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domingo, 15 de abril de 2012

O Gigolô, a menina virgem e o Padre Exorcista.



Menina sensível

Minha linda,
Minha menina sensível,
Garota carente!
Quero fazer de você
Uma fêmea fogosa,
Devassada,
Penetrada
Na frente e verso,
Sacudida e virada ao avesso,
Mas saciada,
E satisfeita,
Enfim
Uma mulher realizada.

E eu,
Eu serei o que você quiser.
Serei seu abrigo,
Seu aconchego,
Seu primeiro homem,
Seu conforto,
Seu amante,
Vibrante,
Um comediante,
Ator galante,
Um macho fulgurante,
De Olhar penetrante,
Seu guia ora em diante.

Serei aquele que vai lhe ensinar
A ser atrevida, fogosa e ardente,
Mas sem deixar de ser
Aquela garota sensível,
Gentil, carente,
Que trás no rosto
Um sorriso terno e meigo,
Propensa a sonhar
Com venturas sem fim...
Willian Armien
Menina sensível
O Gigolô, a menina virgem e o Padre Exorcista.

Tentei me esconder em vários lugares. Ninguém queria me ajudar. Por mais que pedisse todos me viraram as costas. Até as meninas que eu tomava conta e que pensei que gostavam de mim se viraram contra minha pessoa. Claro eu entendia o medo de todos. Cicatriz era temido no bairro. Diziam que ele tinha parte com o Demônio. Eu não pensava assim e para dizer a verdade não tinha medo dele. Maldita hora que tomei emprestado aquele dinheiro. Maldito agiota. Uma merda, uma merreca, menos de cinco mil reais. Mas o valor foi crescendo, crescendo e o filho da puta dizia que já devia a ele mais de vinte mil.

Lembro que cheguei aqui com uma mão na frente e outra atrás. Todos me achavam bonito. Lá em Santo Antonio do Monte diziam que eu podia ser ator de novela, ou até de cinema. Diziam que eu parecia com Mel Gibson. Risos. Minha mãe não gostava do meu estilo. Dizia que eu era espalhafatoso. As meninas viviam atrás de mim. Ainda não tínhamos telefone, mas os bilhetinhos e as cartas no correio chegavam aos montes. Claro, tive uma ou outra, mas sempre fui respeitador. Sabia que ali transar com alguma ou era morte certa ou então tinha de casar com uma arma nas costas junto ao delegado.

Com dezessete anos me mandei para São Paulo. Nunca mais voltei. Soube um dia pelo Limão, um caixeiro viajante que ia sempre lá que minha mãe não chorou com minha partida. Dizia que ele me amaldiçoou. Disse que nunca mais queria me ver. Bem a principio eu a esqueci. A cidade grande, os amigos, as coroas ricas que levava para a cama, faziam de mim um folgado. Eu levava um vida que pedi a Deus. Mas tudo foi só uma ilusão. As noitadas, as bebidas e eu virei um trapo. Não achava mais as mulheres ricas para sair comigo. O dinheiro começou a rarear. Tive então uma ideia, porque não arrumar algumas meninas e mostrar que eu poderia tomar conta delas?

A primeira foi a Rosangela. Uma morena linda. Um corpo lindo. Tinha um dente cariado, mas isto era fácil. Um dentista, e pronto. Conversei com Lidonio, o dono de um hotel de terceira na esquina da São João com a Rua Formosa. Ele me emprestou um quartinho, que dava para iniciar. Se o lucro conforme esperava fosse maior, alugaria outro quarto. Enquanto as meninas usavam com seus clientes eu ficava por ali de olho nelas. Sabia que tinham outros querendo aliciar para seu covil.

Marlene foi à segunda. Baixinha mas um lindo corpo. Recém-chegada de Várzea da Roça uma pequena cidade no interior da Bahia. Marli foi a terceira e última. Não era fácil meu trabalho. Muitos cliente não queriam pagar, outros achavam que podiam espancar e era a hora que tinha de agir. Marli era o tipo de mulher que eu me casaria. Mas ela nunca se interessou por mim como amante. Claro uma vez ou outra dormia com ela. Mas tudo parava por aí. Ninguém entendia meu trabalho. Para mim um trabalho como qualquer outro. Achavam que eu era um aproveitador, demagogo e explorador de mulheres. Não sou nada disto.

Uma tarde Marlene passou mal. Rosangela correu a me avisar. Levei-a em um pronto socorro. Mau atendimento. Ela ficou lá jogada as traças. Levei-a em um hospital próximo. Pediram uma caução. Dei o dinheiro que tinha no banco. Acharam que era pouco. Gritei para atendê-la e um médico me deu uma hora para ver o saldo. Já tinha ouvido falar no Cicatriz. Ele me emprestou os cinco mil. Pagar a ele em uma semana com juros de vinte por cento.

Durante quinze dias ela ficou entre a vida e a morte. Gastei o que não tinha. Cicatriz veio me cobrar, pedi mais uma semana. Ele deu. Agora dizia, devia a ele mais de dez mil. Marlene saiu do hospital e me pediu para passar uns tempos com sua mãe em Buritizeiro Minas Gerais. Não tinha como negar. Mas o dinheiro não entrava. Cicatriz me deu vinte e quatro horas. Depois iria me cortar todo com navalha. Disse que ia dar meu “pau” de graça para as pombas do Vale do Anhangabaú.

Precisava desaparecer por uns tempos. No dia anterior Cicatriz pelas costas enfiou uma faca pontuda no seu braço. Isto é só o começo, disse. Rosangela fez um curativo. Expliquei as duas que tinha de dar um sumiço. Que elas aguentassem sozinhas. Cuidado com falsas promessas de outros homens que poderiam querer me substituir. Peguei um ônibus até Guarulhos lá embarquei para Santo Antônio do Monte. Ia procurar minha mãe. Ela não negaria ajuda. Foi uma viagem cansativa. Mais de quinze horas. Bem no interior de Minas Gerais.

Havia mais de doze anos que eu tinha saído da cidade. Quando o ônibus entrou na periferia vi que nada mudou. As mesmas casas, as mesmas ruas barrentas, o coreto, a igreja, a prefeitura alguma ruas com o mesmo calçamento de pedra. Estava com uma pequena maleta e atrai a atenção de todo mundo. Ninguém parece tinha se esquecido de mim. As moçoilas na janela sorriam e piscavam o olho. A casa de mamãe era a mesma. Uma pintura amarela descascada, uma janela simples e o mesmo portão de ferro do passado.

Mamãe me recebeu com um sorriso. Oitenta e cinco anos. Agora em uma cadeira de rodas. Falava pouco. Dona Mercês era quem cuidava dela. Uma santa, pois o dinheiro que recebia da aposentadoria do meu pai não dava para nada. Mas a casa era limpinha. A roupa também.  No quintal sempre tivemos uma horta. Muito tomate, verduras, pés de mamão goiaba e tantas outras frutas que sempre tínhamos alguma não importando o mês. Cheguei sem dinheiro. Mal tinha para cobrir o gasto com um café no bar do Joca.

Os amigos não demoraram a aparecer. Alguns mais duro que eu. Fiquei um bamba na sinuca e ganhava uns trocados apostando. Divaldo foi quem me mostrou a menina virgem. Lá estava ela na praça com sua mãe do lado. – Todo dia ela vem com a mãe. Sentam no banco da praça e depois vão à igreja. Lá sempre tem muitas beatas que acreditam que ela faz milagres. Eu mesmo nunca vi, mas dona Clotilde disse que a pedra do rim sumiu depois que ela colocou a mão. Divaldo era um pândego. Não contou a verdade. Parecia um pacto de silêncio.

Prestei mais atenção na Virgem. Caramba! A danada era linda. E que rosto meu Deus! Vestia-se de branco e os cabelos cobertos por um manto também branco. Ela me olhou de soslaio. Divaldo riu e disse que podia tirar ao cavalo da chuva. Sua mãe não desgrudava dela. Mas gostei de flertar com a Virgenzinha. Fui para casa pensando que ela seria um “patuá” na cama. Como mudei Nossa Senhora! Dormi sonhando com a Virgem. Ainda não era meia noite e batiam na porta com força. Abri. A surpresa! Era a mãe da Virgem.

- O Senhor tem de vir comigo a minha casa. Ela está tomada de novo. O Demônio não a deixa em paz! Quase um ano sem ataque. Está quebrando tudo em minha casa e diz que se não for lá ele vai desgraçar minha filha! Pelo amor de Deus! Vem comigo! Não estava entendendo nada. Que diabos era o tal demônio? Mas vesti uma roupa as pressas e fui com ela. O que vi me deixou boquiaberto! Ela a Virgem estava nua na porta. Ninguém na rua olhava, pois todos se escondiam atrás das janelas de suas casas.

Seu rosto mesmo angelical tinha um que de maldade. Rosnou grosso e me disse a queima roupa – Ainda bem que veio filho de uma égua, agora você vai-me foder! E com força! Estou doida para dar para você! Deus do céu! O que era aquilo? Não era ela. Estava tomada por alguém que diziam ser o demônio. E que força descomunal! Agarrou-me pelo braço e me arrastava para seu quarto. A mãe gritava e berrava. Pelo amor de Deus, não faça isso com minha filha. Não sabia se ela falava comigo ou com o satanás que estava dentro dela.

O padre José chegou correndo. De novo Dona Maria? – De novo padre. Ela quando viu o jovem na praça começou a se transformar. Nem fomos à igreja. Ela não deixou. Vi que ia dar um espetáculo no meio da rua e corri para a casa. Lá ela se acalmou um pouco, mas tão logo escureceu o Demônio tomou conta dela. Rasgou as roupas, tirou a calcinha e ficou dançando na varada. Não sei mais o que fazer. Padre – O que fiz para merecer tudo isto?

O padre jogou água benta na virgem. Ela olhou para o padre e lhe deu um belo soco no queixo. Com tanta força que o padre caiu desmaiado de encontro à parede. A virgem não me soltava. Rasgou minhas calças, pegou no meu membro e gritou – Bota ele duro filho da puta! Duro? Nunca daquele jeito. Tentei me desvencilhar e nada. Vi encostado atrás da porta um banquinho de madeira. Peguei o mesmo e arremessei na cabeça da virgem.

Ela me soltou e sai correndo pela porta atingindo a rua. Entrei em casa e tranquei a porta. Eu tremia. E como tremia. Que diabos seria isto? Jesus Cristo me ajude, pois nunca imaginei uma coisa desta. Deitei em minha cama e custei para dormir. Acordei tarde. Abri a janela de leve. Nada na rua. Tomei um banho frio e um café bem quente e fui para o bar do Joca. Todos me cercaram. O que aconteceu? Comeu a virgem? Todo mundo sabia do acontecido.

Lembra-se do Joildes? Aquele que trabalhava no armazém do Coelho? Ela encrencou com ele. Um dia arrastou ele para a casa dela. O obrigou a foder com ela. Ela gritava e berrava. Saiu de lá correndo todo ensanguentado. “Ela cortou seu pau e ele ficou ‘cotoco”. Fugiu daqui e ninguém nunca mais o viu. Estava mesmo assustado. Menos de dois dias na minha cidade e tinha conhecido o inferno. O que fazer? Voltar para a capital era morrer na mão do Cicatriz. Ficar ali a danada ia me capar.

Nem fiquei por muito tempo no bar do Joca. Fui para casa e arrumei minha mala. Quando ia sair o ônibus estava chegando. A surpresa era grande. Nada mais nada menos que Cicatriz nele. O desgraçado deve ter descoberto com as meninas onde eu estava. Não saí de casa naquele dia. Quando amanheceu soube do ocorrido. Ela viu o Cicatriz. Agarrou-o e levou para a casa dela. Dizem que ficou “comendo” ele a noite toda. De manhã ele saiu correndo com a mão no saco. Sangue prá todo lado.

Não sei para onde foi. Nunca mais o vi. Voltei para São Paulo. Minha vida voltou ao normal. Agora fazia boas economias. Abri uma firma fictícia. Só para registrar as meninas e dar a elas um plano de saúde. Quando souberam disto as outras começaram a me procurar. Agora agenciava mais de dez meninas. Arrumei um contador. A firma ia de vento em popa. Cicatriz sumiu. A virgem nunca mais a vi, pois não voltei mais a Santo Antônio do Monte. Acho que lá os rapazes são todos capados. Que se fodam.

Contaram-me depois, muito tempo depois que o padre fugiu da cidade. Também sem saco. Risos. O Coronel Fagundes da Fazenda Córrego D’água comeu ela e não deixou que cortassem seu saco. Acho que o demônio apaixonou pelo coronel. Anda com ela de braços dados pela rua e ela dá grandes gargalhadas. Eu perdi o tesão por um bom tempo. Só de pensar cortarem meu saco ele murchava.

Ainda estou solteiro. De vez em quando dou uma ou outra nas minhas meninas. Aos poucos vou voltando a acreditar que nenhuma delas é a virgem de Santo Antônio do Monte. Que Deus me ajude. Sei que mamãe ainda está viva, mas não pretendo voltar lá nunca mais. Se tem uma coisa que preso muito é meu saco!

O final a pensar

Virgem! Filha minha
De onde vens assim
Tão suja de terra
Cheirando a jasmim
A saia com mancha
Da flor carmesim.
E os brincos da orelha,
Fazendo tlintlin?
Minha mãe querida
Venho do meu jardim,
Onde a olhar o céu
Fui, adormeci.
Quando despertei
Cheirava a jasmim.
Que um anjo esfolhava
Por cima de mim...

Vinicius de Morais.