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sábado, 28 de dezembro de 2013

Borboletas também querem voar!




Não fuja deste desejo, te quero por inteiro
Sem pensar num amanhã
Quero viver o agora, quero delirar de prazer
Realizar todas suas fantasias
Ser possuída e dominada
Por você…

Borboletas também querem voar!

                Esta historia aconteceu na Itália na cidade de Milão, acho que foi em meados de janeiro de 1965. Não sei onde li ou se foi eu quem escreveu. Risos. Não sei se é verdadeira, se é real, não sei mesmo. Minha mente se confunde. Ela era jovem, cabelos compridos castanhos avermelhados, olhos castanhos, linda. Lábios carnudos, pedindo beijos. Tinha sonhos, como todas de sua idade. Escondidos claro, ninguém sabia. Gostava de sorrir, de sentir o mundo, fantasiava sair por aí, conhecer outros lugares, viver, sonhos que toda jovem tem.

               Todas as manhãs lá estava na janela. Observava as pessoas passando, uns vindo, outros indo caminhando com olhos baixos parecendo não ter destino certo. Sempre reparara nele. Um jovem de aparência meiga, olhos negros, andava de cabeça curvada como se soubesse seu destino. Parecia firme nos seus passos.

               Ela sentiu desejos pelo jovem. Desejo só seu. Ninguém podia saber. Católica fervorosa escondia de si e de seu Deus. Tinha medo. Rezava. Pedia perdão. Mas dentro de si, fervia estas fantasias pecaminosas. Ele sempre a via, de soslaio, sem encarar. Tinha medo, Nunca teve uma garota, nunca beijou. Mas sentia por ela um desejo profundo. Amor? Paixão? Não sabia.

              Chegava a casa, sentava em seu banquinho e ficava com a mente em devaneio, procurando concatenar um presente sólido para ela e para ele. Morava só. Seus pais haviam falecido. Era carpinteiro. Aprendera com o pai. Tinha medo de se aproximar. Tinha medo de ser repelido. As fantasias dele ficavam escondidas no recôndito de sua memória, feito monstros poderosos, que não deixavam ver a beleza de um amor profundo.

             Planejou, mentalizou um plano sórdido. Era um maldito. Achava ter nascido para o mal. Não era religioso, diziam que ele era frio, calculista, não tinha amor, não tinha passado. Ela sempre ia só à igreja à noite. Ele a espreita já sabia seu destino, onde passava e em um beco, subjugou-a colocando um lenço embebido em éter em seu rosto, ela desmaiando em seguida.

            Tinha alugado uma casa, na periferia afastada de tudo e de todos. Levou-a até lá. Até o porão, fechado, sem janelas, só com uma porta. Tinha preparado tudo. Iluminação, cama, água, roupas, alimentos. Deixou-a na cama, fechou a porta e se foi. Voltou dois dias depois. Abriu a porta, ela desesperada, gritando, explodindo e dizendo, maldito, filho da puta, desgraçado o que fez comigo? Ela o arranhava, o mordia, tentava fugir. Ele mais forte, a dominava. Nada dizia, permanecia calado.

            Uma semana, duas, ele sempre levava duas vezes por semana, sua alimentação e roupa de cama limpa. Sentava num banquinho de madeira e ficava olhando para ela, sempre de cabeça baixa, admirando, sonhando, mas sem nada fazer.

            Ela não parava de gritar. Palavrões que nunca tinha dito. Maldito! Perverso, desgraçado filho do Demônio do Príncipe das Trevas, O que queres de mim? – Queres me possuir? Possua filho da mãe mas me solte pelo amor de Deus! Ele nada dizia. Permanecia calado e ia embora. Ela se desesperava. Quem era? Seu nome? Sua voz? Meu Deus!

           Um mês, dois meses. A rotina de sempre. Agora ela ficava sentava na cama, olhando para ele com os olhos vermelhos, inchados de tanto chorar. Calada também. Viu que gritar e xingar não adiantava nada. Tentou todas as formas de fuga. Bateu com o banquinho em sua cabeça quando entrou. A casa de grade não deu para fugir. Ele não reagiu. De novo em seu banquinho, sem falar, sem tentar nada, ficava ali sentado de cabeça baixa.

          Seis meses, ele sabia das buscas, das investigações na cidade. Desistiram. Acharam que ela tinha fugido da cidade com outro. Nada descobriram. Um ano. Ela calada, ele calado. Ela nunca entendeu. Quem era ele? Um Louco? Um psicopata? Que era isso meu Deus? Como um homem podia agir assim? Nunca pensou que este era seu destino. Quem era ele? Como seria ele? O que fazia, o porquê de tudo aquilo? Sem respostas. Ele sempre calado.

         Quase dois anos. Começou a se apaixonar por ele. Calada, nada dizia. Mas as fantasias voltaram. Uma vontade louca de fazer amor com ele. Um dia ficou em sua frente, tirou suas roupas e o possuiu ali mesmo com ele sentado no banquinho, sem dizer nada, sentiu seu membro duro dentro dela. Latejante. Fechou os olhos. Sentava e levantava. Que prazer meu Deus! Ele aceitou que ela conduzisse. Não falou nada. Nunca havia sentido prazer assim em sua vida. Ele não gemeu uma única vez.

          Foi embora. Ela sabia. Ele nunca mais iria deixá-la sair. Uma ou duas vezes chegava, sentava no banquinho, ela o possuía, tirava suas roupas ali ou na cama. Acariciava o seu membro, colocava na boca, tentou fazer o mesmo para ele imitar. Nada. Sempre calado, viu que sentia tudo, gemia rouco, ela fazendo amor bruto e animal com ele, de todo jeito, ele nada dizia, pois era ela quem comandava tudo.

         Cinco anos. Ela estava perdidamente apaixonada por ele. Desgraçado. Mudou sua vida. Donzela virgem e agora amante do homem que  a sequestrara. Seus desejos de fugir acabou. Não tinha mais sonhos. Esquecera sua família. Esquecera-se de tudo. Aceitava ser uma prisioneira. Sua vida era aquela. Ela sabia. Conformava. Contava os dias que ele iria aparecer. Era sua única forma de combater a solidão.

        Quinze anos. Seus cabelos começaram a embranquecer. A rotina de sempre. Ele chegava, ela olhava para ele com olhos de gazela faminta. Esquecia tudo. Fazia amor com ele. Gritante, calmo, sensual. Gostava do seu sexo, adorava ele duro dentro dela. Esquecia-se de tudo quando sentia o jorro quente dentro de sí.  Ele sempre ali, olhando para ela, nada dizia. Agora ele gozava, vestia as roupas e ia embora. Ela não sabia seu nome e nem conhecia sua voz.

       Trinta anos prisioneira. Uma tosse rouca, seu corpo definhando, ele lhe dando remédios, uma semana, duas e ela se foi.

Ele se dirigiu a um bosque de azinheiro, procurou a árvore mais alta e se enforcou.

       Alguns meses depois o encontraram pendurado, com o corpo perfeito sem nenhum sinal cadavérico.

       Descobriram a casa. No porão a encontraram. Bonita, deitada na cama rosto angelical, vestida de noiva, cabelos soltos. Nada parecia que ela estivesse morta. Sorria, como se alguém estivesse com ela.

       Comentaram muito do acontecido, mas ninguém, ninguém mesmo até hoje foi capaz de explicar o que aconteceu.

       Milão, outubro 1998. Uma nota no jornal Corriere Della Sera falava pouco do acontecido. Quase não dizia nada. Alguém se interessou pelo fato. Ele conhecia uma moça, linda, sempre a via quando passava. Quem sabe?...

Me chama, me conta, me diz
Como vai sua vida
Mas diz a verdade com jeito,
Para não machucar
Engana que sente saudades
Que ainda não me esqueceu
Que seu amor ainda sou eu...

Confessa que eu tinha razão
E você estava errada, disfarça
E não diz que esse outro
Te faz feliz, me engana
Me esconde a verdade
Sonhar é melhor que sofrer,

Mente para mim, me ajuda a viver!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O trem expresso noturno para Vitória.




Poema Quem é Ela?

-Você sabe quem é ela...
Que de todas é a mais bela?

Umas dicas vou lhe dar:
Ela é meiga e feminina.
É morena e é linda!
Alegre, carismática também!

Sorridente e gentil.
Bondosa, muito charmosa!
Educada, estudiosa,
É amiga e companheira,

Faceira,
Brejeira,
- Será arteira?

Hoje é seu aniversário!
A Deus venho pedir
Para que seja muito feliz!

Que ame muito a seus pais
Seus amigos e família.
Que da vida sempre tenha
Muitas, muitas alegrias!

Você já sabe quem é ela?
Ela é a bela...
- Sarah Janaína Leibovitch.

O trem expresso noturno para Vitória.

               Não era um ato, não estava em um palco e nem tinha alguém a me olhar pela coxia. A plateia vazia, bem lá no fundo um ar de mistério uma voz rouca me incentivava a continuar. Não tinha piedade e nem eu a pedi. Mas insistia em chamar-me de frívolo, inocente, pateta tacanho e tolo. Como podia representar assim? Claro se eu fosse ator o que não sou. A voz misteriosa dizia coisas que nunca fui. Sim eu sei, deixei-a ir sem um gesto ou dizer – Não vá! Mas poderia interromper sua partida? A dor doida me machucava internamente. Deixei tudo para trás deixei minha vida meus amigos, não disse nada aos meus patrões se um dia ia voltar. Para dizer a verdade nem disse adeus. Fiz o mesmo que ela me fez naquela tarde de primavera. Um dia lindo, as flores no parque, as borboletas azuis, alguns pássaros cantantes e o lago aonde dezenas de pequenos barquinhos iam e vinham com a meninada vibrando, ou mesmo um casal apaixonado beijando-se ternamente. – Não posso mais ficar. Eu não amo você. Preciso partir e nem outro tenho – ela me dizia. – Não quero magoar você, mas entre nós não existe mais nada. – Ela me devolveu a aliança de noivado, nem um beijo na face ela me deu. Seguiu beirando o lago por entre as árvores centenárias e desapareceu na curva do caminho.

              Era um domingo qualquer de setembro. O dia para mim não importava mais. Sentado no banco de madeira não me levantei. Não fui atrás dela, mas deveria ter ido. Sonhava dia e noite quando iriamos adentrar na igreja de Santo Antonio, colocar em seu dedo o anel para selar uma vida para sempre, tinha comprado com enormes dificuldades um pequeno apartamento no Padre Eustáquio, gastei o que não podia para comprar os móveis que ela escolheu e agora não me explica, não diz o porquê, só fala monossílabos dizendo que não me ama mais vai embora sem mais nem menos? Sempre fui calmo. Detesto brigar gritar então nunca mais e acabou? Mas me deu sim uma vontade enorme de gritar – Volte! Você me deve uma explicação. Não se termina assim o sonho de vida a dois como você está fazendo! Mas calado estava calado fiquei. Eram dez horas da noite e um guarda me disse que iriam fechar o parque. Saí sem rumo e me deu uma vontade de me embebedar. Seria certo? Não dizem que os corações partidos se curam com um pileque? Não sei, nunca fiz isto. Melhor é voltar para meu lar.

             O apartamento de dois quartos sala e cozinha estava nu. Esperava que ela desse o brilho que faltava, mas ela se foi e com ela meu coração. Mas eu estava tão apaixonado assim? Quem sabe foi porque sonhei com tudo aquilo? Sempre quis ter um lar diferente do que eu tive um dia. Minha mãe e meu pai não se entendiam até que ele se foi também sem dizer adeus. Minha mãe chorava pelos cantos da casa e tanto chorou que um dia foi para o céu. Resolvi partir e dar um novo rumo em minha vida. Estudei muito quase não tive amigos e um emprego me deu a tranquilidade que esperava. Empresa boa, pessoas educadas e nunca reclamei. Quando a vi pela primeira vez adentrando na sala do escritório meu coração bateu forte. Todos se assanharam para ela. Mas eu fui o escolhido. Namoro, beijos, carinhos e juras de amor. Agora aguardar o casamento. A história termina aqui. Não minha sina de idiota a chorar pelos cantos e até pensei em terminar minha vida abruptamente.

            Fiz uma mala com roupas e parti sem rumo. Retirei umas economias se fosse gastar. Não sabia aonde ir. Não avisei ninguém e nem tinha ninguém para avisar. Naquela noite cheguei sem perceber na Praça da Estação. Sentei em um banco e olhei a Gare. Enorme. Nunca tinha entrado. Entrei, no guichê parei. – O senhor vai até onde? Olhei para ela – Até o final. – Vitória? Se for o final sim. Primeira ou segunda classe? Primeira. – O trem parte em vinte minutos. Fui para a plataforma. Parecia um autômato no andar e pensar. Esquecia-me de tudo. Queria fugir e não sabia para onde. Deveria ligar para alguém do meu trabalho e dizer que estava partindo e não liguei. O primeiro apito o aviso de embarcar. Embarquei. Procurei meu número e sentei. Vagão vazio. O trem partiu rumo a João Monlevade. Muitas paradas. Não era um trem expresso? Tudo bem, não tinha pressa. Resolvi ir até o vagão restaurante. Duas da manhã um café quente iria me fazer bem.

               Vazio. Só uma moça olhando sua bebida na mesa ao lado e nem sequer levantou os olhos quando cheguei. Tudo bem não esperava boa vizinhança de ninguém. Pedi meu café. Senti que alguém me observava. Era ela. Linda, olhos incrivelmente verdes. Pareciam duas esmeraldas lapidadas. Ela abaixou a cabeça e saiu. Atrás dela dois homens de terno. Quem seria? Ouvi um grito. Assustei. Seria ela? Não sou um cavaleiro andante mesmo assim me levantei e fui até o vagão da frente. Era um vagão com diversas cabines. Ela gritou de novo. Bati na porta mandando abrir. Um dos homens de terno abriu com uma Pistola Glock calibre novemm. Sabia que era uma arma reservada as forças armadas e a policia federal. Ele me bateu na testa com a lateral da arma. Vi que sangrou. Obrigou-me a ir em frente e no final do vagão abriu a porta e jogou-me escada abaixo. Cai rolando sobre um monte de capim. Ainda bem que o trem estava em baixa velocidade, pois aproximava de uma estação.

               Estava fervendo de raiva. Nunca gostei de ser tocado daquele jeito. Corri estrada a fora e o trem já estava saindo. Na porta da estação um taxi. A cidade era um lugarejo pequeno que chamavam de Periquito. O taxista me disse que poderia pegar o trem em Coronel Fabriciano. Quanto? Trezentos reais. Paguei. Ele saiu a toda. Vinte e cinco minutos e chegamos em Fabriciano. Vi o trem na curva do rio. Na estação esperei e quando chegou subi. Era esquentado e sabia que não iria ficar assim. Fui ao carro dormitório. A porta onde ouvi os gritos estava fechada. Fiquei de lado e bati. O mesmo “merda” apareceu com a arma na mão. Quando me viu era tarde demais. Tomei dele a arma. Empurrei para dentro da cabine. Ninguém lá – Onde está a moça? Ele riu. - Cara não sabe com quem está se metendo. Ele falou. Senti que alguém me bateu de novo com outra arma. Era o seu comparsa. Arrastaram-me até a escada e de novo me jogaram porta a fora. Desta vez cai de mau jeito e me machuquei bastante, mas nada quebrado.

             Se eles estavam gostando do jogo eu também estava. Não tinha nada a perder, morava só, quem eu amava me deu um chute e se foi. Nunca fui um herói porque não ser um agora? Precisava de uma arma. Eles iam ver com quantos paus se faz uma canoa. Vi uma estrada, uma camionete vindo. Corri e dei sinal sorte ela parou. Ofereci mil reais para me levar até a próxima cidade desde que pegasse o trem expresso para vitória. Ele riu e se prontificou. Contei por alto o que acontecia. - Tem uma arma? Tudo por três mil reais. Feito. O trem parava doze minutos em Governador Valadares. Chegamos com ele saindo. Deu tempo para correr na plataforma e pular em um vagão. Sentia bem com aquele aço preso no peito. Estava carregada, uma pequena Smith & Wesson, mas eu conhecia. Treinei muito com arma de fogo. O barulho me fazia bem.

               Fui direto ao vagão restaurante. Passava das duas da tarde. A fome apertou. Se ia entrar na briga tinha de encher a barriga. Risos. Ela estava lá. Sozinha. Com um lindo vestido verde claro que com seus olhos ficavam muito bem. Linda! Adorável. Aproximei-me e ela escreveu em um guardanapo – Fique longe de mim se queres viver! Não sabe o perigo que está correndo. – Fingi que não li. Não me meteu medo. Sentei ao seu lado. Logo um dos engravatados apareceu. Mostrei a ele o que tinha desabotoando a blusa de frio. Ele olhou e riu. – Você está morto e não sabe. O restaurante do trem só tinha dois passageiros. Levantei-me. Tirei a arma e bati forte em sua cabeça. O empurrei até a porta de saída. Dei nele um chute no traseiro e ele rolou escada abaixo. Não teve sorte. Passávamos por um pontilhão. Seu grito de horror ficou gravado. Quando voltei ela não estava lá mais. Tudo bem. Se entrei na chuva era para me molhar.

              Fui a sua cabine. Não ia correr nem me amedrontar. Ela estava aberta. Olhos verdes estava lá, deitada na cama seminua. Senti uma vontade enorme de possuí-la. Tranquei a porta. Ela de olhos fechados. Minha ex-noiva sempre dizia que eu era um bom amante. Vamos ver se sou, pois sou homem de poucas mulheres. Fiz amor devagar, sem pressa, beijando-a, acariciando e penetrando aos poucos sem forçar. Senti que ela me apertava, passou as pernas em volta do meu corpo, uma verdadeira chave da morte. Ela gemia, gania, chorava e pedia mais. Não me senti morto e sim mais e mais com uma vontade enorme de repetir, de ficar ali sem sair, de esquecer que o mundo é mundo e a vida é feita para ser vivida. Terminamos juntos. Ela chorava. – Você vai morrer! Porque insistiu? Quem é você? Policial? – Ri do que ela dizia. Melhor não contar que era um simples gerente de uma empresa de cosméticos. Ela ia rir de mim se contasse.

            Fiquei com ela até onze da noite. Repeti o sonho real por várias vezes. Ela sabia posições que me deixaram louco. O Kama Sutra com suas posições e fotos perdiam a larga pelo que ela me fazia. Convidei-a para jantar. Ela riu. Nem pensar.  Yuri ainda está no trem. O que você fez com Mikhail? Nomes estranhos. Pareciam russos. Não disse nada. Peguei-a pelo braço e disse – Vista-se vamos jantar. Estava rindo de mim mesmo. De gangster eu só sabia o que tinha visto nos filmes. Mas não tinha medo. Ainda estávamos no restaurante quando o trem rápido noturno adentrou na gare da Estação de Pedro Nolasco em Vitória. Ela abaixou a cabeça me beijou e disse – Corra o mais que puder, sei que Pavlov está a me esperar. Já deve saber de você. - Sabe eu gostei de você. Mas sei que é um homem morto. Não corri, nunca fui homem de correr. Ela me fez um homem que nunca fui. Perguntei seu nome – Latasha gritou e saiu correndo descendo as escadas do trem.

               Máfia russa? Li uma vez um conto sobre isto. Não deu tempo para pensar mais. Uma pancada na cabeça e acordei em um galpão vazio. Um gordo barrigudo me olhou – Teve a coragem de comer minha Latascha seu merda? Cortem o pinto dele. Uma dor tremenda. Gritei feito um porco sendo capado, já não era o valente de antes. Ele ria. Filho da puta, agora vais direto ao inferno. Peça a Dona Capeta para dar para você nas profundezas dos infernos! Só então que notei que estava com os pés atolados em um cimento já curado. Pegaram-me pelos braços e me jogaram em uma caminhonete. Pararam nas cinco pontes sobre o braço de mar. Jogaram-me a mais de trinta metros de altura. Cai feito um pedaço de aço na água e afundei logo. Deus meu! O que fui fazer? Á agua entrava pelas narinas. Senti as pernas soltas, o pedaço de cimento partiu. Caramba, que sorte! Nadei até a margem. Dois moleques pescavam e se assustaram. Fui parar em um pronto socorro. Polícia, detetives todos a me interrogar. Fiquei oito dias lá. Dois enfermeiros me disseram que eu nasci de novo. Nasci de novo? Sem membro? Agora só um eunuco?

               Diverti-me bastante nesta viagem no trem expresso para vitória. Melhor voltar. O corte onde existia um pênis já se curava.  Peguei o trem expresso noturno de volta. Em Belo Horizonte voltei a minha velha lida. Meu Chefe sorriu quando adentrei em sua sala para explicar. – Tudo bem Norberto. Não se preocupe. Volte ao trabalho. Olhe, Noêmia te procurou ela me disse que está arrependida. Noêmia minha noiva? Eu deveria aceitá-la de volta? Que ela morresse para sempre. Agora sonhava com Latascha e sabia que tudo terminara. O que ela queria não podia mais dar.  Doutor Douglas à tarde mandou-me chamar. Norberto, temos um cliente especial, ele é um dos homens mais ricos do Brasil e da Rússia. Disse que só seria nosso cliente se fosse atendido por você. Fiquei branco, era ele, Pavlov em carne e osso, nada mais nada menos que o gordo filho da puta, o chefão que me capou. Meu destino foi servi-lo para sempre. Dizem que quem perde sua virilidade perdeu sua vida. Eu perdi muito mais. Levou-me para sua mansão no Rio de Janeiro. Aceitei ir. Sabia que ia matá-lo mais dias menos dias.  Latascha estava lá. Linda como sempre. Nem me olhava afinal agora era um empregado de luxo, um eunuco que só poderia lembrar os prazeres que ela me deu. Vida danada, mas fazer o que? Continuar vivo valia a pena? Quem sabe a sonhar com a vingança. Não posso reclamar. Sei não, mas tive minha liberdade sem cerceamentos. Nunca mais vi Noêmia, mas via Latascha todos os dias. Que fosse assim. Não escolhi este destino?

                  Encontraram o gordo Pavlov com a garganta cortada dois meses depois. Estava sem a língua e sem seu pênis.  Eu estava ao seu lado com um furo de bala na testa. Eu mesmo dei cabo de minha vida. Não nasci para eunuco e nem para adorar Latascha em pensamento. Diabo de vida. De quem foi culpa? De Noêmia eu sei que não foi. Quem sabe o culpado sou eu?

Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim para te oferecer

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda.
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!