Bem vindo ao blog do Osvaldo

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quinta-feira, 6 de outubro de 2016



Destino.
Á ternura pouca
Me vou acostumando
Enquanto me adio
Servente de danos e enganos.

Vou perdendo morada
Na súbita lentidão
De um destino
Que me vai sendo escasso.

Conheço a minha morte
Seu lugar esquivo
Seu acontecer disperso

Agora
Que mais
Me poderei vencer?
“Mia Couto”.

Um destino, uma vida, um sonho esquecido.

                      Macbeth estava dormindo. Uma noite gelada. Um inverno rigoroso. Macbeth tinha experiência com o frio. Sabia que não daria tempo para chegar ao seu barraco na Favela São Benedito. Era lá sua morada. Um quartinho. Ganhou de um amigo que foi trabalhar em uma cooperativa e melhorou de vida. O jeito era dormir próximo ao Viaduto do Socorro. Era sua segunda casa. Estava acostumado, mas o frio doía até nos ossos. Seu carrinho de mão comprado com tanto sacrifício ele não abandonava nunca. No barraco fez uma passagem maior na porta para ele passar. No viaduto ou em outro lugar ele amarrava uma corrente fina com um cadeado a sua perna. Ninguém nunca tentou roubá-lo, mas sabe-se lá.

                  Nunca disse para ninguém seu nome de batismo. Se auto intitulou MacBeth. Claro, quem ali poderia ter lido ou assistido a peça de William Shakespeare “Tragédia Macbeth”? Ele não era afeminado. Nada disto. Mas achou interessante se chamar assim. Nunca quis lembrar seu passado. Ele era página virada em sua vida. Recordar o que foi não ia ajudar. Gostava de sua nova vida de sem teto. Não devia obrigação a ninguém. Fazia seus próprios horários e mesmo enfrentando dificuldades nas ruas da solidão, ela se sentia feliz. Muito mais quando... Melhor esquecer. De vez em quando a soldadesca dava-lhe uns tapas, uns chutes e o levavam preso só para roubar o pouco que ganhava. Mas MacBeth não reclamava. Quem escolhe uma estrada para seguir não tem jeito. Mudar em certa parte do caminho é retroceder.

                   No dia seguinte apesar do frio MacBeth voltou às lides de catador. Uma chuvinha miúda caía molhando tudo pela frente. Passou próximo a um restaurante de um real. Eram dez da manhã. Eles só abriam as onze. Esperou calmamente. Amarrou sua carrocinha no ferro de uma placa de estacionamento proibido. Alguns conhecidos já estavam na fila. Calado ele ficou só observando todos. Conversava pouco. Só o necessário. Foi então que ele a viu. Incrível! Continuava linda! Seu coração bateu forte. – Deus! Não deixe que ela me reconheça. Ela passou com um jovem de braços dados. Sorria. Ele sabia que era o mais lindo sorriso que já tinha visto. Ela nem olhou para os lados. Ele abaixou a cabeça. Sentiu o velho perfume J’Adore de Dior que ele sempre usava. Ficou inebriado. Que saudades! Malditas saudades!

                  Não era seu dia. Quando chegou na hora de pagar viu que não tinha um centavo. Tentou conversar com alguns na fila. Todos diziam não poder ajudar. A fome corria solta. Mas e daí? Não era a primeira vez. Pegou sua carrocinha e foi em direção ao Butantã. Atravessou a ponte da Cidade Universitária. Olhou lá embaixo a Marginal Pinheiros. Quantos carros. Milhares deles. Quantas vezes ele passou por ali com seu velho Mercedes e seu bom amigo e chofer o Juventino. Ao se aproximar da entrada da USP avistou um saco que parecia estar cheio de latinhas de cerveja. Chegou primeiro e guardou no fundo de sua carrocinha. O dia inteiro não rendeu muito. A fome apertava mais e mais. Passou em frente ao Bar do Sacristão. Parou. Olhou para dentro. Zé Ruela o viu. Pegou dois pão velhos com manteiga e trouxe para ele. Bom amigo o Zé Ruela. Se o patrão dele visse o colocava na rua.

                 Chegou ao seu barraco por volta das oito da noite. Mal cumprimentou um e outro. Estava tão cansado que dormiu logo. Nem fez seu café que sempre fazia. Levantou cedo. Separou o lixo reciclado, tinha alguns fios de cobre de dentro da sacola com as latas vazias de cerveja ele encontrou um saquinho pequeno com vinte cartelas de jogos de loteria. Jogou-os de lado. Pegou sua carrocinha e colocou o que poderia vender. Seu Pedreiro pagou a ele onze reais. Tudo bem. Já dava para comer alguns dias. À noite em seu barraco olhou novamente as cartelas. Pegou três. Colocou no bolso. Ia conferir. Depois dar risadas. Claro que quem as fez já tinha conferido. Eram de três meses atrás. De novo levantou cedo. Pé na estrada.

                Na Praça Pan-americana viu uma lotérica. Entrou sob os olhares raivosos das moças atendentes. Ele tomava banho duas vezes por semana. Mais não dava. Usava um balde que enchia de água na porta do Barraco do Jacinto. Conferiu o primeiro. Não estava entendendo. O danado do bilhete marcava os seis pontos. O numero havia ganhado sozinho. O valor? Oitenta e cinco milhões de reais. Fechou os olhos. Saiu dali calado. E agora? O que devia fazer? Porque o dono jogou os bilhetes fora? Claro ele sabia que ninguém poderia provar que ele tinha roubado os bilhetes. Era entregar e receber. Nem foi trabalhar aquele dia. Passou a noite acordado. Não teve jeito. O passado batia com força na sua mente. Maldito passado.

                MacBeth sabia que era um empresário de sucesso. Marcondes seu sócio era seu amigo de infância. Estava noivo de Maria Rita a quem amava profundamente. O casamento seria em menos de um mês quando ele foi preso. Por quê? Marcondes o acusou de roubo. Roubar o que? A própria firma. Eu? Nunca faria isto Marcondes. Claro ficou lá só uma semana. Quando saiu viu que o prédio que tinham a fábrica e o escritório tinha sido queimado. Não sobrou nada. O seguro disse que havia cinco meses que não se pagava nada. Marcondes fez tudo premeditado.

                 Procurou Maria Rita. Ela o desprezou. Morava sozinho em um apartamento nos jardins. Porta trancada. Uma placa escrita – A disposição da justiça. Foi ao Banco Bradesco. Sua conta zerada. No Itaú a mesma coisa. No Santander só duzentos reais de saldo. Procurou Marco Antonio seu amigo e ele tinha mudado para a Europa. Ficou desesperado. Prometeu matar Marcondes. Arrumou uma faca simples. Foi até a casa dele. Tinha sumido também. Roubou tudo dele e foi embora. Sentou em baixo do Viaduto Santa Filomena e chorou. Chorou muito. Uma mão em seu ombro. Virou. O rosto de uma mulher. Feia, desdentada. Desmemoriada. Suja e demente. Disse a ele para acreditar em Deus. Ele tudo resolve. Ele riu. Deus? Que Deus?

                  Largou tudo que tinha, pois agora não tinha nada. Resolveu mudar de vida. Porque não? Nunca foi um sem teto, mas nunca é tarde para começar. Levou Santinha a desmemoriada consigo a procurar comida. Ela ria dele e ela sim é que o ensinou os macetes dos sem tetos. Aprendeu. Deu duro. Sempre trabalhou. Era inteligente, sabia como ninguém dirigir e coordenar uma fábrica. Agora era diferente. Era saber matar à fome, o frio, a falta de um teto. Santinha morreu seis meses depois. Uma forte pneumonia. Correu com ela no Pronto socorro do Jaçanã. O socorro foi tarde demais. Afinal era negra, desmemoriada, suja e com um cheiro horrível. Ninguém ligou. Foi enterrada como indigente. Ele foi ao enterro e chorou.

                  Entrou na Caixa Econômica Federal na Rua João Casagrande. Os vigilantes não o deixaram entrar. Ele mostrou o bilhete. Um deles pediu para ver. Ele não deixou. Sabia o que ia acontecer. O Gerente Sênior viu a algazarra. Mandou trazê-lo até sua presença. Conferiu o bilhete. Deu a ele um grande sorriso. Onde achou o bilhete? Não achei. Comprei e esqueci-me de conferir. O gerente tentou um golpe que não deu certo. Começou uma lenga-lenga de como ele devia administrar o dinheiro. Ele foi enfático. Abra duas poupanças. Em uma deixe um milhão, na outra coloque os 84 milhões restantes. O gerente tentou negociar. – Faça o que estou dizendo. Colocou no bolso dois mil reais. Pegou sua carrocinha. O primeiro sem teto que viu deu para ele. Ele saiu rindo a toa.

                  Passaram-se dois anos. MacBeth abriu novamente sua fábrica de parafusos inoxidáveis para aviões. Exportava para a Europa. Um dia Dona Mercês sua secretária disse que tinha um tal de Marcondes querendo falar com ele. Mandou-o esperar. Pediu que dois vigilantes subissem ao seu escritório. Marcondes entrou. Quando o viu teve pena. Era um rato em forma de gente. Magro, tossindo e pedindo perdão. Não queria dinheiro só o seu perdão. Ele não sabia o que dizer. Mandou Dona Mercês dar a ele vinte mil reais e pediu a ele para sumir de sua vida. Ele agradeceu e sumiu. Dizem que a vingança é um prato que se come frio. Mas ele não queria vingança.

                   Uma tarde jantava no Baby Beef Rubaiyat na Alameda Santos. Foi atendida por uma garçonete.  Quando ela o viu e ele olhou para ela não havia dúvida, era Maria Rita. Não a desprezou. A tratou como uma garçonete. Ele não sabia o que fazer.  Quando saiu deixou uma boa gorjeta. Viu que ela chorava. Ele ainda a amava, mas não havia volta. Resolveu dar uma festa. Chamou todos seus amigos mendigos e sem tetos. Alugou um salão. Chamou oito seguranças. Contratou o melhor bufê da cidade. Todos se divertiam. Alguém contou para a policia que a droga corria solta. Cercaram o Bufê. Uma correria dos sem tetos. A policia abriu fogo. Ele sentiu algum queimando em seu peito. Perdeu o ar. Caiu ao chão. Estava morto.

                     Marcondes na esquina ria baixinho. Já tinha feito seus planos. Ainda guardava o contrato de sócio antigo. Uma pequena falsificação e tudo que era dele passaria em seu nome. Dito e feito. Quatro meses depois assumiu. Mandou dona Mercês embora. Contratou uma secretária nova, gostosa e sapeca. O tipo que precisava para divertir em seu escritório. Na semana seguinte a Senhorita Valenska disse que tinha uma moça querendo falar com ele. Ficou intrigado. Mandou entrar. Maria Rita entrou atirando. Deu nele seis tiros. Morreu na hora. Jogou a arma no chão. Saiu correndo. Filho da puta, dizia. Recebeu o que merecia. Na porta do prédio foi cercada pela policia. Desobedeceu a ordem de parar. Bastaram três tiros e Maria Rita caiu no asfalto molhado. Chovia fino. Um frio enorme. Ele estava por ali. Abraçou Maria Rita e saíram andando pelas nuvens que encobriam o céu. Passos pequenos, calmos e se dirigiram para o outro lado da vida. O que aconteceu depois só o céu pode contar.  


Que Feliz Destino o Meu MOTE 

 «Que feliz destino o meu 
Desde a hora em que te vi; 
Julgo até que estou no céu 
Quando estou ao pé de ti.» 

GLOSAS 

Se Deus te deu, com certeza, 
Tanta luz, tanta pureza, 
P'rò meu destino ser teu, 
Deu-me tudo quanto eu queria 
E nem tanto eu merecia... 
Que feliz destino o meu!    

Às vezes até suponho 
Que vejo através dum sonho 
Um mundo onde não vivi. 
Porque não vivi outrora 
A vida que vivo agora 
Desde a hora em que te vi. 

Sofro enquanto não te veja 
Ao meu lado na igreja, 
Envolta num lindo véu. 
Ver então que te pertenço, 
Oh! Meu Deus, quando assim penso, 
Julgo até que 'estou no céu. 

É no teu olhar tão puro 
Que vou lendo o meu futuro, 
Pois o passado esqueci; 
E fico recompensado 
Da perda desse passado 
Quando estou ao pé de ti. 
António Aleixo.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Uma estrada para o inferno! “O inferno são os outros”.


Perdido na estrada do inferno,
Você é seu único Deus.
Além do frio sem inverno
E um nada prá esperar...

E eu te falo
Estrelas negras
Não aparecem no céu.
Sem o brilho da saliva,
Do teu cuspe prá acordar
Sangue estragado vermelho
Na estrada para o inferno
E um infinito para atravessar...

Demônio na noite,
Sou euuuuuu!
Sou euuuuu!
Sou euuuuu!

Passageiro de um destino
Que nem mesmo sabe onde chegar,
Anjo negro suicida
E um profundo abismo prá dragar...
Enfeitado em flor de plástico
Você é seu único Deus.
Perdido na estrada do inferno
E todo o resto prá dizer adeus...

A loucura devora a alma
Por favor, esqueça
Dane-se Exploda-se
Que tudo apodreça
Demônio na noite,
Sou euuuuuu!
“Bruna”

Uma estrada para o inferno!
“O inferno são os outros”.

               O tiro atingiu bem no meio da testa de Salamanca. Um pequeno buraco na frente e outro enorme atrás. Ele caiu duro na soleira da porta. Solange sua esposa veio correndo e nem soube quem a matou. Um tiro perfeito no coração. Calixto ouviu um choro de criança, desceu do cavalo e na pequena sala o menino de uns quatro meses chorava. Nem apontou atirou de primeira. O tiro atravessou a boca do menino e ele morreu na hora. Calixto nem foi ver se todos estavam mortos. Não precisava. Ele sabia que onde olhava a bala estava lá. Sua pontaria era terrível. Largou os corpos lá e partiu para a casa de Alencar. Não era longe, umas duas léguas no máximo. No caminho pensava no dinheiro que o Coronel Calazans tinha prometido. Pagou a metade e a outra só quando terminasse o serviço. O Coronel não explicou porque precisava de todos mortos. Ele também não perguntou. - Cinco mil por cabeça – ele disse. Não quero testemunhas, mate todos que estiverem por lá ou quem encontrar no caminho!

             Do alto da colina avistou a casa de Alencar. Na porta duas crianças brincando. – Seu pai? – Na roça Seu Moço! Maria veio ver quem era. Não deu tempo. Três tiros três mortos. Atrás da choupana Alencar chegou correndo. Mais um que recebeu um prêmio, um passaporte para o inferno. Morreu na hora com um tiro na boca. Faltavam ainda Nonô, Policarpo e Esmeralda. Matar uma moça sem pai e sem mãe? Não importava. Ele fora pago para isto. Nunca teve dó, pena, piedade. Já tinha perdido a conta de quantos havia matado. O dia estava terminando. Ele precisava parar e arranchar. Não dava para matar todo mundo num só dia. Parou próximo a um pequeno regato, jogou sua manta e dormiu. Acordou com uma fome “braba”. No bornal preso na sela ele tirou um pedaço de carne seca. Comeu sem cozinhar. Montou no cavalo e partiu. Na estrada viu alguém correndo. Estava em uma égua pequena, quando ele viu Calixto pediu a Deus por sua vida. Não adiantou. Deus não o atendeu. Morreu na hora com a bala de winchester que carregava preso a sela. Calixto não queria saber quem era.

                    Ele pensou que era alguém indo avisar os demais do matador que o Coronel contratou. Agora ele está lá, na porta do inferno conversando com o diabo esperando outros que em breve iriam chegar. Era um contratempo. Pensou em encontrar todos eles desprevenidos. Bem, dinheiro não cai do céu. Estava fácil demais. Viu de longe na trilha a fumaça na casa de Nonô. Quem sabe ele ainda não fora avisado? Ledo engano. Ao atravessar o Ribeirão das Cobras balas zuniam sobre sua cabeça. Calixto riu. Porra, o danado está armado! Parecia ser mais de um. Lembrou que o Coronel disse que ele tinha um filho de desesseis anos. Bem os dois devem estar armados. Vamos esperar a noite chegar. Procurou uma moita de capim colonião e deitou dormindo na hora. Os tiros cessaram. Quem sabe eles achavam que ele estava morto, mas ninguém foi lá para ver. Calixto acordou com noite escura. Olhou sua winchester e viu que estava pronta para cantar. Arrastando foi devagar até a casa de Nonô. Tudo escuro. Ele sabia que eles estavam lá dentro. Ele sabia que fugir dele era cair na frigideira.

                 Meteu o pé na porta e mesmo no escuro sentiu o fedor da morte. Não deu tempo para nada. Três tiros, três mortos. Melhor era confirmar se estavam a caminho do inferno. A noite todos os gatos são pardos. Mortinhos da silva. A mulher, o menino e Nonô. Ele sabia que o Coronel iria pagar por cada morte que ele encomendou. Procurou no quarto embaixo da cama se não tinha mais alguém. Não tinha. Calixto estava cansado de tanto cavalgar. Ele sabia que podia ficar mais uma semana na sela do cavado baio. Mas amanhã é outro dia e ele pensava que podia acabar de vez com a empreitada. Faltava Policarpo e Esmeralda. Se Deus ajudasse ele mataria os dois em um só dia. Resolveu dormir ali na casa de Nonô. Nem se preocupou em tirar os cadáveres da sala. Deixe eles lá. Não estão mais no corpo. Ou foram para o céu ou para o inferno. Deitou na cama de Nonô e dormiu em menos de dois minutos.

                Nem bem o sol apareceu e Calixto já estava na estrada rumo à casa de Policarpo. Iria deixar Esmeralda por último. Estava na campana há dias e precisava comer uma mulher. Disseram a ele que Esmeralda era uma moça linda e gostosa. – Como ela e meto uma bala nela depois de gosar pensou. Ele não entendia porque o Coronel Calazans queria matar todos eles. Quem sabe a nova lei do usucapião? É o tal negócio, você dá a mão e o cara quer tudo! Não dizem que quem tudo quer tudo perde? Interessante que as roças que viu eram uma merda. Ficar ali contra a vontade do coronel e não ter nada era só mesmo para filhos da puta que não queriam trabalhar. Às onze da manhã avistou a casa de Policarpo, ele estava sentado no banco na porta da sala. Será que ainda não sabia? Apalpou seu colt 45 e viu que estava bem no coldre. Já tinha visto as balas que colocara e elas já tinham dono e destino. Chegou sério até onde estava Policarpo. Ele não era de sorrir. Dizia para si mesmo que quem rí muito é viado.

                Policarpo olhou para ele e nos seus olhos Calixto viu a morte. Pulou do cavalo na hora que o tiro ecoou. A mulher de Policarpo estava armada e esperando ele chegar. Viado filho de uma puta. Quase me pegou. Policarpo deu um salto e atirando com um Taurus simples errou o primeiro tiro e o segundo engasgou. Tá fudido home! Comece a rezar, pois vai morrer agora disse Calixto. O primeiro tiro foi para Lena a mulher dele que estava na janela pronta para o segundo tiro. Ela nem sabe como morreu. De raiva Calixto descarregou o Colt em Policarpo. Cada tiro ele dançava no ar. O sangue espirrava e as balas de Calixto brincavam em entrar naquela pele negra, mas com sangue vermelho. Policarpo girou como um peão danado, sentindo a morte tomando conta dele e pedindo ao demônio que matasse aquele matador filho de uma égua. Calixto sentiu uma queimação na perna direita. Sangue jorrava e a calça estava vermelha. Danado, ele me acertou. Tirou a calça e viu que era um buraquinho de nada. A bala entrou e saiu.

                      Entrou na casa a procura de filhos e não encontrou ninguém. O filho da mãe havia despachado os três filhos antes da chegada dele. Agora seria difícil descobrir onde estavam. Quem sabe na montanha do Grilo? Bem ele ia até lá depois de foder e matar Esmeralda. Só de cueca foi até a bica no quintal e limpou a ferida da bala. Ardeu mas nada parecido com a ultima bala que recebeu nas costas. “Geraldino atirou nele pelas costas” Filho da puta! Ele até hoje nas prefundas do inferno deve estar gemendo. Morreu com quinze facadas. Não ia desperdiçar uma bala naquele demônio do caralho! Ficou de molho dois meses sem matar ninguém. Se sentiu órfão. Não gostava de ficar parado. Ele gostava de matar, matava tudo que era vivo e alguém pagava para acabar com o danado. Ele sabia que tinha muito dinheiro guardado. Não gostava de bancos. Comprou um baú a prova d’água, passou muito mel em volta, deixou secar e abriu uma pequena fenda no Rio das Mortes e lá preparou para guardar seu baú cheio de dinheiro.

                      Calixto chegou à casa de esmeralda à tardinha. Encostada na soleira da porta não fez nenhum sinal de medo ou que iria correr. Puta de uma morena bonita e gostosa. Que lábios para morder ele pensou. Peitos enormes, cabelos negros compridos do jeito que ele gostava. Sentiu um perfume no ar. Ela sorria para ele e devagar levantava a saia para ele ver a calcinha dela. Filha da mãe! Pensou. Me deixou duro. Saltou do cavalo e a pegou pelos cabelos arrastando até a cama. Jogou-a brutalmente no estrado, tirou seu membro para fora, rasgou a calcinha dela e meteu com força. Ele gostava assim. Este negócio de deixar a mulher gosar é coisa de bicha escrota. Não dava folga. Metia com força e viu que ela gemia. A puta estava gostando! Mulher é assim, sabe quando gosar. Fechou os olhos para jogar toda a porra dentro dela. Não esperava o que ela fez. Sentiu uma faca entrando em sua jugular. Espirrou sangue prá todo lado e a respiração era difícil.

                        Agora sabia que ia morrer. Queria matar a puta dos infernos, mas não tinha força. A faca encravada em sua garganta não lhe dava paz e nem maneira de pensar. Ele morria aos poucos. Esmeralda sentou na cama se ajeitando e rindo. Olhou para ele sem nada dizer. Ele olhou para ela e pensou que poderia ter feito dela sua mulher. Precisava de uma mulher assim. Valente sem medo e gostosa prá burro. O jeito era esperar o capeta chegar. Não ia rezar, sabia que Deus não iria perdoar seus pecados. Nunca rezou na vida. Nem mesmo quando matou o Monsenhor Diácono na sacristia. Matou rindo e o pendurou na imagem do cristo. Imagem? Uma estátua feia e sem valor para ele. Melhor fechar os olhos e só abrir quando chegasse ao inferno. Não deixou nada para trás, nunca teve nada a não ser seu dinheiro preso em um baú na beira do rio. Ia ficar para as piranhas se elas gostassem das verdinhas de cem.

                       Esmeralda foi até o córrego e tomou um belo banho gelado. Lavou bem suas entranhas para não ficar marca daquele bandido filho da puta. Vestiu uma calça simples e uma camisa estampada. Colocou um chapéu de palha e partiu no cavalo baio de Calixto. Bom cavalo, marchador. Ela conhecia um bom animal. Estava escurecendo quando chegou à fazenda do Coronel Calazans. Ele a esperava em pé na varanda. – Matou? – Mortinho da silva Coronel. Bom serviço! – Desceu os três degraus e entregou a ela uma sacola de dinheiro. Estava livre de todo mundo. Olhou para Esmeralda, vai ser bonita e gostosa assim no inferno, pensou! Ela sorriu. Sabia quando o Coronel queria foder. Mas não desta vez. Ela não confiaria nele nunca. Meteu a espora no baio e sumiu na trilha da Ema. Ninguém nunca mais ouviu falar dela.

Prologo: - Juventino notou que Calixto não mais apareceu no seu casebre na beira do Rio Pardo. Passou um mês, dois e nada. - Morreu o desgraçado pensou. Foi até a beira do rio onde sempre viu Calixto tirar e colocar um baú dentro d’água. Achou a cordinha de nylon e a puxou. O baú veio à tona. Abriu a tampa e viu sorridente um monte de dinheiro. Melhor ficar com ele do que com os peixes do rio, pensou. Arrastou o baú até sua casa. Vovó Mafalda sorriu quando viu tanto dinheiro. Juventino nos seus treze anos nem sabia quanto tinha, sua Avó foi quem disse que eles tinham enricado. Mudaram para São Lourenço uma cidade bem grande e que ninguém iria perguntar aquela velhinha e aquele negrinho como eles conseguiram comprar a casa de Dona Antônia. É como dizem. A males que vem prá bem. Calixto no inferno e Juventino gastando seu dinheiro a rodo. Dizem que eles viveram felizes para sempre!

Aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre isso
e nada mais incomoda eles
(...)
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou mesmo morrer.

Quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão indo? "
eles vão responder: "bem, muito bem... "

Uma vez que você foi para o inferno e voltou
é o bastante
é a mais silenciosa celebração conhecida.

Uma vez que você foi para o inferno
e voltou você não olha para trás
quando o chão range.
o sol está no alto à meia-noite

E coisas como os olhos de ratos
ou um velho pneu em um terreno baldio
pode torná-lo feliz.
(...) Uma vez que você foi para o inferno
e voltou.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

A cruz do meu destino.


Vida de drogado

Vagueias pelas ruas,
Perdido em teus pensamentos,
Já não sabes onde moras,
Pensas e agora choras,
Tua vida, feita de tormentos.
Já não te lembras como foi,
Deixaste-a entrar na tua vida.
No início era tudo mágico,
E depois da tua alma esquecida
Não vês como é tudo trágico.
Queres deixá-la e não consegues,
Quem te ajudará agora?
Ela não te irá perdoar
Tinhas tanto para viver lá fora…
E tu preso nela, a amargurar.
Pensas no fim que terás,
Procuras avidamente dinheiro,
Doente e desesperado,
No meio de uma noite escura,
Só a vida de drogado,
Não te permite ver tua figura.

luso poemas

A cruz do meu destino.

                           Disseram-me um dia que precisamos ter sorte para a vida nos sorrir sempre. Nunca acreditei nisso. Não acredito em sorte. Acredito em escolhas. Estas sim decidem nosso destino. Afinal sempre disseram que temos o livro arbítrio para decidir o certo e o errado. Às vezes tomamos um caminho incerto achando que era o certo. Tomamos decisões que nunca deveriam ter sido tomadas. Mas e daí? Voltar atrás? Pensar de novo se a escolha foi correta? Absurdo. Uma vez a decisão tomada não tem volta. Ou tem?

                           Tudo começou quando fiz dezesseis anos. Loira, esbelta, corpo de Afrodite, uma perfeita combinação da mulher perfeita. Acreditava que sabia de tudo. Tinha todas as respostas. Até minhas amigas me achavam uma auto didata. Risos. Não era nada. Se tivesse metade do juízo delas não seria o que sou hoje. Mamãe sempre implicando. Papai ausente. Resolvi estudar a noite. Todos os meus amigos assim o faziam. Minha mãe dizia que deveria continuar no colégio onde estava. Lutavam com dificuldade, mas conseguiam sempre pagar a mensalidade.

                            Foi à conta. No Colégio Santa Maria das Mercês, do Estado, conheci Venâncio. Amor à primeira vista. Risos. Amor? Quem dera se fosse hoje. Mas os jovens acreditam em tudo. Entreguei-me a Venâncio. Como dizem por aí “ficávamos” em todos os lugares. A princípio usava preservativo, depois a paixão tomava conta. Esquecia de tudo. Durante um ano foi assim. Mesmo com minha mãe proibindo eu saia com ele. Braços dados, amor daqui, amor dali, paixão, todos sabem como é. Começa assim depois não quero vê-la nunca mais.

                          Não culpo Venâncio. Ele foi à mão do meu destino. Senti que estava grávida. Medo terrível. Precisava falar com minha mãe. Venâncio comprou uns comprimidos que se tomasse abortaria. Medo maior ainda. O Padre Juventino dizia que ia para o fogo do inferno quem fizesse aborto. Não tomei as pílulas. Tomei coragem. Falei com minha mãe. Que mãe eu tenho. – Gracielle, agora não tem volta. Vamos enfrentar juntas. Lembre-se, sua vida vai mudar. Ser mãe não é como ontem. Vamos exigir muito de você.

                         Estava no sexto mês de gravidez quando Venâncio me convidou para fumar um baseado. – É bom! Experimente! Dei uma tragada. Tossi muito. Vamos meu amor, não tenha medo. Isso vai ajudar a você enfrentar daqui para frente sua gravidez. É. Venâncio era um ingênuo. Sempre foi. Começou com um amigo dele. Traficante. Ele não sabia. Fumei um, dois, três e foi só o começo. Achava lindo. Minha mente abria, o céu era mais azul. Os pássaros cantavam como nunca tinha visto.

                         No oitavo mês comecei a dar os primeiros “caldos” com Venâncio. Um medo terrível no início. Depois usava a seringa com perfeição. Foi o princípio de tudo. Ficava relaxada, um mundo continuava azul, o sol lindo, as flores tinham um perfume que parecia o início da primavera em um bosque florido.  Nunca errei a veia certa. Uma vez a bomba entupiu. Estava com uma ressaca grande. Forçava e Venâncio me ajudava. “Bombei” no lugar errado. Passei mal, desmaiei.

                       Após o uso contínuo eu queria algum mais pesado. A droga estava perdendo o efeito. Venâncio perdeu o emprego. Lico Boca Torta queria dinheiro. Nada de graça. Minha decadência já tinha hora certa para começar, risos. Já tinha começado há tempos. Roubava tudo que encontrava em casa e não demorou para que minha mãe e meu pai descobrirem. Não entendiam porque fazia isso. Não sabiam que estava usando drogas. Escondia as marcas em meus braços, escondia tudo. Mas minha mãe um dia me viu prostrada na cama, seminua, gemendo pedido uma picada, só uma eu dizia.

                     Ela chorou muito. Falou com meu pai. Foram super compreensivos. Levaram-me até o padre Juventino. Ele me convidou a fazer parte do grupo dos Acólitos Anônimos. Lá eles também discutiam as drogas. Vi que era uma irmandade de homens e mulheres que compartilhavam suas experiências a fim de resolver seus problemas. Participei em três. Venâncio só foi à primeira. Depois ele desapareceu. Sentia uma falta tremenda dele e mais ainda da embriaguês infernal das drogas.

                      Resolvi sair de casa a procura de Venâncio. Foi a partir daí que começou minha decadência. Agora vivia no submundo e a correr atrás das “paradas”. Encontrei Venâncio drogado na Boca do Lixo. Cracolândia melhor dizendo. Precisava da droga, precisava mais que tudo. Venâncio me aconselhou a prostituir. Mas com aquela barriga não seria fácil. Mesmo assim encontrei homens para fazer um “boquete” por cinco, dez até vinte reais. Meu Deus! Que coisa horrível! Mas logo me acostumei.

                      O dinheiro era pouco. Mudei para o crack. Diziam ser uma droga devastadora. Paciência. Eu não tinha mais escolha. Estava chegando ao fundo do poço. Ao limiar da condição humana. Quando não podia usar o crack falava coisas sem sentido. Davam-me tapas na cara. Riam de mim. Vivia cercado por outros drogados. Centenas deles. Ainda bem que eram mais humanos. Risos. Sim procuravam dividir comigo o pouco que tinham. Venâncio um dia ficou desacordado. A polícia chegou e o levou. Eu ainda podia correr.

                     Comecei a passar mal em uma noite de domingo. As primeiras contrações. Um guarda civil me ajudou. Colocou-me em seu veículo e me levou até o pronto socorro das Clínicas. Deixou-me na porta e sumiu. Perguntaram-me meu nome, minha família, mas eu não sabia responder. O crack tomava conta do meu corpo. Entorpecido. Agora não via mais flores, céu azul, pássaros cantando. Agora era como se fosse meu ar que faltava.

                      Meu neném nasceu duas horas depois. Vivo. Risos. Não merecia isso, mas os médicos disseram que ele podia não sobreviver. Dei o telefone da minha mãe. Ela chorou muito quando me viu naquele estado. Meu pai mesmo o durão que era, tinha os olhos cheios de lágrimas. Cinco dias depois me internaram em uma clinica. Na cidade mesmo. Meu corpo doía o tratamento não me fazia bem. Fugi dali quatro dias depois. Com a própria roupa do hospital fui para a Cracolandia. Fumei logo quatro bolinhas. Desmaiei.

                     Eu sabia que a droga matava. Que os traficantes só pensam em dinheiro. Que a droga oferecia a morte. Mas quem acredita nisso estando drogado? Como reagir? Como acabar com essa alienação terrível? Eu era uma inculta, manobrável, consumível, descartável, distante. A porcaria me fazia bem. Nem pensava mais em meu filho. Nem sabia se era um menino ou uma menina. Sentia-me sozinha na escuridão da noite. Tomava na veia, fumava sem parar. Crack, maconha o que me dessem ou podia comprar. Nem tudo agora me satisfazia.

                    Se eu morresse ali, eu não me importaria. Não tinha mais vida, família, não tinha motivos para sair dali. Ou será que tinha? Fiquei amiga e amante de Lico Boca Torta. Ele no meio dos drogados fazia sexo comigo de todas as maneiras. Eles riam. Outros queriam participar. Uma festa e eu ali, uma maldita prostituta drogada só querendo mais e mais drogas. Minhas roupas apodreceram. Nua os guardas me levaram a delegacia. Lá risadas, escárnio. Uma baixaria sem tamanho.

                   Chamaram minha mãe. Saí correndo nua pela rua. Não conseguiram me pegar. Uma senhora se apiedou. Comprou ali mesmo um jeans com uma blusa. Não precisa de calcinha nem sutiã. Voltei para o meu lar. A Cracolândia. Um mês, dois, três. Queria dormir. Nunca mais acordar. Agora queria morrer. Nada do que fizesse tinha sentido. Nenhuma delas fazia mais efeito no meu corpo. Gritava. Sorria, cantava uma demente a vagar pelas esquinas da vida. Uma drogada isso sim.

                    Conheci Raquel. Uma assistente social. Ficamos amigas. Ela não insistia como as outras para sair dali. Ajudava-me. Trazia comida que eu comia e vomitava em seguida. Meu corpo era pele e osso. Pesava cinqüenta e nove quilos. Agora nem trinta. Trouxe roupas. Deu-me um banho na rua mesmo. Com esponjas. Raquel, meu anjo! Caída do céu! Um dia chorei, chorei muito. Deitei em seu colo. Ela me afagou. Nunca perguntou pela minha família. Nunca me forçou a nada. Era minha amiga assim, do nada. Ou será que era meu Anjo da Guarda?

                    Quando ficava mais de seis horas sem droga, meu corpo tremia uma febre alta, a garganta seca, uma lassidão tomava conta do meu ser. Não sei, mas gostava dos venenos mais lentos, drogas poderosas e quando me entupia delas meus pensamentos e minhas idéias ficavam poderosas, insanas um sentimento de liberdade. Risos. Liberdade? A noite era a minha escuridão da vida. Não era noite, era o meu dia. Zumbís a andar pelas esquinas da morte.

                    Um dia quando Raquel chegou. Chorei. Chorava em prantos. Muitos dos miseráveis que eram meus amigos acorreram a me acudir. Acharam que era a Raquel. Ela não dizia nada, só me afagava. Ela é meu anjo, minha alma, minha salvação. Resolvi pedir a ela que me ajudasse. Queria sair daquele inferno. Não tinha escolhas, que ela fizesse o que bem entender. Era seu trabalho. Beijou-me no rosto. Fechei os olhos e sonhei com minha mãe. E minha filha? Será que estava viva?

                    Ela conseguiu uma internação em uma clinica para dependentes químicos, no campo, próximo a uma cidade que não conhecia. Dirigida pelo pastor Jamilton. Ele e sua esposa eram duas almas bondosas. Ali vi que outras moças como eu tinham muitas historias. Eu as ouvia. Parecia que não havia diferença entre eu e elas. Quando cheguei ali achei que não tinha mais dignidade, valor pela vida. O vicio maldito não me abandonava. Daria tudo por uma picada. Uma só. Gritava, implorava, O Pastor Jamilton e dona Clementina ficavam ao meu lado. Dando-me forças.

                  Com uma semana diminuiu um pouco aquela vontade louca de me drogar. Mas estava longe de alcançar o ideal e voltar para minha casa. Só no segundo mês avisaram minha mãe. Tinha encorpado um pouco. Agora com trinta e nove quilos. Diferente de quando eu cheguei com vinte e três. Ela me abraçou. Meu pai também. Ficamos os três abraçados por um longo tempo. Toda semana eles vinham. Raquel também vinha uma vez por semana. Dizia que não podia ficar comigo muito tempo. Muitas outras pessoas precisavam de sua ajuda.

                 Já se passaram cinco meses. Estou com quarenta e oito quilos. Dizem que meu sorriso voltou. Dizem também que me tornei amiga de todos ali. E uma tarde chegou um automóvel. Surpresa! Bela surpresa! Venâncio tinha sido convencido por Raquel a ir para aquela clinica. Nunca aceitou, mas quando soube que estava ali, resolveu experimentar. Eu ficava ao lado dele constantemente. Autorizada pelo Pastor Jamilton.

               Um ano, dois, três e eu e Venâncio nos casamos. Ele trabalha em uma loja de calçados. O proprietário evangélico, aceitava a pedido do Pastor Jamilton ajudar as pessoas drogadas. Sabia que a maioria não ficava lá. Recebiam o primeiro pagamento e voltavam de novo para a Cracolandia.  Isto não aconteceu com Venâncio. Quatro anos depois ele era gerente da loja. Mamãe sempre trazia Neusinha para ficar comigo. Minha filha!

               Agora moramos os três juntos. Uma família feliz. Longe das drogas. Espero que seja para sempre. Não digo que nos recuperamos. Longe disso. Mas eu e Venâncio somos um só. Amamos-nos muito. E Neusinha então? Era nossa luz, nossa estrela a indicar o novo caminho. Os novos tempos que já nos deram a alegria de volta e irão sempre trazer a brisa gostosa da manhã, a respirar pela janela da minha casinha e não mais na rua suja do passado.
                Ainda lembro-me dos meus amigos que lá ficaram. Rezo por eles todos os dias. Sei que não é fácil abandonar o vicio. Muitos já terão morrido. Outros irão morrer logo. Sei que Deus na sua suprema bondade irá amparar a todos. Eles sempre terão o direito de voltar aqui de novo. Uma nova vida. Um novo recomeço. Pois assim é a vida. Nascer, viver, morrer. Nascer de novo, pois esta é a lei!

A vida de um drogado

Mais um dia...
Será que vai ser o último?
Acordo com um bófia, a pontapear-me,
Lá vou eu, ver se uns trocos consigo arranjar...
Se não me derem, vou ter mesmo de roubar...
A hora da dose ta a chegar,
Ainda tenho de arranjar dinheiro, para a ir comprar...

Hoje ta tudo de pernas pro ar
Nem uns míseros tostões consegui arranjar,
Não me sinto com forças, para esperar
Vou ter mesmo, de roubar...

Tenho o interior do meu corpo em desespero,
Aqueles bichos de baixo da pele põem-me louco,
Estou todo arranhado, esta cena dói, e não é pouco

Mais uma vez roubei
Foi muito fácil, aqui nunca pensei
A bolsa da "velha", tava recheada
Já vai dar para uma dose, bem abonada

Já ta ali o gajo, á mesma hora de sempre,
É agora menino riquinho, á conta da gente,
Enfim, andam a ganhar dinheiro desta forma indecente...

Já tenho tudo o que preciso, a colher, a prata e o limão...
E esta grande dose, toda na minha mão...

Ah! Que sensação, depois de injetar parece que sou o dono do mundo...
E sem ela, não passo de um drogado vagabundo...

Vem um homem na minha direção,
O quer ele, de mim? Que não passo de um ladrão,

Era o filho da Cota, que gamei,
Deu me tantas, que nem me levantei...
Agora estou aqui, dolorido por dentro e por fora,
E fico aqui á espera que chegue a minha hora...
Cathia Chumbo




domingo, 12 de junho de 2016

AS SETE VIDAS DE MEIRE ANNE


AS SETE VIDAS DE MEIRE ANNE

Estou na caridade da evolução do meu ser. Quero ser menina, encontro-me mulher... Quero ser mulher, vejo-me menina...

Apenas um beijo...

- Não se esquive, não diga não, imploro
Vai ser apenas um beijo, um segundo
Aceite, não é tão difícil te adoro
Você sabe, vai ser um beijo sincero
Do jeito que diz não e eu quero...

Por favor, feche os olhos e sinta,
Eu sei que também queres,
Deixe acontecer, não minta
Você tão longe, apenas ilusão
Você não está aqui, não diga não.

Vou beijar você, devagar
Apenas uma caricia uma brisa leve
Eu sei que nunca vai me amar
Claro, seria como a carícia do vento
História sem adeus, sem senso

Deixe acontecer esta fantasia
Que imaginei em beijar você um dia.
Não se esquive, por favor, não diga não
Para você nada, para mim tudo
Presa no peito, grande paixão.

Adeus... Depois de beijar você
Agora tão longe, um sonho abstrato
Vou ficar aqui olhando seu retrato
Amando você, sabendo que a fiz
E dizer ao mundo, agora sou feliz...

             
                         Brasília – 12 agosto 2007 - Precisava correr. Voar se pudesse. Teve que ficar no colégio mais tempo do que pensava. Arrumara um emprego, não podia faltar. Difícil coordenar as duas coisas, mas precisava deste emprego.  Não encontrou ônibus no ponto. Esperou mais um tempo, chegaria atrasada. Explicações, gerente de cara amarrada.
                         Entrou no ônibus. Sentou perto do cobrador. Um grande engarrafamento. É hoje pensava. Entrou um jovem mulato. Gritou com todos, sentiu uma mordida nas costas, perdeu os sentidos.
                         Acordou no hospital. Em volta amigos parentes e sua mãe. Tentou sorrir, mas sentiu uma dor aguda nas costas. Sua mãe explicou que ficara em coma dois meses. Graças a Deus que agora iria se recuperar. Não se lembrava de nada. E o colégio? E o emprego?

                        Baia de Cabrália – 22 abril 1500 - Flor do Campo estava deitada na areia branca do Grande Rio, que demarcava as terra do seu povo, a tribo dos Tupiniquins. Tinha 16 grandes chuvas e já era considerava por muitos jovens da tribo. Seu pai, o cacique Avanti Negro, ainda não tinha decido quem a levaria.

                        Flor do Campo era pura, casta e via que Pojucã sempre a olhava e sorria. Era um grande guerreiro. Trouxe várias cabeças de Tapajós na ultima batalha. Estava absorta olhando para o céu, seus cabelos negros longos e lisos espalhados na areia branca quando viu lá muito longe do grande rio, umas canoas enormes. Bem maiores que a da tribo. Achava que até boa parte dos seus irmãos índios caberiam ali.
                       Centenas de botes aportaram na praia. Flor do Campo foi correndo avisar da novidade a sua tribo. Eles eram pacatos e dificilmente atacavam a não ser quando atacados pelos Tapajós, seus piores inimigos. Toda a tribo estava ali, vendo aqueles homens barbudos, parecendo macacos, com peles em cima do corpo diferente d tribo, onde todos andavam nus.
                        Um deles se aproximou dela, a pegou pela mão e a levou selva adentro. Não pediu, estuprou-a com crueldade. Ela estava nua, anda nua. Ele a colocou de quatro e enfiou seu membro sujo com força dentro dela. Ela não entendeu. Não precisava ser assim. As índias da aldeia eram bondosas e não negariam um pedido do macaco peludo. Ele a deixou e sumiu de volta ao seu barco.
                        Durante muito tempo eles permaneceram ali. Fizeram tabas e ocas de barro, uma cruz de madeira e um deles, mais delicado com uma pele preta fina falou e falou. Flor do Campo ficara grávida. Teve uma hemorragia. Morreu numa manhã de junho. Nem seu pai quis ajudar na cremação do seu corpo. Achava que ele tinha sido maculado pelo macaco peludo e por isto morrera.

                        Brasília – 28 agosto 2007 – Meire Anne se sentia bem melhor. Conheceu seu médico salvador. Como era lindo. Olhou para ele e se apaixonou na hora. Ele educado, prestativo, examinou-a, tocou-a e ela estremeceu. Suas mãos eram como seda da pérsia. Sorriu para ela e se foi. Ficou só no quarto. Como sua vida mudara. De um momento para outro, não tinha idéia do seu futuro.
                        Ficou mais 15 dias no hospital. Seu médico vinha sempre, ela sorria, mas sabia que ele era um profissional e ela também ingênua não dava mostra de estar perdidamente apaixonada por ele. Seria um amor impossível. Não sabia se era casado, sua idade. Nada. Saiu em uma tarde de sol, sem se despedir dele. Foi para casa. Voltou a sua vida de antes. Colégio, casa, amigas mais nada. Agora era tentar outro emprego, aquele se foi.

                        Olinda – 15 de janeiro de 1774 – Cristal estava em um córrego próximo a sua casa, lavando algumas peças de roupa. Era sua rotina. Não via ninguém e ficava mais a vontade, amarrando seu vestido comprido até a cintura. Não o viu. Quando sentiu sua presença, olhou e se assustou. Era um jovem dos seus 23 anos, a cavalo com mais dois amigos. Ele sorria para ela, ela ficou tonta e não sabia o que dizer. Tinha quinze anos, e mal sabia o que era o amor.
                        Martinho era moreno, cabelos negros, grandes, amarrados em forma de “rabo de cavalo” com um blusão de couro negro, uma espada cintilante a cintura. Desceu do cavalo e se apresentou fazendo uma reverencia com seu chapéu. Ela ficou muda, estática. Nunca tinha visto isto. Os rapazes que conhecia não eram assim. Acompanhou-a até sua casa. Seu pai não estava. Não tinha mãe. Nunca soube dela. Seu pai a criara.
                        Martinho ficou sentado em um banco de madeira a porta da casa. Não disse nada. Esperava o pai de cristal. Quando chegou se apresentou, disse que estava de passagem e tinha gostado de sua filha. Ofereceu um dote de cinco libras de ouro em pó, um escravo e um cavalo se aceitassem que ela casasse com ele. Casaram naquele dia mesmo. Frei Raimundo celebrou. Ele partiu com ela a noite. A levava na garupa do seu cavalo.
                        Não fizeram amor nos três primeiros dias. Dormiam sob as estrelas e ele achava que não ficava bem. Chegaram ao Engenho de sua propriedade ao cair da tarde de sexta feira. Levou-a para o quarto. Foi educado. Fez amor com ela com carinho. Fez caricias, entrou bem devagar, ela estava com as pernas abertas, de olhos fechados. Não sentiu dor, só um prazer profundo. Ela o amou perdidamente. Durante 15 anos, tiveram uma vida feliz. Cinco filhos. Ela cuidava da casa e a noite sempre faziam amor.
                        No início de 1790, Pedro Gingado um temível bandido invadiu o engenho. Matou todos inclusive Martinho. Poupou-a. Ela preferiu ter morrido também. Arrastou-a até um tronco e a possuir com brutalidade. Penetrou-a com força no anus. Ela gritou, socou-a com força. Tapou sua boca e ela perdendo a respiração morreu.

                        Brasília – 18 outubro 2007 – Meire Anne voltava para casa cansada. Tentou uma vaga de telefonista. Ficaram de dar uma resposta. Estava desanimada. Várias tentativas de emprego e nada. No ponto de ônibus esperava. Sua vida voltara ao normal. Aquela rotina de sempre. Um carro parou e desceu um homem. Ela o reconheceu. Era seu médico. Dr. Henrique. Estremeceu. Ele sorriu e perguntou se sentia ainda alguma coisa. Ela ficou muda. Ele perguntou de novo. Ela respondeu. Ofereceu para levá-la em casa. Quando acordou estava no carro dele.
                         Desceu e abriu a porta para ela. Um perfeito cavalheiro. Foi até a porta cumprimentou sua mãe e seu irmão. Entrou para um café a convite. Ficou ali toda a tarde conversando com ela. Convidou-a para jantar a noite. Ela aceitou. Saíram muitas vezes. Ele sempre a respeitou. Nunca tentou nada. Ela tinha medo. Era casta, pura e nunca ficou com um homem.
                         Ficaram noivos cinco meses depois. Foi um casamento simples. A família de Henrique quase não compareceu. Não aceitavam aquela união. Diziam ser ela simplória, sem condições de pertencer à família. Compraram uma casinha no subúrbio. Meire Anne não cabia em si de alegria e contentamento. Sua alegria era à noite quando ele chega e a amava com carinho. Ele a ensinou coisas impossíveis. Fizeram amor de maneira nunca antes imaginada.  Com um ano de casada esperava seu primeiro filho. Henrique a enchia de carinho.

                                  
                         Rio de Janeiro - 28 janeiro – 1881 - A Condensa Ana de L’avoure e o Conde Aristides Costa Pinto, estavam em uma recepção a convite do Governador Mem de Sá. Era uma homenagem ao Imperador Don Pedro II. Uma grande festa. Serviçais serviam faisões, camarão, frangos, canapés importados da Europa, centenas de milhares de confeitos, cerveja, vinhos e bebidas sem fins. Aguardavam a chegada do Imperador. Ana de L’avoure olhava apaixonadamente para o Barão de Otéllo. Mantinham um romance escondido. Sempre se encontravam próximo a seu palácio e ali se entregavam aos prazeres da carne. Ela achava que ele era melhor que seu marido na cama. Ficavam horas e horas fazendo amor. Ele era casado e dificilmente poderia dar a Ana uma vida tranqüila. Ele não era nenhum santo.
                        Uma tarde, em um botequim no centro da cidade, bêbado, ele se vangloriava de suas conquistas. O Conde Aristides soube. O desafiou para um duelo. Não era bom espadachim. Morreu naquela manhã de domingo. O governador Mem de Sá mandou prender o Barão. Julgado foi condenado à forca. Ana ficou só com seus dois filhos. Cinco anos depois foi internada em um sanatório para loucos. Ficou lá mais dois anos. Morreu de falência múltipla dos órgãos.
               
                         Brasília – 14 novembro – 2008 – Foi um dia festivo para a família Meire Anne e Henrique. Nasceu um casal de gêmeos. Se já eram felizes agora muito mais. Mudaram para uma casa maior. Henrique fora promovido no Hospital e seu consultório era bem freqüentado. As folgas de Henrique eram poucas. Quando as tinha, saiam a passear com orgulho mostrando a todos seus gêmeos. Nivia e Javier.
                          Meire Anne começou a corresponder com um jovem na internet. Ele não se apresentava. Não tinha foto só dizia ser um admirador. Ela não saberia quem.  Recebia também cartas anônimas dizendo que seu marido a traia. Não acreditou. Preferiu manter silencio. O estranho não deixava de procurar insistentemente na internet. Aprendeu seu e-mail, e ali dizia lindos poemas, poesias maravilhosas. Nunca foi agressivo nem pronunciava palavras chulas.
                         Isto a divertia e Henrique nunca foi informado. O estranho tentava marcar encontros e ela se negava. Seu corpo estava sendo vencido. Ela pensava seriamente em encontrar com o estranho. Mas quem era? Como seria? Não era fácil tomar uma decisão. Acreditava e não acreditava na fidelidade de Henrique.
                         Marcou um encontro com ele. Procurou um horário que seus filhos estariam aos cuidados da babá e que deveria ir ao dentista. Ficou escondida atrás de uma coluna no shopping. No local combinado, na sala de alimentação o viu. Lindo. Forte, moreno sarado. Devia ser algum professor de ginástica. Não teve coragem de se aproximar, mas começou a sentir desejos, a fantasiar e sabia que mais cedo ou mais tarde se entregaria a ele.

                         São Paulo – 10 março – 1924 – O major Leôncio Silva retornava da Europa a bordo do navio Splendid. A guerra havia terminado. Ele era major aviador da FAB e servira na guerra usando aviões americanos, baseados em Bordeaux no sul da frança. Sempre fora um bom vivant e acreditava que todos o considerariam um herói e teria uma boa quantia à disposição quando confirmassem sua chegada.
                         Isto não aconteceu. Morava com seus pais e ali aproveitou as condições de uma família humilde que trabalhava menos ele. Vivia nos bordeis, bebendo e fumando, com lindas mulheres e não se cansava em auto elogiar sua fama de conquistador. Conheceu Janete quando retornava para sua casa. Era mais de três da manhã. Achou que seria uma conquista fácil e deu sua cantada. Não achou respaldo. Insistiu. Seguiu-a até sua residência.
                        Janete morava com a mãe e seu filho Hugo de cinco anos. O pai dele desapareceu e nunca mais ouviu falar dele. Trabalhava em uma lanchonete até de madrugada. Estava cansada, e aquele conquistador barato ficava na sua cola.
Isto aconteceu nos dias seguintes. Janete não sabia o que fazer. Até que ele era simpático, boa aparência, boas roupas, mas estava sempre bêbado. Não dava para conversar.
                        No quinto dia ele forçou um beijo em uma rua escura. Seu hálito era forte de cigarro e de cachaça. Ela se desvencilhou. Ela forçou mais, mesmo bêbado era forte. Ninguém para ajudá-la. Ele forçou sua boca para não gritar. Tentava tirar sua roupa, ali naquela esquina, rua suja, três da manhã. Jogou-a no chão. Obrigou-a a pegar no seu membro. Sentiu aquela carne quente na sua mão. Sentiu a mão dele por baixo de sua calcinha. Ela tateando encontrou uma farpa de madeira. Enfiou de uma só vez em seu pescoço. Ele apertou sua boca e ela perdeu o ar. Morreu em menos de um minuto. Ele sangrando saiu pela rua cantando e dando gargalhadas, andou uma quarteirão e caiu morto.

                        Brasília – 14 abril – 2010 – Meire Anne tinha um novo amante. Henrique seu esposo nada sabia. Ela ficara grávida de Fabio Alorte. Ele era filho de um comerciante português riquíssimo. Era casado e possuía três filhos. Tentava de toda sorte fazê-la largar de Henrique e morar em uma casa que ele poderia comprar. Ela não aceitava.
                        Henrique, mesmo sendo médico, morreu em 30 novembro de tuberculose. Meire Anne aceitou a oferta de Fabio. Dividia a vida dele com outra, só que ela era a segunda.

                        Buenos Aires – 19 de março – 1950 – Maria Antonia Rosada e Jonas Waldevian não tinham onde morar. Não tinham o que comer. A Argentina passava por uma fase difícil para os pobres. O Presidente Perón prometia e sua esposa dona Eva Perón era adorada por todos. Todas as noites eles iam à praça central onde era servido uma sopa. Dia sim dia não era a única refeição que conseguiam mais fácil. Jonas era mestre de obras, mas ninguém queria dar emprego a ele. Ficara preso por quatro meses por haver furtado um supermercado e seu currículo não era bom.
                        Um dia jogaram na loteria e ganharam uma boa quantia. Saíram da miséria, compraram uma casinha e Jonas montou uma loja de tecidos. Tiveram dois filhos homens. Jonas tinha cabeça para os negócios. Em pouco tempo possuía uma grande rede de lojas. Passou a não dar mais atenção a ela e tinha várias amantes.
                        Viveram assim por vinte anos. Ela conheceu outro homem. Separou-se de Jonas. Casou com o outro. Teve uma vida feliz por muitos e muitos anos. Morreu sorrindo. Pela primeira vez.

                        Brasília – 07 julho – 2010 – Meire Anne estava desgostosa. Aqueles primeiros dias com Fabio acabou. Já não sentia mais prazer com ele. Deixou-o e foi morar com seus filhos na antiga casa, pois não havia sido vendida. Leo crescera. Tinha 22 anos. Adorava sua mãe e Meire Anne também. Era uma família feliz. Leo formara em química e seu irmão ainda estava na faculdade.  Leo se interessou por política. Foi eleito vereador, deputado e finalmente senador da república. Levou sua mãe e seu irmão para um apartamento no centro de Brasília.
                        Convidado a ministro de estado, mudou de novo. Sua mãe orgulhava do seu filho. A imprensa dizia ser um dos poucos honestos e que trabalhava mesmo para o povo.
                        Seu partido resolveu lançá-lo como candidato a presidente da republica. Aceitou. Viajava por todo o pais mostrando quem era e o que pretendia fazer. Foi eleito com boa margem de voto. Voltava do Rio de Janeiro com sua mãe e seu irmão em um pequeno avião da FAB para o discurso de posse que faria no Naoum Plaza Hotel, onde se hospedara durante a campanha. 
 . O avião sofreu uma pane. Caiu na Baia de Guanabara. Morreram todos.                         
                        
                        Hoje – sem data – 2011 – As outras vidas de Meire Anne acontecerão de novo. Faz parte. Nascer, viver, morrer. Não sei o futuro. O passado foi possível contar. Meire Anne não teve muita sorte na vida.  Acreditar na felicidade levou Meire Anne por um longo tempo na caminhada para seu crescimento interior. Acredito que ainda não conseguiu.
                         Muita paz para você Meire Anne. Que os anjos a protejam na sua próxima vida.          
                            

Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.