vamos meu amor, não tenha medo. Isso vai ajudar a você enfrentar daqui para frente sua gravidez. É. Venâncio era um ingênuo. Sempre foi. Começou com um amigo dele. Traficante. Ele não sabia. Fumei um, dois, três e foi só o começo. Achava lindo. Minha mente abria, o céu era mais azul. Os pássaros cantavam como nunca tinha visto.
                         No oitavo mês comecei a dar os primeiros “caldos” com Venâncio. Um medo terrível no início. Depois usava a seringa com perfeição. Foi o princípio de tudo. Ficava relaxada, um mundo continuava azul, o sol lindo, as flores tinham um perfume que parecia o início da primavera em um bosque florido.  Nunca errei a veia certa. Uma vez a bomba entupiu. Estava com uma ressaca grande. Forçava e Venâncio me ajudava. “Bombei” no lugar errado. Passei mal, desmaiei.
                       Após o uso contínuo eu queria algum mais pesado. A droga estava perdendo o efeito. Venâncio perdeu o emprego. Lico Boca Torta queria dinheiro. Nada de graça. Minha decadência já tinha hora certa para começar, risos. Já tinha começado há tempos. Roubava tudo que encontrava em casa e não demorou para que minha mãe e meu pai descobrirem. Não entendiam porque fazia isso. Não sabiam que estava usando drogas. Escondia as marcas em meus braços, escondia tudo. Mas minha mãe um dia me viu prostrada na cama, seminua, gemendo pedido uma picada, só uma eu dizia.
                     Ela chorou muito. Falou com meu pai. Foram super compreensivos. Levaram-me até o padre Juventino. Ele me convidou a fazer parte do grupo dos Acólitos Anônimos. Lá eles também discutiam as drogas. Vi que era uma irmandade de homens e mulheres que compartilhavam suas experiências a fim de resolver seus problemas. Participei em três. Venâncio só foi à primeira. Depois ele desapareceu. Sentia uma falta tremenda dele e mais ainda da embriaguês infernal das drogas.
                      Resolvi sair de casa a procura de Venâncio. Foi a partir daí que começou minha decadência. Agora vivia no submundo e a correr atrás das “paradas”. Encontrei Venâncio drogado na Boca do Lixo. Cracolândia melhor dizendo. Precisava da droga, precisava mais que tudo. Venâncio me aconselhou a prostituir. Mas com aquela barriga não seria fácil. Mesmo assim encontrei homens para fazer um “boquete” por cinco, dez até vinte reais. Meu Deus! Que coisa horrível! Mas logo me acostumei.
                      O dinheiro era pouco. Mudei para o crack. Diziam ser uma droga devastadora. Paciência. Eu não tinha mais escolha. Estava chegando ao fundo do poço. Ao limiar da condição humana. Quando não podia usar o crack falava coisas sem sentido. Davam-me tapas na cara. Riam de mim. Vivia cercado por outros drogados. Centenas deles. Ainda bem que eram mais humanos. Risos. Sim procuravam dividir comigo o pouco que tinham. Venâncio um dia ficou desacordado. A polícia chegou e o levou. Eu ainda podia correr.
                     Comecei a passar mal em uma noite de domingo. As primeiras contrações. Um guarda civil me ajudou. Colocou-me em seu veículo e me levou até o pronto socorro das Clínicas. Deixou-me na porta e sumiu. Perguntaram-me meu nome, minha família, mas eu não sabia responder. O crack tomava conta do meu corpo. Entorpecido. Agora não via mais flores, céu azul, pássaros cantando. Agora era como se fosse meu ar que faltava.
                      Meu neném nasceu duas horas depois. Vivo. Risos. Não merecia isso, mas os médicos disseram que ele podia não sobreviver. Dei o telefone da minha mãe. Ela chorou muito quando me viu naquele estado. Meu pai mesmo o durão que era, tinha os olhos cheios de lágrimas. Cinco dias depois me internaram em uma clinica. Na cidade mesmo. Meu corpo doía o tratamento não me fazia bem. Fugi dali quatro dias depois. Com a própria roupa do hospital fui para a Cracolandia. Fumei logo quatro bolinhas. Desmaiei.
                     Eu sabia que a droga matava. Que os traficantes só pensam em dinheiro. Que a droga oferecia a morte. Mas quem acredita nisso estando drogado? Como reagir? Como acabar com essa alienação terrível? Eu era uma inculta, manobrável, consumível, descartável, distante. A porcaria me fazia bem. Nem pensava mais em meu filho. Nem sabia se era um menino ou uma menina. Sentia-me sozinha na escuridão da noite. Tomava na veia, fumava sem parar. Crack, maconha o que me dessem ou podia comprar. Nem tudo agora me satisfazia.
                    Se eu morresse ali, eu não me importaria. Não tinha mais vida, família, não tinha motivos para sair dali. Ou será que tinha? Fiquei amiga e amante de Lico Boca Torta. Ele no meio dos drogados fazia sexo comigo de todas as maneiras. Eles riam. Outros queriam participar. Uma festa e eu ali, uma maldita prostituta drogada só querendo mais e mais drogas. Minhas roupas apodreceram. Nua os guardas me levaram a delegacia. Lá risadas, escárnio. Uma baixaria sem tamanho.
                   Chamaram minha mãe. Saí correndo nua pela rua. Não conseguiram me pegar. Uma senhora se apiedou. Comprou ali mesmo um jeans com uma blusa. Não precisa de calcinha nem sutiã. Voltei para o meu lar. A Cracolândia. Um mês, dois, três. Queria dormir. Nunca mais acordar. Agora queria morrer. Nada do que fizesse tinha sentido. Nenhuma delas fazia mais efeito no meu corpo. Gritava. Sorria, cantava uma demente a vagar pelas esquinas da vida. Uma drogada isso sim.
                    Conheci Raquel. Uma assistente social. Ficamos amigas. Ela não insistia como as outras para sair dali. Ajudava-me. Trazia comida que eu comia e vomitava em seguida. Meu corpo era pele e osso. Pesava cinqüenta e nove quilos. Agora nem trinta. Trouxe roupas. Deu-me um banho na rua mesmo. Com esponjas. Raquel, meu anjo! Caída do céu! Um dia chorei, chorei muito. Deitei em seu colo. Ela me afagou. Nunca perguntou pela minha família. Nunca me forçou a nada. Era minha amiga assim, do nada. Ou será que era meu Anjo da Guarda?
                    Quando ficava mais de seis horas sem droga, meu corpo tremia uma febre alta, a garganta seca, uma lassidão tomava conta do meu ser. Não sei, mas gostava dos venenos mais lentos, drogas poderosas e quando me entupia delas meus pensamentos e minhas idéias ficavam poderosas, insanas um sentimento de liberdade. Risos. Liberdade? A noite era a minha escuridão da vida. Não era noite, era o meu dia. Zumbís a andar pelas esquinas da morte.
                    Um dia quando Raquel chegou. Chorei. Chorava em prantos. Muitos dos miseráveis que eram meus amigos acorreram a me acudir. Acharam que era a Raquel. Ela não dizia nada, só me afagava. Ela é meu anjo, minha alma, minha salvação. Resolvi pedir a ela que me ajudasse. Queria sair daquele inferno. Não tinha escolhas, que ela fizesse o que bem entender. Era seu trabalho. Beijou-me no rosto. Fechei os olhos e sonhei com minha mãe. E minha filha? Será que estava viva?
                    Ela conseguiu uma internação em uma clinica para dependentes químicos, no campo, próximo a uma cidade que não conhecia. Dirigida pelo pastor Jamilton. Ele e sua esposa eram duas almas bondosas. Ali vi que outras moças como eu tinham muitas historias. Eu as ouvia. Parecia que não havia diferença entre eu e elas. Quando cheguei ali achei que não tinha mais dignidade, valor pela vida. O vicio maldito não me abandonava. Daria tudo por uma picada. Uma só. Gritava, implorava, O Pastor Jamilton e dona Clementina ficavam ao meu lado. Dando-me forças.
                  Com uma semana diminuiu um pouco aquela vontade louca de me drogar. Mas estava longe de alcançar o ideal e voltar para minha casa. Só no segundo mês avisaram minha mãe. Tinha encorpado um pouco. Agora com trinta e nove quilos. Diferente de quando eu cheguei com vinte e três. Ela me abraçou. Meu pai também. Ficamos os três abraçados por um longo tempo. Toda semana eles vinham. Raquel também vinha uma vez por semana. Dizia que não podia ficar comigo muito tempo. Muitas outras pessoas precisavam de sua ajuda.
                 Já se passaram cinco meses. Estou com quarenta e oito quilos. Dizem que meu sorriso voltou. Dizem também que me tornei amiga de todos ali. E uma tarde chegou um automóvel. Surpresa! Bela surpresa! Venâncio tinha sido convencido por Raquel a ir para aquela clinica. Nunca aceitou, mas quando soube que estava ali, resolveu experimentar. Eu ficava ao lado dele constantemente. Autorizada pelo Pastor Jamilton.
               Um ano, dois, três e eu e Venâncio nos casamos. Ele trabalha em uma loja de calçados. O proprietário evangélico aceitava a pedido do Pastor Jamilton ajudar as pessoas drogadas. Sabia que a maioria não ficava lá. Recebiam o primeiro pagamento e voltavam de novo para a Cracolandia.  Isto não aconteceu com Venâncio. Quatro anos depois ele era gerente da loja. Mamãe sempre trazia Neusinha para ficar comigo. Minha filha!
               Agora moramos os três juntos. Uma família feliz. Longe das drogas. Espero que seja para sempre. Não digo que nos recuperamos. Longe disso. Mas eu e Venâncio somos um só. Amamos-nos muito. E Neusinha então? Era nossa luz, nossa estrela a indicar o novo caminho. Os novos tempos que já nos deram a alegria de volta e irão sempre trazer a brisa gostosa da manhã, a respirar pela janela da minha casinha e não mais na rua suja do passado.
                Ainda lembro-me dos meus amigos que lá ficaram. Rezo por eles todos os dias. Sei que não é fácil abandonar o vicio. Muitos já terão morrido. Outros irão morrer logo. Sei que Deus na sua suprema bondade irá amparar a todos. Eles sempre terão o direito de voltar aqui de novo. Uma nova vida. Um novo recomeço. Pois assim é a vida. Nascer, viver, morrer. Nascer de novo, pois esta é a lei!

A vida de um drogado


Mais um dia...
Será que vai ser o último?
Acordo com um bófia, a pontapear-me,
Lá vou eu, ver se uns trocos consigo arranjar...
Se não me derem, vou ter mesmo de roubar...
A hora da dose ta a chegar,
Ainda tenho de arranjar dinheiro, para a ir comprar...

Hoje ta tudo de pernas pro ar
Nem uns míseros tostões consegui arranjar,
Não me sinto com forças, para esperar
Vou ter mesmo, de roubar...

Tenho o interior do meu corpo em desespero,
Aqueles bichos de baixo da pele põem-me louco,
Estou todo arranhado, esta cena dói, e não é pouco

Mais uma vez roubei
Foi muito fácil, aqui nunca pensei
A bolsa da "velha", tava recheada
Já vai dar para uma dose, bem abonada

Já ta ali o gajo, á mesma hora de sempre,
É agora menino riquinho, á conta da gente,
Enfim, andam a ganhar dinheiro desta forma indecente...

Já tenho tudo o que preciso, a colher, a prata e o limão...
E esta grande dose, toda na minha mão...

Ah! Que sensação, depois de injetar parece que sou o dono do mundo...
E sem ela, não passo de um drogado vagabundo...

Vem um homem na minha direção,
O quer ele, de mim? Que não passo de um ladrão,

Era o filho da Cota, que gamei,
Deu me tantas, que nem me levantei...
Agora estou aqui, dolorido por dentro e por fora,
E fico aqui á espera que chegue a minha hora...
Cathia Chumbo.

sábado, 8 de novembro de 2014

Uma historia de amor perdida no tempo


Uma historia de amor perdida no tempo

"Há homens que têm patroa.
Há homens que têm mulher.
E há mulheres que escolhem o que querem ser."

Os ventos que às vezes tiram
algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que
aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar
pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi
dado. Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai
para sempre...


Um conto baseado em uma historia impossível 

       
               Leonora, trinta e quatro anos, morena jambo, cabelos castanhos curtos, lábios carnudos, corpo bem feito, muito bonita. Quando passava próximo a minha casa, eu a via no seu porte altivo. Um olhar arrogante olhando sempre em frente. Quem a via não sabia o que se passava em sua mente. Ela planejava, era uma maquina trabalhando sem cessar. Buscava uma solução, um milagre. Sua vida pelo avesso. Dificuldades, sentimentos doidos, casamento fracassado, amigos distantes, credores ligando, ameaçando. Sua vida cada dia piorava. Só mesmo uma surpresa amiga que nunca esperou.

        Nunca teve vida fácil. Nasceu de um parto difícil, lá pelas bandas do norte estado sofrido,  cidade pequena, onde seu pai era já falecido nunca teve nada. Lutara com dificuldade desde pequena. Sua mãe a protegia muito. Seu pai não. Era severo, cara amarrada, fazia tudo que ela não queria. Não a deixava sair de dentro de casa, não tinha amigos e só foi para o colégio com oito anos. Mesmo assim a vigiava entrar e sair. Ele mesmo fazia questão disso todos os dias.

       Cresceu, virou mulher, sonhando em sair de casa, ter a sua, seu homem, mas esse dia não chegava. Terminou a oitava série. Era bonita, muito. Todos os homens corriam para ela. Ela criteriosa escolhia. Seu pai morreu numa tarde de setembro. Dia frio. Ela não chorou. Poucos compareceram ao seu féretro. Um ano depois, sua mãe amasiou com outro. Era um casal feliz. Ela passou a amar o padastro. Suas irmãs a adoravam. Eram grandes amigas.

      Por um capricho do destino, mudou de cidade. Sua mãe a expulsou. Por causa de nada. Não confiava nela. São pequenos pedaços de historia mal contada. Conheceu um homem. Rude, não sabia se gostava ou não dele. Bruto, sem cultura, mas seu coração batia por ele. Mas naquele momento era sua bóia naquele mar revolto. A primeira decepção. Sua mãe vivia dizendo do valor da virgindade. Colocou-a sem mais nem menos para fora de casa porque duvidou dela. Como se ela fosse uma mulher qualquer. Sabia de sexo o que tinha lido. Ele lhe fez um convite. Ela curiosa aceitou.

     Levou-a a um motel de terceira. Feio, fedido. Ela não se sentiu bem. Aquilo não era o que esperava. Entraram. Um quarto sem janelas. Cheiro ruim marcas na cama no chão na mesinha. Ele colocou em um filme pornô. Ela olhou. Primeira vez, quem sabe aprenderia. Ele ficou nu na cama. Ela olhou e assustou, ele nu na cama, medo, horror. Nunca tinha visto. O que fazer?

Deitou com ele. Só com roupa de baixo. Ele a forçou. Ela o empurrou. Não era aquilo que pensava como seria a primeira vez. Levantaram e se foram sem fazer sexo. A semana não foi boa. Sua mente sempre voltava aquele motel. Ficou noiva dele. Será que iria dar certo? Ela sonhava com isso. No fundo achava que gostava dele. Não aquele amor que lia nos romances nas novelas.

    Casaram-se. Houve sexo. No inicio nada bom. Depois ela sentiu que ele não tinha experiência. Ele a possuía com força. Não era e nunca foi carinhoso. Satisfeito virava e ia dormir. Se ela sentia ou não, ele não importava. O tempo foi passando, o primeiro filho, o segundo e ela pensava se teria futuro.

      Sua família fora do casamento não era muito unida. Se se preocupavam com ela, não sabia. Uma bela tarde soube que sua mãe tinha morrido. Suas irmãs casaram-se e não soube mais delas. Ela verteu lágrimas, gostava muito da mãe e de suas irmãs. Criou os filhos com dificuldades. Uma lutadora. O tempo passou, doze anos para ser exato. Largou o emprego fixo para uma aventura. Iria tentar nunca desistiu. Comprou um pequeno negócio.

        Com dificuldade, não tinha capital, mas arregaçou as mangas e foi em frente. Seu casamento estava no fim. Queria mudar de vida, viver com e para seus filhos. Sem ele. Mas eram doze anos de casada. Uma vida. Seus filhos não entendiam o porquê das brigas, das discussões, da sua tristeza.

        A cada dia mais seu casamento piorava. Ela era jovem, bonita, glamorosa, simpática, chamava atenção quando seu olhar firme de olhos amendoados sorriam para alguém. Atraia atenção. Muitos homens a queriam. Clientes que iam beber alguma coisa a olhavam com volúpia nos olhos. Ela via em algumas ocasiões um ou outro que poderiam lhe chamar a atenção. Olhe, não fiquei sabendo se ela teve ou não um caso. Nunca me falou sobre isso. Hoje, aqui em minha casa, eu e ela sentados nesta varanda em frente à praia das Palmeiras, conversamos sempre. Mas ela não diz nada.

       Seu marido era um homem sem cultura. Tentava de todas as maneiras ajudar, mas brigavam muito. A princípio até que foram felizes. Ela chegou até a gostar dele. Ele era perverso. Exigia muito dela. Um ciúme doentio. Agora faziam sexo por fazer. Ela não tinha mais nenhum interesse por ele. Quando ela me contava isso, eu não sei. Acreditava, pois sempre a achei sincera.

        Não sei por que estou contando isso. Ela é uma grande amiga. Gostamos muito um do outro como pai e filha. Visita-me sempre. Vem sempre a minha casa. Nunca tivemos relacionamento. Sou viúvo, moro de frente para o mar. Coisa que adoro. Gosto de ficar aqui, olhando as ondas jogando na praia, o vento soprando. Aqui eu costumo ficar até altas horas. Varias vezes dormi pensando em Maria. Sei que isso não vai trazer ela de volta. Mas minhas lembranças são minhas. Minha cadeira de balanço de palhinha que vive comigo a mais de 40 anos é minha companheira de nostalgia.

       Leonora estava em grandes dificuldades. Não tão grandes assim, ela uma mulher lutadora iria vencer. Mas sentia falta de um companheiro que lutasse ao lado dela. Contou-me que tentou muito. Mas o dialogo tinha chegado ao fim. O sexo ela sentia como obrigatório. Não gostava mais. Não acreditei muito nisso. Acho, no entanto que ela era honesta comigo. Agora só fazia quando ele insistia. Durante o dia, vinha para almoçar, e sempre lá estava ele, flertando com uma vizinha. Não tinha ciúmes acreditava que não era certo. Falou com ela um dia, foi franca, gosta dele? Pode levar! Achei graça.

        Era uma luta. Uma grande luta. Cuidar, criar e sustentar três filhos não era fácil. Levantava cedo, abria sua loja, voltava para fazer as refeições, cuidar da casa, a tarde voltava de novo. Clientes, crianças gritando, correndo dentro do seu estabelecimento a enervava. Gostava de ficar ali, na telinha, no computador ou no seu celular moderno, vendo e ouvindo tudo que encontrava na internet. Tinha amigos, recebia email, sorria, piscava seu olhos castanhos, mastigava uma bala, trabalhava. Assim era Leonora. Uma mulher de verdade.

        Ontem veio me contar, uma historia fantástica. Rocambolesca mesmo. Não sei se acreditei. Era inverossímil. Impossível mesmo. Mas partindo dela, porque não? – Olhe, ela me dizia, apaixonei por um homem, que nunca vi, nunca senti seu calor, seu aperto de mão, sua respiração. Eu vejo sua foto, algumas muitas antigas, quase não mostra o que é hoje. No entanto ele é para mim real. É Leonora, sua fantasia de mulher que sonha em conhecer algum dia seu príncipe encantado, desta vez passou dos limites.

        Ele é atencioso, educado, parece simpático. – continuou. Sei que tem mais de setenta anos, mas me parece ter uma saúde de ferro. Diz-me coisas lindas. Respeita-me, diz que gosta de mim. - Eu fiquei em dúvida. Acho que Leonora está indo para um caminho sem volta. Isso não existe. Não se pode amar uma fantasia, um fantasma, mesmo que ele seja de carne e osso, mas cuja pele você nunca sentiu e que nunca viu. Ela ria. Aquele sorrindo lindo, ardente. Olhe, vou lhe contar uma coisa, se fosse mais novo, pediria ela em casamento. Acho que ela apesar de pura nos pensamentos para comigo, devia ser ardente, fogosa, uma mulher que todo homem sonha.

       Leonora voltou mais algumas vezes em minha casa. Sentávamos sempre a varanda, olhando o mar, as ondas, o som do vento balançando as árvores. Sempre me contava do seu homem. Do seu amor por ele. Ficava abismado com sua maneira de dizer, de contar. Ela sorria sorriso de menina apaixonada. Ainda persistia Leonora? Dizia eu. Ela sorria de novo, com aquele seu jeito espalhafatoso de dizer – Claro amo ele, gosto dele não sei viver sem ele. Olhe passo os dias pensando só nele, é o sol da minha vida. O meu acordar das manhãs.

       Pensei comigo, pobre Leonora. Apaixonou-se por uma tela de computador. Alguém que não existe. Será que isso vale à pena? Um Engodo. Uma enganação. Achei que alguém a estava tapeando. Mas a mulher, principalmente Leonora, acreditava que aquela ilusão era real. Sonhava com ela. Comprou um celular e quando não estava na sua loja, ligava para ele de qualquer lugar. Gastava, gastava sem poder. Incrível um amor assim. Em meu pensamento não podia idealizar o que não existe.

     Leonora era simples. Claro uma mulher forte. Agora, aproximando da maturidade dos 34 anos, ela se portava como uma pantera, ágil, forte, mostrando que não era para qualquer macho do seu bando. Não sei se ainda interessa por sexo. Ela não me contou. De seu marido ela não esperava mais nada. Mas mesmo com muitas cantadas de outros, não aceitou nenhuma. Olhe, não sei se é verdade. Leonora era fogosa demais, se mostrava sempre como uma gata no cio. No seu subconsciente contava uma coisa, mas eu mesmo pensava que haviam outras.

       Ria desbragadamente, quando as tardes, ficava comigo na varanda, esperando o por do sol que se estendia no vasto azul do mar. Era um espetáculo novo para mim todos os dias. Vivia ali a mais de 15 anos. Diziam que morar ali era solidão de quem perdeu o bem amado. Não sei. Nunca esqueci Maria, minha esposa que morreu de câncer. Eu a amava mais que tudo. Nenhuma mulher a substituiu e nem iria substituir. Ali todas as tardes eu a via, saindo do mar, no seu vestido rosa, aquele que usava quando a conheci. Eu tinha poucos amigos. Leonora era a mais próxima. Gostava muito dela. Sempre a respeitei. Nutria um sentimento de pai para filha.

Lembro-me bem quando entrei em sua loja, e me deparei com ela. Lembrava quando passava em frente a minha morada. Por um motivo que não lembro bem, precisava fazer uma consulta de um pequeno gerador que queria comprar para minha casa. Faltava sempre luz e apesar de gostar do escuro e da solidão, achava que precisava ter um. Entrei e me deparei com aquela linda mulher. Adorei suas maneiras. Tratou-me como se fosse uma amiga de longa data. Conversamos banalidades, fiz o que pretendia e me fui. Lembrava-me sempre dela.

      Um dia, passando perto voltei lá. Conheci seus dois filhos. Os convidei para um domingo almoçar comigo. Foram. Nasceu uma grande amizade. Hoje, passado alguns anos ela sempre me procura. Não me considera um conselheiro, pois não vai à busca de conselhos. Mulher determinada nunca pede isso. Ela eu acho gosta de mim por ser bom ouvinte. A sua maneira é sincera. Conta tudo, até os detalhes mais sórdidos. Fiquei perplexo com certos detalhes que me contou. Mas era assim Leonora. Uma mulher de verdade.

Grande Leonora. Uma grande mulher. Ficou dias e dias amando sua ilusão. Uma quimera. Desmaio de segunda em seus braços. Flor que não desabrochou na primavera. Em seu devaneio via seu amor em todo o lugar. Dizia que o sentia que sabia como era seu toque. Sonhava com ele em todos os lugares por onde andava. Eu não ria, não podia, não era assim que a tratava. Gostava dela, me sentia feliz, extremamente afortunado para não dizer bem-aventurado por ter sua amizade.

       Alguns meses depois, ela chegou. Com os olhos vermelhos. Chorou ali, copiosamente naquela tarde de maio, inverno rigoroso. Disse que seu sonho acabou. Nada mais existia. Tentei saber o porquê, mas ela não disse. Seus olhos negros grandes como jabuticabas colhidas nas grandes matas escondidas nas extensas florestas verdes do amazonas, deixava escorrer lágrimas. Não pude dizer nada. Nada havia a dizer. Dizem que chorar faz bem. Eu quando perdi minha mulher não consegui chorar. Quem chorou e chora até hoje, é meu coração. Ficamos ali, ouvindo o anoitecer coberto pelas estrelas no céu. Uma brisa correu em seus cabelos, e ela sentiu um calafrio. Leonora estava silenciosa. Nada dizia. Olhava para o céu e mais lagrimas corriam no seu lindo rosto.

       Foi embora. Ao levantar, me olhou, e chorando disse. - Ele se foi. Meu único e grande amor se foi. Desejei morrer quando soube. Ele dizia que me amava, não sei. Acho que amava todas as mulheres. Disseram-me que morreu sorrindo. Foi melhor. Acho que foi o destino que quis assim. Deus não foi bom comigo. Desejei tantas coisas na vida, o único homem que amei, queria tocá-lo, sentir o calor do seu rosto, sentir o seu sorriso, ouvi sua voz umas poucas vezes e não pude vê-lo. Perdi o único homem que amava. O queria muito. Sempre pensei que um dia teria ele comigo em carne e osso. Ele sempre dizia não. Sei que sou infeliz. Perdi alguém que não podia perder. Que esteve ao meu lado longe de mim. Gostava dele, falar com ele. Agora só tenho meus filhos que muito amo. Ajudam-me a viver.

       Pobre Leonora. Também chorei por ela. Uma pequena lágrima escorreu pelo meu rosto. Gostava dela, minha única filha que nunca tive. O que ela sentia eu também sentia. Mas o amanhã nunca morre tudo tem seu tempo e sua hora. Sei que iria esquecer. A alegria de Leonora se foi. O tempo quem sabe vai fazê-la recuperar. Ao seu modo foi feliz por um mês ou dois não sei. Amou alguém que era uma ilusão. Manteve na mente um amor impossível.

      Nunca me contou quem era de onde era. Isto ela guardou para sempre. Hoje, perambula entre sua casa, seus afazeres, sua loja. Não sei se separou do marido, não sei. Só me disseram que fica horas e horas de frente para o computador, muitas vezes desligado, ou então ouvindo musicas que achei que antes não gostava. Quando estive lá, ela estava ouvindo “A montanha azul dos grandes amantes”, eu conhecia. Era uma paródia romântica de Stavivinsky. Ou melhor, Igor Fiodorovitch Starvinsky, um grande compositor russo. Ou então ouvia Somewhere in time (Em Algum Lugar do Passado) e chorava copiosamente.

       A vida é assim, feita de sonhos de pedaços de historias que não existem, mas que resistem ao sabor do tempo, na memória daqueles que puderam um dia vive um grande amor. Grande Leonora. Espero que seja feliz. Muito feliz. Ela merece e muito. Faz tempo que não a vejo. A última vez que esteve aqui, quase não falou. Pediu para colocar Have I told You Lolely, com floid Cramers, um grande pianista que tocava divinamente musicas românticas. Eu tinha o CD, Ela ficou horas e horas olhando para o mar. Ouvindo a melodia e chorava baixinho.

        Naquele dia, não ouve por do sol, os pássaros noturnos não gorjeavam. Uma chuva fina caia sobre o mar. Um véu cinzento cobria a encosta da montanha ao longe. E ela, Leonora, chorava copiosamente. Descanse minha filha. Linda e Bela Leonora. Também fiquei ali. Mudo. Sem nada dizer. Só as recordações dela e minha faziam do silencio uma memória viva da realidade!

Quero Amar-te

Quero amar-te como ninguém te amou;
Em toda a parte quero ter-te sem fim;
Como se fosses tu uma parte de mim;
Amar-te até desconhecer quem sou;

Quero encontrar-te se ninguém te encontrou;
Passear contigo entre as flores do jardim;
Colher as mais perfumadas que o jasmim;
Para que por ti saibas quem se apaixonou.

Quando te imagino sabes o que eu vejo:
Alguém que encheria todo o meu ego;
Por isso encontrar-te é o que eu almejo.

E se não podes amar-me por medo
Aqui te deixo um secreto desejo:
Seremos amantes em grande segredo!

Ass: amante virtual