AS SETE VIDAS DE MEIRE
ANNE
Estou na caridade da evolução do meu ser. Quero ser
menina, encontro-me mulher... Quero ser mulher, vejo-me menina...
Apenas um beijo...
- Não se esquive,
não diga não, imploro
Vai ser apenas um
beijo, um segundo
Aceite, não é tão
difícil te adoro
Você sabe, vai ser
um beijo sincero
Do jeito que diz não
e eu quero...
Por favor, feche os
olhos e sinta,
Eu sei que também
queres,
Deixe acontecer, não
minta
Você tão longe,
apenas ilusão
Você não está aqui,
não diga não.
Vou beijar você,
devagar
Apenas uma caricia
uma brisa leve
Eu sei que nunca vai
me amar
Claro, seria como a
carícia do vento
História sem adeus,
sem senso
Deixe acontecer esta
fantasia
Que imaginei em
beijar você um dia.
Não se esquive, por
favor, não diga não
Para você nada, para
mim tudo
Presa no peito,
grande paixão.
Adeus... Depois de
beijar você
Agora tão longe, um
sonho abstrato
Vou ficar aqui
olhando seu retrato
Amando você, sabendo
que a fiz
E dizer ao mundo,
agora sou feliz...
Brasília – 12 agosto 2007 - Precisava
correr. Voar se pudesse. Teve que ficar no colégio mais tempo do que pensava.
Arrumara um emprego, não podia faltar. Difícil coordenar as duas coisas, mas
precisava deste emprego. Não encontrou ônibus
no ponto. Esperou mais um tempo, chegaria atrasada. Explicações, gerente de
cara amarrada.
Entrou no ônibus.
Sentou perto do cobrador. Um grande engarrafamento. É hoje pensava. Entrou um
jovem mulato. Gritou com todos, sentiu uma mordida nas costas, perdeu os
sentidos.
Acordou no hospital.
Em volta amigos parentes e sua mãe. Tentou sorrir, mas sentiu uma dor aguda nas
costas. Sua mãe explicou que ficara em coma dois meses. Graças a Deus que agora
iria se recuperar. Não se lembrava de nada. E o colégio? E o emprego?
Baia de Cabrália – 22
abril 1500 - Flor do Campo estava deitada na areia branca do Grande Rio, que
demarcava as terra do seu povo, a tribo dos Tupiniquins. Tinha 16 grandes chuvas
e já era considerava por muitos jovens da tribo. Seu pai, o cacique Avanti
Negro, ainda não tinha decido quem a levaria.
Flor do Campo era pura,
casta e via que Pojucã sempre a olhava e sorria. Era um grande guerreiro. Trouxe
várias cabeças de Tapajós na ultima batalha. Estava absorta olhando para o céu,
seus cabelos negros longos e lisos espalhados na areia branca quando viu lá
muito longe do grande rio, umas canoas enormes. Bem maiores que a da tribo.
Achava que até boa parte dos seus irmãos índios caberiam ali.
Centenas de botes
aportaram na praia. Flor do Campo foi correndo avisar da novidade a sua tribo.
Eles eram pacatos e dificilmente atacavam a não ser quando atacados pelos
Tapajós, seus piores inimigos. Toda a tribo estava ali, vendo aqueles homens
barbudos, parecendo macacos, com peles em cima do corpo diferente d tribo, onde
todos andavam nus.
Um deles se aproximou
dela, a pegou pela mão e a levou selva adentro. Não pediu, estuprou-a com
crueldade. Ela estava nua, anda nua. Ele a colocou de quatro e enfiou seu membro
sujo com força dentro dela. Ela não entendeu. Não precisava ser assim. As
índias da aldeia eram bondosas e não negariam um pedido do macaco peludo. Ele a
deixou e sumiu de volta ao seu barco.
Durante muito tempo
eles permaneceram ali. Fizeram tabas e ocas de barro, uma cruz de madeira e um
deles, mais delicado com uma pele preta fina falou e falou. Flor do Campo
ficara grávida. Teve uma hemorragia. Morreu numa manhã de junho. Nem seu pai
quis ajudar na cremação do seu corpo. Achava que ele tinha sido maculado pelo
macaco peludo e por isto morrera.
Brasília – 28 agosto 2007
– Meire Anne se sentia bem melhor. Conheceu seu médico salvador. Como era
lindo. Olhou para ele e se apaixonou na hora. Ele educado, prestativo,
examinou-a, tocou-a e ela estremeceu. Suas mãos eram como seda da pérsia.
Sorriu para ela e se foi. Ficou só no quarto. Como sua vida mudara. De um momento
para outro, não tinha idéia do seu futuro.
Ficou mais 15 dias no
hospital. Seu médico vinha sempre, ela sorria, mas sabia que ele era um profissional
e ela também ingênua não dava mostra de estar perdidamente apaixonada por ele.
Seria um amor impossível. Não sabia se era casado, sua idade. Nada. Saiu em uma
tarde de sol, sem se despedir dele. Foi para casa. Voltou a sua vida de antes.
Colégio, casa, amigas mais nada. Agora era tentar outro emprego, aquele se foi.
Olinda – 15 de janeiro de 1774 – Cristal
estava em um córrego próximo a sua casa, lavando algumas peças de roupa. Era
sua rotina. Não via ninguém e ficava mais a vontade, amarrando seu vestido
comprido até a cintura. Não o viu. Quando sentiu sua presença, olhou e se
assustou. Era um jovem dos seus 23 anos, a cavalo com mais dois amigos. Ele
sorria para ela, ela ficou tonta e não sabia o que dizer. Tinha quinze anos, e
mal sabia o que era o amor.
Martinho era moreno,
cabelos negros, grandes, amarrados em forma de “rabo de cavalo” com um blusão
de couro negro, uma espada cintilante a cintura. Desceu do cavalo e se
apresentou fazendo uma reverencia com seu chapéu. Ela ficou muda, estática.
Nunca tinha visto isto. Os rapazes que conhecia não eram assim. Acompanhou-a
até sua casa. Seu pai não estava. Não tinha mãe. Nunca soube dela. Seu pai a
criara.
Martinho ficou sentado
em um banco de madeira a porta da casa. Não disse nada. Esperava o pai de
cristal. Quando chegou se apresentou, disse que estava de passagem e tinha
gostado de sua filha. Ofereceu um dote de cinco libras de ouro em pó, um
escravo e um cavalo se aceitassem que ela casasse com ele. Casaram naquele dia
mesmo. Frei Raimundo celebrou. Ele partiu com ela a noite. A levava na garupa
do seu cavalo.
Não fizeram amor nos
três primeiros dias. Dormiam sob as estrelas e ele achava que não ficava bem.
Chegaram ao Engenho de sua propriedade ao cair da tarde de sexta feira. Levou-a
para o quarto. Foi educado. Fez amor com ela com carinho. Fez caricias, entrou bem
devagar, ela estava com as pernas abertas, de olhos fechados. Não sentiu dor,
só um prazer profundo. Ela o amou perdidamente. Durante 15 anos, tiveram uma
vida feliz. Cinco filhos. Ela cuidava da casa e a noite sempre faziam amor.
No início de 1790,
Pedro Gingado um temível bandido invadiu o engenho. Matou todos inclusive
Martinho. Poupou-a. Ela preferiu ter morrido também. Arrastou-a até um tronco e
a possuir com brutalidade. Penetrou-a com força no anus. Ela gritou, socou-a
com força. Tapou sua boca e ela perdendo a respiração morreu.
Brasília – 18 outubro
2007 – Meire Anne voltava para casa cansada. Tentou uma vaga de telefonista.
Ficaram de dar uma resposta. Estava desanimada. Várias tentativas de emprego e
nada. No ponto de ônibus esperava. Sua vida voltara ao normal. Aquela rotina de
sempre. Um carro parou e desceu um homem. Ela o reconheceu. Era seu médico. Dr.
Henrique. Estremeceu. Ele sorriu e perguntou se sentia ainda alguma coisa. Ela
ficou muda. Ele perguntou de novo. Ela respondeu. Ofereceu para levá-la em
casa. Quando acordou estava no carro dele.
Desceu e abriu a porta
para ela. Um perfeito cavalheiro. Foi até a porta cumprimentou sua mãe e seu
irmão. Entrou para um café a convite. Ficou ali toda a tarde conversando com
ela. Convidou-a para jantar a noite. Ela aceitou. Saíram muitas vezes. Ele
sempre a respeitou. Nunca tentou nada. Ela tinha medo. Era casta, pura e nunca
ficou com um homem.
Ficaram noivos cinco
meses depois. Foi um casamento simples. A família de Henrique quase não
compareceu. Não aceitavam aquela união. Diziam ser ela simplória, sem condições
de pertencer à família. Compraram uma casinha no subúrbio. Meire Anne não cabia
em si de alegria e contentamento. Sua alegria era à noite quando ele chega e a
amava com carinho. Ele a ensinou coisas impossíveis. Fizeram amor de maneira
nunca antes imaginada. Com um ano de
casada esperava seu primeiro filho. Henrique a enchia de carinho.
Rio de Janeiro - 28 janeiro – 1881 - A
Condensa Ana de L’avoure e o Conde Aristides Costa Pinto, estavam em uma recepção
a convite do Governador Mem de Sá. Era uma homenagem ao Imperador Don Pedro II.
Uma grande festa. Serviçais serviam faisões, camarão, frangos, canapés
importados da Europa, centenas de milhares de confeitos, cerveja, vinhos e
bebidas sem fins. Aguardavam a chegada do Imperador. Ana de L’avoure olhava
apaixonadamente para o Barão de Otéllo. Mantinham um romance escondido. Sempre
se encontravam próximo a seu palácio e ali se entregavam aos prazeres da carne.
Ela achava que ele era melhor que seu marido na cama. Ficavam horas e horas fazendo
amor. Ele era casado e dificilmente poderia dar a Ana uma vida tranqüila. Ele
não era nenhum santo.
Uma tarde, em um
botequim no centro da cidade, bêbado, ele se vangloriava de suas conquistas. O
Conde Aristides soube. O desafiou para um duelo. Não era bom espadachim. Morreu
naquela manhã de domingo. O governador Mem de Sá mandou prender o Barão.
Julgado foi condenado à forca. Ana ficou só com seus dois filhos. Cinco anos
depois foi internada em um sanatório para loucos. Ficou lá mais dois anos.
Morreu de falência múltipla dos órgãos.
Brasília – 14 novembro
– 2008 – Foi um dia festivo para a família Meire Anne e Henrique. Nasceu um
casal de gêmeos. Se já eram felizes agora muito mais. Mudaram para uma casa
maior. Henrique fora promovido no Hospital e seu consultório era bem
freqüentado. As folgas de Henrique eram poucas. Quando as tinha, saiam a
passear com orgulho mostrando a todos seus gêmeos. Nivia e Javier.
Meire Anne começou a corresponder
com um jovem na internet. Ele não se apresentava. Não tinha foto só dizia ser
um admirador. Ela não saberia quem. Recebia também cartas anônimas dizendo que seu
marido a traia. Não acreditou. Preferiu manter silencio. O estranho não deixava
de procurar insistentemente na internet. Aprendeu seu e-mail, e ali dizia
lindos poemas, poesias maravilhosas. Nunca foi agressivo nem pronunciava
palavras chulas.
Isto a divertia e
Henrique nunca foi informado. O estranho tentava marcar encontros e ela se
negava. Seu corpo estava sendo vencido. Ela pensava seriamente em encontrar com
o estranho. Mas quem era? Como seria? Não era fácil tomar uma decisão.
Acreditava e não acreditava na fidelidade de Henrique.
Marcou um encontro com
ele. Procurou um horário que seus filhos estariam aos cuidados da babá e que
deveria ir ao dentista. Ficou escondida atrás de uma coluna no shopping. No
local combinado, na sala de alimentação o viu. Lindo. Forte, moreno sarado.
Devia ser algum professor de ginástica. Não teve coragem de se aproximar, mas
começou a sentir desejos, a fantasiar e sabia que mais cedo ou mais tarde se
entregaria a ele.
São Paulo – 10 março –
1924 – O major Leôncio Silva retornava da Europa a bordo do navio Splendid. A
guerra havia terminado. Ele era major aviador da FAB e servira na guerra usando
aviões americanos, baseados em Bordeaux no sul da frança. Sempre fora um bom
vivant e acreditava que todos o considerariam um herói e teria uma boa quantia à
disposição quando confirmassem sua chegada.
Isto não aconteceu.
Morava com seus pais e ali aproveitou as condições de uma família humilde que
trabalhava menos ele. Vivia nos bordeis, bebendo e fumando, com lindas mulheres
e não se cansava em auto elogiar sua fama de conquistador. Conheceu Janete
quando retornava para sua casa. Era mais de três da manhã. Achou que seria uma conquista
fácil e deu sua cantada. Não achou respaldo. Insistiu. Seguiu-a até sua
residência.
Janete morava com a mãe
e seu filho Hugo de cinco anos. O pai dele desapareceu e nunca mais ouviu falar
dele. Trabalhava em uma lanchonete até de madrugada. Estava cansada, e aquele
conquistador barato ficava na sua cola.
Isto
aconteceu nos dias seguintes. Janete não sabia o que fazer. Até que ele era
simpático, boa aparência, boas roupas, mas estava sempre bêbado. Não dava para
conversar.
No quinto dia ele
forçou um beijo em uma rua escura. Seu hálito era forte de cigarro e de
cachaça. Ela se desvencilhou. Ela forçou mais, mesmo bêbado era forte. Ninguém
para ajudá-la. Ele forçou sua boca para não gritar. Tentava tirar sua roupa,
ali naquela esquina, rua suja, três da manhã. Jogou-a no chão. Obrigou-a a
pegar no seu membro. Sentiu aquela carne quente na sua mão. Sentiu a mão dele
por baixo de sua calcinha. Ela tateando encontrou uma farpa de madeira. Enfiou
de uma só vez em seu pescoço. Ele apertou sua boca e ela perdeu o ar. Morreu em
menos de um minuto. Ele sangrando saiu pela rua cantando e dando gargalhadas,
andou uma quarteirão e caiu morto.
Brasília – 14 abril –
2010 – Meire Anne tinha um novo amante. Henrique seu esposo nada sabia. Ela
ficara grávida de Fabio Alorte. Ele era filho de um comerciante português
riquíssimo. Era casado e possuía três filhos. Tentava de toda sorte fazê-la
largar de Henrique e morar em uma casa que ele poderia comprar. Ela não
aceitava.
Henrique, mesmo sendo médico,
morreu em 30 novembro de tuberculose. Meire Anne aceitou a oferta de Fabio.
Dividia a vida dele com outra, só que ela era a segunda.
Buenos Aires – 19 de
março – 1950 – Maria Antonia Rosada e Jonas Waldevian não tinham onde morar.
Não tinham o que comer. A Argentina passava por uma fase difícil para os
pobres. O Presidente Perón prometia e sua esposa dona Eva Perón era adorada por
todos. Todas as noites eles iam à praça central onde era servido uma sopa. Dia
sim dia não era a única refeição que conseguiam mais fácil. Jonas era mestre de
obras, mas ninguém queria dar emprego a ele. Ficara preso por quatro meses por
haver furtado um supermercado e seu currículo não era bom.
Um dia jogaram na loteria e ganharam uma
boa quantia. Saíram da miséria, compraram uma casinha e Jonas montou uma loja
de tecidos. Tiveram dois filhos homens. Jonas tinha cabeça para os negócios. Em
pouco tempo possuía uma grande rede de lojas. Passou a não dar mais atenção a
ela e tinha várias amantes.
Viveram assim por vinte
anos. Ela conheceu outro homem. Separou-se de Jonas. Casou com o outro. Teve
uma vida feliz por muitos e muitos anos. Morreu sorrindo. Pela primeira vez.
Brasília – 07 julho –
2010 – Meire Anne estava desgostosa. Aqueles primeiros dias com Fabio acabou. Já
não sentia mais prazer com ele. Deixou-o e foi morar com seus filhos na antiga
casa, pois não havia sido vendida. Leo crescera. Tinha 22 anos. Adorava sua mãe
e Meire Anne também. Era uma família feliz. Leo formara em química e seu irmão
ainda estava na faculdade. Leo se
interessou por política. Foi eleito vereador, deputado e finalmente senador da
república. Levou sua mãe e seu irmão para um apartamento no centro de Brasília.
Convidado a ministro de
estado, mudou de novo. Sua mãe orgulhava do seu filho. A imprensa dizia ser um
dos poucos honestos e que trabalhava mesmo para o povo.
Seu partido resolveu
lançá-lo como candidato a presidente da republica. Aceitou. Viajava por todo o
pais mostrando quem era e o que pretendia fazer. Foi eleito com boa margem de
voto. Voltava do Rio de Janeiro com sua mãe e seu irmão em um pequeno avião da
FAB para o discurso de posse que faria no Naoum Plaza Hotel, onde se hospedara
durante a campanha.
. O avião sofreu uma pane. Caiu na Baia de
Guanabara. Morreram todos.
Hoje – sem data – 2011
– As outras vidas de Meire Anne acontecerão de novo. Faz parte. Nascer, viver,
morrer. Não sei o futuro. O passado foi possível contar. Meire Anne não teve
muita sorte na vida. Acreditar na
felicidade levou Meire Anne por um longo tempo na caminhada para seu
crescimento interior. Acredito que ainda não conseguiu.
Muita paz para você
Meire Anne. Que os anjos a protejam na sua próxima vida.
Há
pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem
cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e
nos marcam para sempre.
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