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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Réquiem para um incerto maldito.



Não tenho medo do frio, não tenho medo de nada
Não tenho medo da vida e com ela me sinto forte,
Minha vida é tristonha, talvez a chuva molhada
Lembra-me do meu pavor, o choro da madrugada
Só a solidão me apavora, por isto não tenho sorte
E repito mil vezes se preciso, eu não tenho medo da morte
Osvaldo, um escoteiro

Réquiem para um incerto maldito.

                  Eu tinha 16 anos quando matei meu pai. Não se assustem. Ele merecia. A morte para ele foi até um bálsamo. Eu devia tê-lo capado como se capa uma porca no chiqueiro quando o matei. Não sei se éramos uma família feliz. Não sei mesmo. Eu minha irmã mais velha e a minha mãe estávamos sempre juntas. Quando meu pai vinha da lida na roça, nós ficávamos apavoradas. Meu pai estuprou minha irmã quando ela fez onze anos. Minha mãe não pode fazer nada. Ele a amarrou no pé do Juazeiro que tinha em frente de casa. Eu ele não se preocupou. Tinha apenas seis anos.

                 Dizem que tudo tem uma primeira vez, depois a culpa não mais existe. Torna-se uma rotina. Meu pai fez de minha irmã, uma puta particular. O ódio começou a tomar conta de mim já com meus sete anos. Minha mãe tentou tudo, mas não conseguiu nada. Só perder todos os dentes da boca, devido à sova que levava todos os dias. Minha irmã ficou prenhe e quando nasceu seu menino, ela não aguentou e morreu ao dar a luz. Meu pai pegou o bebê e o jogou nas águas do rio Curimataú. Nem soube se ele estava vivo. Se estava às piranhas o comeram vivo.

                 Nosso vizinho mais próximo ficava a mais de vinte quilômetros. Meu pai plantava mandioca, abobora na barranca do rio, tínhamos um pouco de feijão que ele cultivava na larga do capão redondo. Ali também tinha milho e um pouco de arroz. Soltas em no pasto, oito vacas nos dava o leite do dia. Ovos não faltavam, as galinhas ciscavam em volta da casa. O rio era piscoso. Não passávamos fome, mas ele tinha outra fome. Insaciável. Não dava sossego a Barbara. Era de manhã, de tarde e de noite. Um dia pegou uma vara grossa de marmelo e bateu em minha mãe até ela morrer implorando perdão. Perdão não sei de que.

                 Nessa época tinha feito 10 anos. Meu ódio já existia e eu o olhava como se olhava um monstro. Não sabia que monstro era. Eu não conhecia nenhum, mas tinha ouvido falar.  Não aprendi a ler e nem escrever. Meu pai enterrou mamãe junto a Barbara, lá bem próximo à curva das cinco pontes. Não, claro que não havia pontes. Nem sei por que esse nome. Ninguém estranhou. Ninguém deu falta de mamãe e da minha irmã. Não recebíamos visita. Todos tinham um enorme medo de papai.

                 Na primeira noite que fiquei sozinha com ele, ele se embebedou de cachaça. Pegou-me pelos cabelos, rasgou minhas roupas e me comeu como se comesse uma franguinha no mato. Gritei de dor. O maldito nem aí. Quando ele entrou em mim, que dor dos infernos! Filho da Puta eu penso até hoje. Dez anos. Violentada pelo próprio pai. Virei daí em diante, a nova puta de papai. Onze anos, doze, treze e engravidei. Meu neném nasceu e ele o pegou ainda sujo do meu útero. O pobre ainda chorava quando meu pai o jogou no rio. Implorei para não fazer isso. Mas ele nem ligou. Deu-me um chute no rosto. Parei de chorar. Agora não falava mais nada. Não valia a pena.

                  Quando fiz dezesseis anos, resolvi acabar com a vida dele. Chegou da lida, pegou a garrafa de cachaça e bebeu feito um porco. Eu sabia como era. Todos os dias a mesma coisa. Se embebedava e vinha me comer. Sem banho, sujo fedendo feito macaco prego do peito amarelo. Naquele dia fingi que gostava, ele estranhou. Disse-me até umas palavras carinhosas. Trouxe mais cachaça. Ele bebeu e ria babando no seu corpo nu. Ficou desfalecido na cama. O arrastei até o pé de Juazeiro e coloquei óleo e querosene que usávamos para as lamparinas, e risquei o fósforo com prazer.

                 Ele berrava de dor, tentou levantar, mas estava muito bêbado e eu tinha um pau enorme e grosso nas mãos. Dei nele uma cacetada e ele desmaiou queimando como se queima a roça abandonada. Ele ainda gemia e eu sorria. Por minha mãe, por Barbara dizia. Pelos bebês que você jogou para as piranhas. Quando o fogo se apagou ele ainda não tinha morrido. Peguei a faca de cozinha e cortei o membro dele. Ainda deu um grito estridente. Agora sim, estava morto. O joguei no rio para as piranhas. Não merecia um enterro decente.

                 A vida mudou para mim. Estava agora sozinha. Não tinha idéia do que devia fazer. Meu nome é Branca, minha mãe dizia que significava luminosa, brilhante e eu era uma moça receptiva e otimista. Não sei. Não era nada disto. Eu nunca tive vida própria. Fui até a roça de papai e vi que podia colher muita coisa. Não sabia plantar, mas eu iria aprender. Aprender? Afinal será que ia ficar ali sozinha de novo? Cheguei à conclusão que devia partir. Para onde não sabia. Mesmo assim fiquei mais oito meses sem saber aonde ir.

                Modesto apareceu pela manhã, assim, como se não quisesse nada. Disse que estava de passagem. Perguntou pelo meu pai e minha mãe. Disse mentindo que tinham ido a Lázaro Feliz fazer compras. Lázaro ficava a vinte e dois quilômetros e a pé, quando meu pai ia até lá, demorava dois dias para voltar. Ele apeou do cavalo mesmo sem eu o convidar. Pediu-me um gole d’água. Eu já sabia no que ia dar. Afinal ainda era bonita. De pele clara, cabelos castanhos, seios desenvolvidos, um belo corpo para os meus dezessete anos.

                Ele entrou em casa sem me pedir e me chamou dizendo que ia me comer. Eu podia dar para ele sem reclamar ou a forma, a decisão era minha. Outra vez? Pensei. Modesto era forte, muito. Eu não tinha como lutar com ele. Fingi aceitar. Fui até a cama da cozinha, ele tirou a roupa, ficou nu com um membro enorme balançando. Sorri para ele, e comecei a tirar a roupa, disse que antes tinha de lavar o que ele queria. Ele riu. Fui até o gaveteiro, tirei uma enorme faca de capar e limpar porco. Tirei a roupa e com a faca escondida nas costa com a mão me aproximei dele sorrindo. Ele ria, agora sim deve ter pensado. Vou comer essa linda menina!

                 Modesto Foi comer a mulher do capeta. Lá nas profundas do inferno! Enfiei a faca nele sem dó. Cortei seu pescoço como cortava as galinhas quando eram preparadas para o almoço. Ele deu um grito só e o sangue espirrou para todo o lado. O arrastei até o rio. Coitado do rio Curimataú. Não fazia nada só nos ajudava e tinha que aguentar aquelas “porqueiras’ que eu jogava em suas águas”.

                  Eu já sabia onde papai guardava suas reservas financeiras. Tinha mais de oito mil reais. Um dinheirão. O filho da mãe não gastava e vendia sempre uma vaquinha, um boizinho e nunca nos deu nenhum conforto. Parti em uma manhã de junho. Cheguei à noitinha em Lázaro feliz. Soube que um ônibus partiria às onze da noite para Salvador. Uma viagem gostosa, nunca tinha andado de ônibus. Dez horas de viagem e amanhecemos na capital da Bahia.

                  Espantei-me com a cidade, linda, casas e prédios. Procurei uma pensão e me instalei. Meu dinheiro eu guardei a sete chaves. Debaixo da cama abri um buraco, enterrei numa lata de doce vazia. Fiquei só com duzentos reais. Dormi até tarde. Para dizer a verdade não lembrava mais de nada do que me tinha acontecido. Aqueles dois que matei mereciam. Se tivesse de prestar contas, seria a Deus o meu protetor. O diabo que fosse para os infernos. Risos, me esqueci de que ele morava lá.

                   Seis meses de Salvador, já conhecia a cidade e muitos homens me procuravam, mas eu não me interessei por ninguém. Arrumei um emprego de Gari. Foi ótimo. Fiz muita amizades. Uma noite Marcelinha me convidou para uma festa de aniversário próximo a casa dela. Fui apesar de que não gostava muito de festas. Um homem loiro, até bonito não tirava os olhos de mim. Marcelinha me disse que era Frances. Falava mal o português. Estava de férias e ia voltar para a França daí a uma semana.

                 Aceitei seu convite para sair. Gerard era educado. Muito. Nunca vi ninguém assim. Dizia estar apaixonado por mim. Eu não sabia o que sentia. Uma tarde antes de ele partir me levou a um motel. Foi calmo, amoroso, acho que até gostei do que fizemos. As dores que sentia de meu pai desapareceu. Quando saímos do motel disse que queria casar comigo. Eu iria com ele para a França.               Não devia ter aceitado, mas minha amiga tanto insistiu, dizia que eu seria uma Lady ou uma Mademoiselle. Eu nem sabia o que era isso. Mas lá fui eu com Gerard. Que viagem. Uma maravilha. Adorei a viagem de avião. Primeira classe, as moças sempre perguntando o que eu queria. Em París ele me levou a diversos lugares lindos. O Museu do Louvre, o Chateau de Versailles, A Torre Eiffel, o Arco do triunfo, a Basílica de Sacre Coeur. Mas o que mais me encantou foi o Jardim de Luxembourg, um dos mais bonitos de Paris. As flores, as cores delas estavam lindas. Tudo florido. Muita gente sentada nas cadeiras observando. Fiquei ali estática, sem nada dizer.

                 Uma moça ignorante, analfabeta, vivendo aquilo sem saber o que era, foi como um conto de fadas as avessas. Ficamos em Paris uma semana e partimos para Colmar. Seria onde iríamos morar. É uma pitoresca cidadezinha francesa, situada na alsácia bem pertinho da divisa com a Alemanha. Não merecia aquilo. Deus me deu o que eu não podia ter. Gerard me tratava como uma princesa. Sabia que eu era analfabeta e me prometeu ensinar a ler. Claro, seria em Frances.

                 Mas nem tudo que é doce dura para sempre. No segundo mês de casada Gerard foi até Stuttgart na Alemanha a serviço. Gerard era advogado e sempre tinha coisas a resolver fora de Colmar. Ah! Destino. Ele me persegue. Não quer que eu seja feliz. De novo um vizinho gordo, feio e claro, bêbado bateu a porta da minha casa. Abri e ele entrou sem pedir. Eu já o conhecia e educadamente o cumprimentava. Acho que ele não entendeu.

                 Tirou o membro para fora e disse para eu pegar. Fazia gesto, eu horrorizada tentei sair pela porta correndo. Ele não deixou. Apesar de gordo era forte. Só sabia dizer - Puta brasileira. Puta brasileira. Arrastou-me até o quarto, era no andar de cima. Um lance de escada, ele escorregou e caiu com a cabeça no piso. Morreu na hora. Sai gritando chamando os vizinhos. A polícia chegou. Levaram-me presa.

                   Eu estava em minha casa, me defendi e fui presa. Mas acho que merecia, matei meu pai e o homem que tentou me estuprar pela segunda vez. Agora não. Eu sabia que era inocente. Nem encostei-me ao “leitão bêbado Frances” Ele caiu de bebida no bucho. Gerard tentou entender. Mas não sei se entendeu. Acho que ele acreditava que eu queria alguma coisa com o vizinho, pois só assim ele entraria na casa. Ele até que foi condescende. Pagou um advogado, pois ele não queria me defender.

                    Fui condenada a 18 anos de cadeia. Sem direito a sair mesmo com bom comportamento. Estou aqui há 15 anos. Falta somente três. Fiz muitas amigas aqui na prisão. Todas elas me disseram que poderiam me ajudar quando eu saísse. Eu não sabia se ia voltar para o Brasil. Acho que lá o passado poderia voltar. Gerard nunca me visitou. Uma amiga de cela ficou marcada em meu coração. Rosália era natural de San sebastian, uma cidade localizada a beira mar no golfo de Vizcaia, no norte da Espanha. Ela dizia que era linda. Lembrei-me de Salvador.

                    Quando sair, irei morar lá com Rosália. Ela nunca me disse o que fazia e nem perguntei. Mas acredito que depois de tudo que passei, mereço uma vida melhor e vou lutar por isto. Sei que não será fácil, mas eu vou conseguir. As lembranças do passado já estão sendo esquecidas. Meu pai e Modesto devem estar juntos se abraçando com o demônio, pois nunca mais voltaram a me importar com pesadelos. Não posso dizer que Deus os tenha. Mas digo com prazer, que o tinhoso, o maldito, o coisa-ruim e o lúcifer das trevas proteja-os para nunca mais sair deste fogo dos infernos.

Futuro?
Uma palavra muito difícil de dizer diante do presente, pois não sabemos o que vai acontecer diante dele para existir esse tal de futuro. Pode ser que tenha planejado ele, mas de uma hora prá outra todas suas idéias podem mudar.
Quem já não pensou como vai ser? Se realmente vai ser do jeito que pensou? Mas isso só Deus sabe, não é a gente que decide.
Existem várias formas de fazer um futuro, como pensar o que vai ser da minha vida profissional, meu casamento, filhos e por aí vai...
Sendo que primeiro na nossa vida temos que ter o presente, para depois termos um futuro, e isso não é uma vidente que vai descobrir. Você mesmo pode fazê-lo e também escolher quem vai estar nele junto com você.
Para isso é só ter força de vontade e ser feliz, para que seu esperado futuro seja tranqüilo e seguro. E pensar que o futuro sempre está começando agora.

Eliene – blog – Vejo o mundo de outra maneira.

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