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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Eu lhe ofereci minha vida e um buque de margaridas amarelas, porque não aceitou?



Onde está você margarida?
Flor mais bela do jardim
Com seus olhos tão profundos
Que expõem minha alma
Me tirando da solidão

Não me abandones margarida
Pois preciso do teu ser para ser
Do teu perfume embriagando manhãs
Me fazendo perder os sentidos

De tua voz acalentando meu coração
Do teu corpo entrelaçando o meu
Do teu sorriso arredio e corrediço
Do teu amor para libertar-me.

Eu lhe ofereci minha vida e um buque de margaridas amarelas, porque não aceitou?

               Não dá para esquecer. Nunca. Os versos de Clarice batem no fundo dentro de mim. Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. “Enquanto escrevo, vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão.” Mas isto não é real. Ela foi tudo para mim e eu não fui nada para ela. Porque o destino sempre protege aqueles que não precisam? Meu irmão Javel sempre teve tudo que quis. E a vida sempre lhe sorriu. Deu-lhe todas as benesses que alguém pode alcançar. Será que ele merecia? Quem sou eu para julgar. As pessoas achavam que éramos gêmeos. Eu era um ano mais novo e nunca nos vestimos iguais. Eu nunca o invejei. Nunca. Sei que ele era mais perfeito que eu, mas até quanto à perfeição influi no caráter? – Gill, ele dizia, cada dia é um dia. O seu vai chegar. Nunca chegou. Ele faculdade eu Escola Técnica. Ele ótimo emprego e eu com um que mal dava para viver.

                Aceitei tudo normalmente. Nunca me revoltei. Até os poucos amigos que me conheciam diziam que eu devia mudar. Mesmo não sendo não deveria aceitar ser o segundo. Juro que eu tentei tudo para ser um bom irmão, mas não deu. Palavra que não deu. De quem foi à culpa? Disseram que foi dela. Não sei. Mas Javel sabia que eu a amava. Ele sabia que eu a conheci antes dele, ele sabia que a vida sem ela era nada para mim. Eu sei que mesmo lhe oferecendo Margaridas Amarelas suas preferidas ela evitava aceitar. Aquilo me machucava, doía uma espada entrando em meu corpo. Ela agora preferia beber o néctar do veneno com meu irmão. Todos poderão dizer que a escolha foi dela. Mas por quê? Eu disse a ela que daria minha vida para fazê-la feliz. Ela abaixava a cabeça e não dizia nada.

              Por toda minha vida fui um perdedor. Queria jogar e ganhar, mas não conseguia. Meu irmão era meu fantasma. Para ele tudo em primeiro lugar. As sobras eu podia utilizar. Foram anos assim e até achei que tudo era natural. A melhor roupa, o melhor calçado, a melhor mesada, os direitos que lhe davam e para mim nenhum. Erro do meu pai? Da minha mãe? Não dizem que os primogênitos tem mais direitos? Afinal ao nascer primeiro os direitos não são deles? Posso dizer que a principio concordei com tudo isso. Concordei de ele estar sempre em primeiro lugar. Eu sei também que onde a esperança falta, onde um amor se transforma em mal, onde quem mata se esconde em si mesmo nada e nem nunca pode dar certo. Há o amor... que nasce não sei onde e vem não sei como, e dói não sei por que (Camões).

               Foi o destino que me jogou naquela marquise para fugir do vento forte e da chuva que caiu como uma tromba d’água naquela tarde tão benfazeja. Foi quando a vi pela primeira vez. Meu Deus! Como era linda. Não vi mais a chuva nem mesmo ouvi trovões. Os raios que caiam eram flores de margaridas amarelas que iluminavam aquele rosto de uma deusa do Olimpo. Ela suspirava forte. A corrida até ali a deixou cansada. Alguns segundos ela me olhou. Sorriu. Que sorriso maravilhoso! - Oi, ela disse. Eu tremia, minha voz saiu rouca – Oi para você também. Ela riu mais. – Que chuva eim? Ela continuou falando. Eu só ouvindo. Se ela quisesse eu ficaria todo o tempo do mundo ali só a ouvi-la. Que linda voz, que sorriso maravilhoso e sua expressão? Impossível descrever. A chuva começou a amainar. Maldita chuva. Assim ela iria embora. – Olhe, ela disse, sou sua vizinha, saio de madrugada e volto à noite para o trabalho. Casa 132, amanhã sábado estou em casa, se quiser apareça para tomar um café!

                 Ela se foi. Eu fiquei ali esperando seu vulto desaparecer na esquina. Porque não fomos juntos? Até hoje me pergunto por quê não. Levantei cedo. Um banho vesti minha melhor roupa. Meu irmão perguntou o que houve para ficar assim tão elegante. Não respondi. Bati na casa dela. – Entre ela disse quando chegou à porta. Sem palavras para descrever aquela tarde. Não pense mal. Ela contava histórias, me serviu café, depois chocolate, um delicioso bolo de baunilha. A noite chegou. A mãe dela uma simpatia. Mas vi que precisava ir. – Posso convidar você para um cinema? Perguntei. Naquele noite mesmo saímos. Segurei em sua mão. A minha tremia de emoção. Foi o começo de tudo. Eu a amava. Mais que tudo na vida. Meu irmão cismado. Não deu para esconder. – Um dia nos encontrou no portão da casa dela – Não vai me apresentar? Ele disse. Vontade de mandar ele para o diabo que o carregue. Não devia, mas ela me perguntou quem ele era. Foi o começo do fim de tudo.

              Meu inferno começou. Por ela minha vida já não era mais a mesma. Aceitei tudo do meu irmão, mas agora eu o odiava. Cheguei a maldizer ter nascido do mesmo sangue. Vi que ele não me respeitava. Ele sabia que eu a amava, que estávamos namorando e mesmo assim insistiu com ela. Foi ela quem me disse que ele seria o homem de sua vida. Um ódio mortal tomou conta de mim. A única coisa importante na minha vida ele me roubava sorrindo. Nem sequer me procurou para justificar. Passei a beber e juro que até hoje não sei por quê. Eu nunca bebi. Tornei-me um alcoólatra e me mandaram embora da fábrica. Nenhum dos dois sequer me procuraram. Não houve explicações, nunca houve. Começou a germinar na minha mente a ideia de matá-los. Meu Deus, a que ponto estava chegando.

               No dia do casamento deles resolvi acabar com meu sofrimento. Quando o Padre fosse perguntar se tinha alguém contra, eu daria um tiro em cada um e sorrindo para os convidados diria – Eu sou contra este casamento. Que eles sejam felizes no meio do inferno! Que o demônio os abençoe. Mas não ia ficar só por aí. Com a própria arma daria um tiro em minha cabeça. Claro, eu seria companhia deles junto aos demônios naquela caldeira do diabo onde iriamos morar. – Vesti minha melhor roupa. Um terno que guardei para quando fosse casar com ela. Consegui de um conhecido um Taurus 45. Na hora marcada entrei na igreja. Todos olharam para mim. Quando o Padre começou a perguntar dei um tiro no meu irmão e outro nela. Ri quando ambos caíram ao chão. Virei para os convidados sorrindo – Eu a amava, disse. Ele o meu irmão sabia. Roubou-me como sempre o fez em toda nossa vida. Alguém correu para me tomar a arma. Dei um tiro por bairro do queixo e a bala saiu do outro lado do cérebro.

                 Fiquei vagueando em um lugar fétido, gemidos por todo lado e pessoas passando e me desejando que fosse para o inferno. Tudo escuro e eu não via nada. O tiro que dei em mim toda hora entrada em minha cabeça e saia do outro lado. Doía horrivelmente. Pessoas horrendas riam de mim. Eu me chafurdava na lama. Não conseguia sair. Onde estava? Queria agora mesmo ir para o inferno. Lá era meu lugar e não aqui no meio desta podridão. Eu não via nada. Em uma parede invisível sempre aparecia uma tela, sempre com as mesmas imagens. Na primeira vez o que passava me assustou. Ele e ela vivos em um hospital. Não estavam mortos. Eu errei o tiro e um acertou a perna dela e o outro o ombro do meu irmão. Eles sorriam para mim. Malditos! Mil vezes malditos. – Alguém me tocou o ombro. Um bicho enorme. Vermelho como se estive em fogo, chifres brancos na cabeça. – Olá meu jovem, vim te buscar. Segurou-me com força. Jogou-me em um despenhadeiro. Lá no fundo lavas quentes onde cai com um estrondo. Gritava de dor, tentava pensar e não conseguia, foram anos e anos assim. Meu Deus me ajude! Não aguentava mais aquilo. Eu sentia muita falta. Não só dela como dele também.

               Não sei quanto tempo fiquei ali. Queria falar com ela e meu irmão. Pedir perdão. Sei que eles iriam me perdoar. Tentei tudo, mas cansei de procurar, de insistir, é difícil e ficava cada dia mais cansado. Meu corpo doía e melhor é deixar o tempo agir. O que deve ser será. Se existe um Cristo um Deus sei que um dia eles irão me perdoar. Sei que aquele sofrimento um dia terá fim. Agora uma nevoa a minha frente. Um pequeno raio de sol apareceu. Pessoas chegaram vestidos de branco. Uma jovem sorrindo me trouxe flores. Margaridas amarelas. Lindas, as flores que eu amava e que sempre dei a ela. Alguém me abraçou. Fui elevado no ar e levado para um céu onde existia tudo. Hoje vivo ali, ajudando e trabalhando. Dizem que eu vou voltar. Voltarei com filho dela e de meu irmão. Será sublime. Uma alegria. Não sei se mereço isto. Mas Deus sabe o que faz!  

              Hoje na cidade dos sonhos onde moro, eu vivo sorrindo, não tenho mais ódio no coração e nas minhas horas vagas depois de minhas orações eu faço poemas e no meu jardim eu cultivo margaridas amarelas. Sempre quando me lembro deles lagrimas caem e mesmo com voz não tão bonita eu canto: - £São duas flores unidas, são duas rosas nascidas, talvez do mesmo arrebol. Vivendo, no mesmo galho, da mesma gota de orvalho, do mesmo raio de sol. Ah! Unidas... Ai quem pudera, numa eterna primavera, viver qual vive esta flor. Juntar as rosas da vida, na rama verde e florida, na verde rama do amor!£ – Que eles sejam muito felizes. Para sempre... (Castro Alves)

Saudade

Não tenho percebido cores;
Não tenho sentido mais o néctar das flores;
Não sei mais o que é real e nem abstrato.
Talvez neste exato momento, não sonhasse com o futuro,
Nem vivesse no passado;

Há dias tenho vagado na mente distante, incessante,
Mas exatamente neste instante, tenho sido incoerente e não só com opiniões diferentes,
Mas também com pouca e muita gente.
Sou assim... Naturalmente!
“O que fazer?”.

Tenho medo da dor, tenho medo de sofrer,
Tenho medo de brigar com meu amor, de matar, de morrer...
Será que todos são assim?
Não sei mais quem sou!
Não tenho estado mais aqui comigo.

A saudade, engrandece a tristeza,
Que mesmo sendo de nossa natureza,
Não consigo aceitar!

Sinto falta de tudo, sinto falta de você!
Na memória, a lembrança tardia de um sorriso e um olhar de uma triste alegria, que glorifico!
É o que me faz despertar!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Alice, que nunca esteve no país das maravilhas.



Ao perseguir o coelho branco
Alice caiu num buraco
Que a levou a um lugar encantado,
Com maravilhas por todos os lados.
Animais ali falavam como gente
Comemoravam o desaniversário.
E a Rainha Vermelha com destreza
Arrancava a cabeça
Daqueles que a desagradavam.
Alice inventava palavras,
Sempre procurando rimá-las.
Com  elas em suas andanças
Encantava adultos e crianças.
No País das Maravilhas,
Flores lindas eram orgulhosas
De seus perfumes e cores.
Enquanto que a Lagarta Azul
Enigmática em seus dizeres
Fumava horrores.
E a pobre Alice em seu caminho
Conheceu a luta da Rainha Branca,
Que teve seu trono usurpado
Por irmã vil e invejosa.
Luta sangrenta por justiça
Onde com a espada vortal
Pôde mostrar que era a tal.
Alice, menina que cresceu,
Sem lembrar da viagem maravilhosa,
Pensava que enlouqueceu!
Mas ao lembrar-se de toda a verdade,
Que não era sonho, mas realidade,
Alice conformou-se com seu papel:
Tornou-se heroína e lutou contra o inimigo,
Devolvendo o trono à bondosa amiga branca rainha.
06/11/2012
Postado por Guacira Maffra. 

Alice, que nunca esteve no país das maravilhas.

             Nunca desejei ser além do que sou. Sou feliz. Tenho tudo que preciso. Um emprego, bons amigos, um ótimo patrão e um homem que preenche tudo aquilo que preciso. Estamos noivos. Não é um amor louco nem um amor apaixonado. Não sei o que seria da minha vida sem ele. Não esqueço o dia que nos conhecemos. Foi no lotação Centro/Mauá. Não havia lugares vagos. Ele me olhou sorriu e disse – Moça, ninguém com sua beleza pode viajar em pé. – Fiquei encabulada. Sentei e ele em pé não tirava os olhos de mim. Desci na Praça Ontário e ele ficou da janela me dando adeus. Que sensação maravilhosa eu sentia. Na loja Pentecostes até seu Norberto o proprietário me perguntou o que houve. Claro que não contei. Era um segredo meu. Uma paixão enorme que se abria em meu coração. Mas será que eu o viria de novo?

             Durante vários dias fiquei entre o céu e a terra. Não podia esquecê-lo. Nunca. Corria para o ônibus e ele não estava lá. Ia dormir pensando nele, pois tinha medo de que o esquecesse. Estava absorta pensando em minha sorte que nunca foi boa para mim. – Moça, tem um Mocassim número 42? Levantei os olhos. Um susto! Quase desmaiei, era ele, Deus não tinha me abandonado. Sorri, um sorriso apressado mas verdadeiro. – Claro, sente-se aqui. Vou buscar várias cores para o senhor escolher. – Senhor? Ele riu. Chame-me de Balty, o nome real é Baltazar, mas gosto mais do apelido. – Muito prazer Balty, eu sou Alice. Foi o melhor dia da minha vida. Minhas amigas da loja sorriram e disseram que era o homem mais bonito que tinham visto. Moreno, bronzeado, cabelos negros lisos e bem penteados, dois enormes olhos castanhos que brilhavam e a boca? A mais perfeita que já vi.

              Convidou-me para sair à noite. Um cinema. Super-respeitoso. Levou-me em casa e só um beijo na minha mão. Estava nas nuvens. Eu dormi sonhando ser a verdadeira Alice nos pais das maravilhas. Quem sabe ela caiu na toca do coelho? Quem sabe a lógica do absurdo do filme não seria sua lógica? Eu tinha assistido o filme varias vezes. Adoro a história de Lewis Carroll. Um mês de namoro. Nunca pedi nada. Ele tinha um velho fusca 74. Nunca abri a porta. Ele corria para abrir. Levou-me algumas vezes em restaurantes. Simples é claro. Ele contou-me que não ganhava muito. Era gerente de uma Banca de Verduras no Ceasa. Pediu-me em casamento quatro meses depois. O dia mais feliz de minha vida. Mandei um telegrama para a Vovó. Queria compartilhar minha alegria, meus pais haviam falecido há tempos.

                Naquela mesma noite dormirmos juntos. Uma experiência incrível, pois eu era virgem. Nunca tinha sido de nenhum homem. Ele calmo e ponderado me levou nas nuvens. Quando fiquei nua na sua frente senti um enorme calafrio e fiquei vermelha de vergonha – Pensei comigo – Vai ser meu marido, não tenho de envergonhar. Ele me acariciou de uma maneira que tremia dos pés a cabeça. Na ponta do dedo de uma mão começava nos pés, ia subindo pelas pernas e com o outro dedo vinha ao contrario, descendo pelo seu rosto, na ponta dos seios e ambos se encontravam lá, na sua gruta escondida que ninguém a tinha visto antes. Ele foi o primeiro. Pediu-me para acariciar sem membro. Grande. Duro mas macio. Ele me possuiu devagar, eu tremia e gemia. Nunca tinha passado por aquilo. Era lindo e maravilhoso. Pela primeira vez tive um orgasmo que eu mesma fiquei admirada.

                Nosso casamento seria em novembro. Dia 12 na Igrejinha de Santo Antônio do meu bairro. Eu acreditava ser a pessoa mais feliz do mundo. Engraçado. Não sabia onde ele morava. Ele nunca me disse e nunca perguntei. Lembro que foi em uma tarde ao sair do trabalho que passei em frente a uma lotérica. Uma enorme fila. Nativa uma amiga do trabalho perguntou se não ia jogar na loto. Ri e disse que nunca joguei. Não tinha sonhos de riqueza. – Mas jogue Alice, uma vez só. Quem sabe isto vai trazer a maior felicidade entre você e o Balty? – Entrei com ela na lotérica, fiz um jogo sem pensar e guardei a cartela dentro da bolsa. – Oito dias depois nem lembrava dela. – Vi a noite em um jornal da TV que o ganhador do premio de cento e setenta milhões ainda não aparecera. Puxa! É muito dinheiro para ninguém procurar.

                 Em casa nem pensei no assunto. Morava com Dona Madalena em um quartinho que ela me alugou. Grande amiga. Muitos conselhos. Ao procurar a chave vi bem lá no fundo da bolsa à cartela. Sorri. Não podia ser eu. No dia seguinte passei na lotérica. Tremia quando vi o resultado do meu jogo. Era a ganhadora. Liguei para Balty pedindo socorro. Não sabia o que fazer. Meia hora depois ele chegou. Abraçou-me e disse que não precisava me preocupar. Falei para o senhor Norberto sobre o prêmio – Alice ele disse – É muito dinheiro. Você não tem pais, irmãos alguém que possa lhe ajudar? Expliquei que Balty já oferecera. – Não sei não Alice, eu sei que vão casar, mas não seria melhor ver isto sozinha? Soube que na Caixa tem gente especializada. – Calma seu Norberto. Tenho a maior confiança em Balty.

                  Confiança. Linda palavra. O que o amor não faz entre dois amantes que juram viver juntos para sempre. Balty abriu uma poupança. Conta conjunta. O gerente ficou conosco horas nos orientando. – No mesmo dia sai do emprego e junto com ele fomos para o melhor hotel do Rio de Janeiro. – Depois veremos onde vamos morar e o que vamos fazer. Agora precisamos ter um tempo nosso. Só nosso. Eu ria de felicidade. Balty no segundo dia saiu cedo. Disse que ia encontrar um amigo e que eu devia descansar. Balty sumiu. Não voltou ao hotel naquele dia e nem no outro. Não o encontrei em nenhum hospital, delegacia e fui até no IML.  Nada. Estava desesperada. Não sabia o que fazer. O gerente do hotel me cobrou as diárias atrasadas. Mais de oito mil reais. Meu Deus! Na minha conta só duzentos reais. Na poupança nada. Vazia!

                   Não estava acreditando. Impossível. Balty nunca faria isto. Ele me amava. Qual a explicação? Quem sabe foi sequestrado e os bandidos o obrigaram. Procurei o gerente. Disse que não tinha como pagar. Oferecia trabalhar para eles até a conta ser liquidada. Fiquei três meses no hotel e voltei para São Paulo. Voltei à velha rotina. Minhas amigas e seu Norberto e Dona Madalena inconformada. O dinheiro para mim não era tudo. Eu o amava. Ele podia ter ficado com tudo se eu estivesse do seu lado. Passaram-se cinco meses. Meses sofrendo, mas aos poucos estava esquecendo dele. – Um dia sentado no Bar do Tadeu onde almoçava um homem pediu licença para sentar. Dizer o que? – Moça, soube do seu caso. Sou advogado e detetive. Se quiser encontro o desgraçado que te roubou e vou lhe ensinar como recuperar seu dinheiro. Se concordar e tudo dando certo quero quarenta por cento.

                     Não disse nada. Peguei um cartão dele. Um mês depois vi uma noticia no jornal que me revoltou. Ele cercado de mulheres numa casa cinematográfica em Búzios. Liguei na mesma hora para Osmar. O advogado detetive. Disse que continuasse trabalhando. Ele ia investigar tudo. Passou mais de um mês quando ele me procurou. – Tenho um plano. Não vai ser difícil. Explicou-me tudo. Balty tinha uma fazenda no interior de Goiás. Na cidade de Morro Agudo próxima a sua fazenda. Ele ia quase semanalmente no puteiro da cidade. Era o rei da Boate da Margarida. Dava grandes festas. Osmar sabia como eu devia agir. Transformou-me de morena para loura. Pagou do próprio bolso a um cirurgião em plástica e estética operar os lábios, o nariz, a orelha e deixar minhas bochechas mais firmes. De olhos castanhos transformou-se em verdes. Tornei-me uma prostituta. Fui aceita na Boate de Dona Margarida sem problemas.

                     Quando ele me viu me chamou. Fez todo tipo de arrasta-pé, jogou nota de cem na mesa dizendo que era minha. Bem tarde, já madrugada ele completamente alcoolizado me levou para sua fazenda. Fiquei com ele por quinze dias. O plano era ver papeis que ele tinha assinado e guardar comigo. Quando já tinha oito folhas de papel fugi de lá. Eu e Osmar ficamos dois meses treinando a sua assinatura. Eu consegui uma noite que ele estava quase dormindo sua senha. Retiramos todo o dinheiro que ainda existia nos bancos. Cento e quarenta e dois milhões. A casa em Búzios e a Fazenda não deu. Entreguei a parte do Osmar. Sessenta e cinco milhões. Bem empregado. Ainda sobrou mais de setenta milhões. No segundo mês voltei lá. Minha vingança só começou. De novo na Boate da Margarida. Ele me viu e desconfiou. Levou-me de novo para a fazenda.

                   Tentou tudo para saber o que eu era. Inventei uma história. Naquela noite ele totalmente alcoolizado e a fumar maconha desmaiou na cama. O amarrei melhor que pude. Fui na cozinha. Peguei uma faca de açougueiro. Sem dó e sem piedade cortei seu pênis e seu saco escrotal. Ele gritou e gemeu fundo. Estava amarrado. Gritei com ele – Agora seu filho da puta, vais comer e desgraçar mulher no inferno! Gritando perguntou quem eu era. Dei uma risada. Alice seu filho de uma égua, Alice que nunca foi no país das maravilhas. Sai de lá correndo. Peguei um Taxi até Goiana. Lá aluguei um jatinho que me levou ao Uruguai. Tinha lá uma bela casa. Mas não ia ser minha moradia. Hoje tenho casa em Malibu próximo a Los Angeles de frente a praia, outra em Paris próximo a Torre Eiffel. Um grande apartamento situado ao longo dos jardins um bairro dos mais elitistas da capital. Em Mônaco mais precisamente em Monte Carlos comprei outra. Minha Avó mora comigo. Nativa minha amiga da loja também.

                   Não tenho namorados. Vivo com minha renda. Passeamos eu e Nativa pela Europa. Nunca mais voltei ao Brasil. Tinha receio que o filho da mãe do Balty pudesse fazer alguma vingança ou mesmo que estivesse sendo procurada pela policia. Osmar de vez em quando aparecia. Deixou seu escritório de Detetive e ria quando perguntava se estava fazendo alguma coisa. Eu sou rica. Não sei se sou feliz. O dinheiro é a minha esperança de independência. Mas sei que a única segurança verdadeira para a felicidade é fazer uma reserva de sabedoria, de experiência e competência. Aprendi a lidar com o dinheiro. Eu sei que o dinheiro é o sonho dos pobres. Eles não conseguem pensar em mais nada. Bem que o Dalai Lama um dia comentou que o que mais surpreende é o homem, vive perdendo a saúde para juntar dinheiro, depois perde o dinheiro para recuperar a saúde. Ele também vive pensando ansiosamente no futuro, de tal forma que acaba por não viver nem o presente nem o futuro. Vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido!

                      Mas querem saber a verdade? Nunca esqueci Balty. Eu o amava e ainda o amo. Poderíamos ter sido felizes. O maldito dinheiro não deixou. Agora eu Alice só penso em encontrar o meu País das Maravilhas.

Eu amo cada milímetro da minha vida.
 “Na riqueza ou na pobreza, na saúde ou na doença...”
O importante é saber que iremos envelhecer,
Ricos ou pobres, se você estiver doente cuidarei
De você e tenho certeza que se eu estiver doente
Você irá cuidar de mim.
E isso é o que importa, a lembrança de um passado,
A segurança de um futuro e a alegria do presente.