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sábado, 17 de maio de 2014

O estupro de Mary Jane.


O estupro.
A tarde consumida nojenta
Hipócrita mal servida deixa
No ar sensação de culpa.

Sexo abrupto perverso, mal feito!
Corpo lacerado humilhado, caído
Na sarjeta da indignação!

Dignidade ferida agonizante
Ato apavorante! À tarde segue
Consumada deitada morta-viva
Chorosa. Nas pernas da noite
O covarde, saindo escondido
Impune e sorrindo!
P. Coelho.

O estupro de Mary Jane.

        A cidadela amanheceu sorrindo. Mary Jane tinha sido estuprada. Todos chegavam as porta para celebrar o acontecido. Nos bares e restaurantes não se falava outra coisa. As lavadeiras de plantão que jogaram pragas agora estavam satisfeitas. Até mesmo o padre achou que estava na hora. Afinal Ela não foi culpada? Na prefeitura só se falava no estupro. O prefeito cancelou uma reunião para se reunir com Dona Santinha sua secretária para saber de tudo. Queria saber como foi, quem foi se ela gostou e Dona Santinha alimentava a mente depravada do prefeito. Pudera ela sabia como ele era. Sabia que quanto mais ela contasse mais sua excitação aumentava. E quem sabe eles ali naquele escritório enorme não poderiam simular um cena de estupro? A mente do prefeito fervilhava, Dona Santinha contava e gemia baixinho. Seria o máximo. Nunca fizeram aquilo no escritório.

           O barbeiro Elizeu contava para seu freguês Dionísio. - Você não acha que ela sempre quis? Dionísio ria e babava de lado com o acontecido. Pensava como ela era “gostosa”, provocante e sensual. Uma “bunda” sem igual. Devia ter sido uma “trepada” dos infernos. Manolo na praça dizia saber quem foi o estuprador, uma turma enorme se formou em sua volta. Inventou tantas mentiras que a maioria resolveu ir embora. Seu Geraldo Nicodemos não participava daquela farra. Ele tinha uma filha da idade dela. Nunca desejou isto para mulher nenhuma. Quem mais sentia era Valdinho da venda do Chico. Ele sempre sonhava com Mary Jane. Eram sonhos bons, sonhos onde ambos passeavam nos jardins das Camélia, atrás do parque São Judas Tadeu. Era o lugar preferido dos namorados que iam ali fazer juras de amor. Ela nunca ligou para ele e se ela o quisesse lhe daria todas as estrelas do céu.

          O estupro foi o fato do dia da semana e do mês. Cidade pequena gente fuxiqueira isto serviu para que os dias fossem mais diferentes que os outros. Todos se assustaram quando ficaram sabendo que Mary Jane foi encontrada amarrada na Árvore do Sonho da Rua do Esplendor as seis da manhã. Ela estava desmaiada e nua. Muito machucada, manchas e sangue seco espalhavam-se pelo seu corpo. Em cima dela, pregado na árvore um aviso preso por papelão – “E assim que tratamos as prostitutas”! Fartei-me, mas ela não é tanto o que dizem! – Foi Zózimo soldado quem a desamarrou. Ela gemeu quando caiu ao chão. Ele mesmo chamou a ambulância, mas uma centena de moradores que ficaram sabendo correram para ver. Ninguém tinha pena todos queriam ver o corpo dela. Uns prestavam atenção em suas nádegas outros queriam ver mais entre suas pernas. Ninguém acorreu para lhe dar um cobertor ou lençol para se cobrir. Estava exposta para todos.

          Mary Jane ficou cinco dias internada. Ninguém foi visitá-la. Parecia que suas amigas fugiam dela como o diabo foge da cruz. Ela morava sozinha desde que sua mãe morreu. Na escola atraia os olhares e na rua todos ficavam estupefatos com um rosto de anjo, os cabelos dourados cacheados, um busto sem igual. Com seu andar rebolado, com sua saia curtinha, com seu decote na blusa não tinha nenhum homem quem deixava de olhar para ela, dizer “hô! Gostosa”! Assovios eram aos montes. Ela ria baixinho. Todos diziam que ela dormia com a rapaziada toda. Na verdade Mary Jane não tinha namorado e era virgem apesar de que muitos viviam correndo atrás dela. Uma vez Jonny Bonito fez uma aposta alta. - Cem mil que eu a “como” em uma semana. E vou passear com ela por toda a praça de braços dados e beijando sua nuca! O dinheiro rolou no bar do Grilo. Mesmo falando alto com todos, ele garantiu que passou ela no papo várias vezes e ninguém acreditou. O caso da aposta foi parar na policia. Jonny Bonito teve que entregar o dinheiro. Dinheiro que não era dele e sim do seu Avô Comandante Sampaio.                     

           Quando saiu do hospital Seu Geraldo Nicodemos aconselhou que ela desse “parte” na polícia. – Não vale a pena Seu Geraldo. Eu conheço os praças e o sargento. Eles vão é rir quando chegar lá e o que o delegado vai dizer? Ele sempre me cantou por onde me via ou me encontrava. Achava que era por ser um homem da lei e eu devia ir para cama com ele. Nunca me viu como uma filha, um Velho nojento e sabia que eu era menor de idade. Eu tinha certeza que se fosse lá ele ia ficar olhando para minhas pernas me pedir para mostrar onde o estuprador bateu. Mary Jane caminhou seis quarteirões até sua casa. Não aceitou carona de ninguém. Conseguiu com a enfermeira Josiane uma saia e blusa para vestir porque nenhuma de suas amigas ousou lhe visitar e oferecer para ajudar. O povo como sempre estava nas janelas, nas portas e nos bares os olhares gulosos queriam ver onde o “felizardo” passou a mão.

          Não se sabe como dois dias depois chegou uma Delegada Federal na cidade. Parece que um jornal da capital publicou e ela uma feminista e defensora das mulheres não queria deixar passar de “barato” aquele fato. – Chega de dizer que a mulher é culpada. Se ela gosta de usar saia curta, se anda rebolando ou se tem blusa decotada é seu direito. Ninguém pode julgar que ela quer atrair os homens. Delegada Fabíola era famosa na capital. Prendeu um mundão de gente principalmente os “salafraios” como ela dizia. Foi ela quem sugeriu que as mulheres usassem uma agulha nos metrôs e ônibus. – Sem alguém te quiser “enconchar” mete a agulha no troço dele. Deixa-o gritar e berrar de dor e o resto deixa comigo! Era valente a danada da delegada. Chegou com o carro da policia cantando pneu. Entrou direto na delegacia. Ninguém soube dizer explicar o que ela queria e um praça a levou até a casa de Mary Jane. Esta a recebeu com um pé atrás. Por mais que ela tentasse mostrar que era amiga de Mary Jane não conseguiu nenhuma pista que levasse ao estuprador. Ela calou-se e a delegada desistiu.

        - Se ela não quer paciência. Doutora Fabíola retornou a capital não antes de prevenir o Delegado que ele era responsável. Se ele não descobrisse quem fora o culpado e se houvesse outro caso ele seria exemplarmente punido. Depois da visita da Delegada e quando souberam o que ela disse ao delegado os machões da cidade se calaram. Mary Jane não recebia mais assovios e ninguém gritava “gostosa”! Foi um período de calmaria até que de novo todos ficaram em polvorosa. Ninguém acreditava no que via. Nada mais nada menos que Jonny Bonito amarrado em uma árvore, de cabeça para baixo, totalmente nu, e dava para ver um punhal enfiado no seu anus, diversas agulhas enormes atravessadas em seu membro, um lado do seu escroto cortado à faca e sem a língua. Ela foi cortada em fatias e colocadas junto com seus dedos em um papel jornal na calçada.

        Claro que em cima tinha também um aviso pregado em papelão e que dizia – “Esta é a sina do estuprador”. Ele sempre mereceu! Desta vez o delegado se mexeu, afinal Jonny Bonito tinha família importante. Se ele não tomasse providencias iria pagar o pato sem duvida. Quem poderia ser? Seria ele o estuprador de Mary Jane? Mas ela uma menina de 16 anos, magrinha nunca podia nem ao menos segurar Jonny Bonito um homenzarrão de um e noventa com mais de cem quilos. E que de lá fazer o que fez! Mesmo assim ele foi até a casa de Mary Jane. Bateu e bateu e nada. A porta estava aberta. Ele entrou e não viu ninguém. As roupas de Mary Jane tinham sumido. Ele deduziu que ela partiu da cidade. Para onde? Ninguém nunca soube. Seu destino, o que fazia onde morava ficou guardado a sete chaves. Só uma mulher sabia, Dona Valdete. Todos diziam que ela era um fantasma, uma vampira que saia a noite para beber sangue humano. Claro era um folclore e ela gostava quando a chamavam de feiticeira do mal. Tinha todo o aspecto. Só faltava o chapéu cônico.

           Nas poucas vezes que andava pela rua e sempre à noite, usava um vestido longo preto, os olhos pintados de negro, cabelos enormes presos atrás. Poucas pessoas a visitavam há não ser aqueles que queriam fazer alguma maldade ou bruxaria com alguém. Ninguém viu quando Mary Jane entrou em sua casa depois da meia noite. Ficou por lá mais de duas horas. Mary Jane saiu com um embrulho pequeno e uma porção de um remédio que diziam lhe dobrar as forças. Dizem as almas do outro mundo que ela no dia seguinte sorriu para Jonny Bonito. Este um idiota perfeito a seguiu de novo. Não acreditou quando ela no quarto ficou nua, e começou a dançar em sua frente. Jonny Bonito com os olhos esbugalhados não queria acreditar. Ele sabia que ela o tinha reconhecido como seu estuprador. Jonny Bonito achou que desta vez ela ia gostar, adorar e não gemer de dor como fez antes. Ele não queria ter dado uma surra nela. Achou que não precisava, bastava ela abrir as pernas e colaborar. Mas não, ela se fez de virgem, gritou cuspiu nele e Deus sabe quer ele precisava comer aquela maldita.

             Agora era outro momento, um momento sublime. Ela deitou na cama de pernas abertas. Não tinha jeito ele correu e a abraçou. Sentiu uma picada no braço e em questão de segundos seu corpo ficou paralisado. Nada se mexia. Ele via tudo e sentia dores terríveis quando ela começou a “trabalhar” em seu corpo. Quando ela cortou sua língua ele deu um urro tremendo, mas não saiu nenhum som. Quando ela cortou dedo por dedo das duas mãos com um alicate grande ele achou que ia morrer. Quando ela cortou uma parte do seu escroto e viu um ovo saído ele implorou a tudo neste mundo e no outro que o salvasse. Depois calmamente ela enfiava em seu membro uma enorme agulha. De um lado a outro. Ele perdeu a conta de quantas agulhas foram e perdeu o sentido. Ainda bem que estava desacordado quando ela o transpassou com um punhal em seu anus. Ninguém a viu arrastando o filho da mãe pela calçada. Eram duas da manhã. Com uma corda o prendeu pelo pé e com muito sacrifício o levantou até uma altura considerada.

               Ela já tinha previsto tudo. Saiu da cidade por volta das três da manhã com uma mala e uma mochila. Tinha um bom dinheiro, pois sua mãe quando morrera lhe deu uma boa quantia e a senha e o banco estava anotado em um caderninho. Andou por onze quilômetros até a estrada federal. Lá pegou o primeiro ônibus para Vitória e de lá embarcou em um navio cruzeiro pelo Caribe. Já tinha comprado às passagens. Nunca mais voltou. Em Curaçao resolveu fazer seu novo lar. Comprou uma pequena loja de presentes e dizem os que por lá passam que ela se casou com um dinamarquês loiro lindo de morrer e viveram felizes para sempre!  

“O estupro juntamente com os maus tratos das crianças constituem os atos de maiores perversidades da espécie humana e somente cabíveis, na mente doente dos covardes”.

Estupro
Vivia sempre alegre pelos cantos da cidade
Todos que a viam se contagiavam com sua felicidade
De onde viria toda aquela alegria?
Qual seria o motivo pelo qual ela sorria?
Era quando fazia sol e também quando chovia
Os seus sonhos sempre alegre perseguia
E o sorriso de seu rosto nunca desaparecia
Até que um dia triste surgiu
E fui capaz de ver algo que vindo dela ninguém jamais viu
Eu a vi chorando e aquilo me assustou
Fui logo perguntando o que a amedrontou
Com uma voz distante ela mencionou
Uma história triste que me emocionou
Segunda ela um homem estranho a abordou
E daqui pra frente é o que ela me falou:
“Tirou de mim o que eu guardava
Para o amor que esperava
Levou com ele a minha esperança
De formar somente com um único homem a aliança
De dois corpos unidos que se amam
E que de amor até morrerem os dois se chamam”
O meu mundo desabou com tamanha crueldade
Como pode um ser humano ser capaz de tal maldade?
Destruiu daquela moça toda a sua dignidade
Levou seus sonhos, esperanças e também a felicidade.

Rafael Muniz. 

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