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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Uma cruz a beira do caminho.




O matuto sonhador.

Um matuto sonhador
Lá das quebradas do sertão
Queria um emprego
Que o enriquecesse rapidão.
Escreveu uma carta de apresentação,
E enviou para a mais conceituada
Empresa da Região.

Esse matuto,
É mesmo sem noção.
Sem nem ao menos
Um décimo de estudo
Alimentou essa ilusão.

O Pobre Serafim
Logo soube da verdade.
Que não tinha a menor chance
Para sua infelicidade.

Oh! Serafim
Toma tento homem de Deus,
E procura um emprego
Compatível ao seu perfil.

E se esse é seu sonho,
Estude e corra atrás
Conquiste o que deseja
E conquiste um pouco mais...
Leidiana S. Silva.

Uma cruz a beira do caminho.

                     Ela estava ali, na curva da Aranha, bem perto da nascente do Rio Pomba. Não havia nada escrito, ninguém sabia por que estava ali, quem a colocará e o motivo de ter uma cruz como aquela na beira do caminho. Todos que passavam a viam e sabiam que todos os anos alguém trocava por outra, mais nova, mais durável. Mas o que significava? Ninguém sabia... Rolando o barbeiro sabia. Sorria quando ouvia alguém comentar e perguntar ele não dizia nada. Para que dizer? Se existia uma história uma lenda ou mesmo um fato era melhor esquecer. Ele se lembrava de tudo, de tudo que aconteceu. Ninguém lhe pediu silêncio, nada, mas ele talvez por discrição ele preferiu manter silêncio. Afinal ele não passava de um meninote, metido a sabido e quase morreu por que achou que devia saber de tudo. Sua barbearia estava vazia. Já não era como antes sempre cheia e todos comentando a vida monótona da cidade. Cidade? Não mais de que seis mil almas que dariam tudo para sair dali e nunca mais voltar. Quem sabe uma vida arredia, entediada e tendo o que falar dos que chegavam e saiam seria a melhor forma de viver ali.

                          Ele se lembrava de Juca Soldado. Mas quem não se lembrava? E o que aconteceu com ele? Sumiu de um dia para o outro e ninguém também soube explicar seu sumiço. Seu erro Rolando depois de muito tempo pensou que sabia. O homem não pode apaixonar por alguém que não se apaixona por ele. Vai dar tudo errado. Afinal Flor Bela não era bela, podia-se dizer que tinha um belo corpo, mas bela não. Bem tinha os dentes perfeitos, um belo trazeiro arrebitado, seios enormes e para quem gosta eram um prato cheio. Mas seu rosto parecia que levou uns tabefes quando menina e ficou amassado. Risos. Amassado? Bem eram bem chatos e não arredondados como todos são. Filha de João Araci, nunca conheceu sua mãe. Diziam que largou o João e sumiu neste mundo de Deus. Os dois moravam em uma tapera de pau a pique lá prás bandas do Morro Doce. Eram terras do Coronel Tubino de Mattos. Ele não ligava para quem morasse em suas terras. Não cobrava, não exigia nada pedia em troca. As más línguas diziam que o pai comia a filha e o Velho Coronel também dava suas bicadas. Verdade ou não os dois só andavam abraçados e não eram abraços de pai e filha.

                         Juca Soldado se apaixonou por Flor Bela. Uma paixão sem limites. Só sonhava em tê-la ao seu lado. Comprou uma casinha pequena na Rua da Garça e ia reformando ela aos poucos. Tijolo por tijolo, telha por telha. Seria a casa dele de Flor Bela. Claro iria encher ela de filhos. À tardinha sentava na varandinha e ficava pensando como poderia ser feliz para sempre ali com Flor Bela. Pintou a casa de Branco, as janelas azuis e com as rosas, jasmim e begônias que plantou em volta ficou linda de morrer. Fez questão de plantar um Ipê Amarelo. Iria demorar em florir, mas ele não tinha pressa. Todas as noites quando saia da Delegacia ia para sua casa e sonhava sonhos impossíveis. Lá estava ela na porta esperando seu amor. Ela? Não meu amigo, eram sonhos de Juca Soldado. Salomé Soldado que com ele tomava conta da cidade sempre dizia: - Juca Soldado esqueça esta mulher. Ela nunca vai ser sua. Todo mundo sabe que mora e dorme com o pai. Juca Soldado nada dizia. Dizer o que? Encobrir seu amor por alguém que daria tudo na vida para ela viver com ele? Daria o mundo se ela pedisse, daria sua vida se ela quisesse. Um dia bebeu umas quantas e zonzo saiu andando aos troncos e barrancos pela cidade a caminho da tapera de Flor Bela.

                         Não era perto, nada disto, mais de três léguas até a subida da Serra do Morro Doce. Nunca tinha ido lá. Tinha medo do que ela ia dizer. Tinha medo do que seu pai ia falar. Juca Soldado nunca foi de falar duas vezes. Atirava bem, já mandou pras prefundas dos infernos muitos bandidos que o desafiou. Nunca pensou em tirar a vida de ninguém, era de paz e se matava era para não ser morto. Quando Capitão Nanico do Batalhão da cidade de Horizontina o mandou para Rio Pomba ele agradeceu. Pensou em viver lá para sempre. Gostava da cidade, mas se sentia sozinho. Queria arrumar uma mulher para casar e nunca soube por que não escolheu muitas da cidade que ficavam a sorrir para ele. Ele ficava envergonhado quando algumas delas o chamavam de gostosão. Será que ele era mesmo? Virgem não era, pois comeu algumas putas em Horizontina. Mas quer saber? Depois que gozava queria sumir dali, tinha asco da mulherada safada que tinha dado para ele.

                        Ele mesmo tinha duvida se era bom de cama. Isto não o preocupava, pois sabia que para ser feliz não precisava disto. Ele iria dar a sua cara metade a outra metade da sua vida. Tinha certeza que se um dia casasse ele faria sua esposa feliz para sempre. Não andou muito no caminho da serra do morro Doce. Alguns quilômetros e caiu na poeira da beira do caminho. Dormiu como um porco naquela sujeira e acordou enojado. Voltou correndo para a cidade antes que amanhecesse e alguém o visse naquele jeito. Uma semana depois, já com sua casinha pronta, onde todos que passavam por ali invejavam seu trabalho, ele viu Flor Bela e seu pai Clotilde Sinfrônio, (nome danado ele pensava) de braços dados entrando na cidade. Desavergonhados ele pensou. Pai e filha não davam exemplos. Pensou em prender Clotilde, lhe dar uma surra e jurar de morte se ele não partisse da cidade. Poderia ter feito isto, mas e Flor Bela? O que ela pensaria dele? Afinal nunca se declarou para ela.

                       Ficou na sua. Tremia de raiva quando ela dava risadas abraçada com o pai no bar do Pacheco. Bebiam e pareciam dois namorados se comendo com os olhos. Quem passava olhava com asco. Afinal era pai e filha. A cidade em peso reprovando tamanha desenvergonhice. Interessante, diziam que ela dava para o pai ha muito tempo, desde que sua mãe morreu de tifo. Morreu sem tratamento, pois não havia médico naquele lugar. Morreu as margens do Rio Pomba e dizem que nem enterrada fora, Clotilde e Flor Bela amarraram ela em um lençol e deixaram que as águas barrentas do rio Pomba a levasse para o mar. Juca Soldado pensou em acabar com aquela farra. Mas ele era comedido, calmo e mesmo com o coração batendo e o corpo fervendo ficou na sua na delegacia. João Soldado disse para ele se não iria tomar uma providencia. Ela calado nada falou. Costinha charreteiro os levou de volta para a tapera de Morro Doce. Juca Soldado magoado, nada dizia. Em sua casinha branca ainda sonhava com Flor Bela, mesmo sabendo que ela nunca seria dele.

                    Tudo na vida tem seu começo e tem seu final. Caseiro um menino da Rua Santos chegou correndo na delegacia. Seu Juca Soldado! Flor Bela está morta! Morreu na curva da Aranha. Está lá toda cheia de sangue! – Juca Soldado saiu correndo, o povo da cidade atrás. Um circulo já se formava em volta dela. A danada sorria, morreu sorrindo. Juca Soldado tirou sua arma e deu dois tiros para o alto. Gritou em seguida que voltassem para suas casas. Não queria ninguém ali. O povo obedeceu e aos poucos foram se afastando até que Juca Soldado se viu sozinho com sua amada. Ele sabia que ou o Coronel Turbino ou seu pai Clotilde eram um deles assassino. Não precisava correr. Eles não iriam fugir. Eles iriam ter a paga dos seus atos. Levou Flor Bela nos seus braços até sua casa. A colocou na cama de casal que tinha comprado. Tirou todo o sangue, limpou e lavou com bucha leve para não ferir sua pele mais.

                     Vestiu nela o longo prata que tinha comprado. Era seu sonho vê-la vestida assim, sorrindo para ele e dizendo que o amava. Sonhos nada mais que sonhos impossíveis. Sentou na cabeceira da cama e ficou acariciando seus cabelos, sua face, seus lábios grossos que agora estavam brancos como a morte. Melhor passar um pó de arroz, um pincelada de batom vermelho para ela voltar à vida. Risos. Era sonho, ele sabia que ela estava morta, mas queria acreditar que ainda estava viva. Nos seus sonhos ele contou para ela quanto a amava. Contou quantas vezes a via na porta da casinha branca a lhe esperar com um sorriso após o seu dia de trabalho. Contou do que gostava de comer, um franguinho com quiabo, uma taioba com angu mineiro, um torresmo no feijão preto. Perguntou para ela do que gostava, mas ela não respondeu. Afinal estava morta. Dormiu no banco em frente a sua cama de casal olhando para ela. Muitas vezes acordava com os olhos rasos d’água a correr pela face e molhar o tapete que ele mesmo comprou do Mascate Juventino.  

                  Dois dias depois sentiu uma mão em seu ombro. Era João Soldado seu amigo de farda e do peito. – Hora de fazer o enterro Juca Soldado. Você não pode adiar mais. A cidade em peso falando e você aqui chorando! Juca Soldado sabia que não dava mais para adiar. Comprou um caixão branco, cheio de flores marcadas na madeira, custou caro, mas ele pagou sem reclamar. Quando o caixão desceu para sua ultima morada Juca Soldado chorou. Chorou demais. De uma hora para outra parou. Não chorava mais. Viu do outro lado da cerca do cemitério, o Coronel Turbino e Clotilde. Dois assassinos. Sua face encrespou. Deu vontade de ir até lá e matar os dois. Um tiro só em cada um. Ele sabia que não ia errar. Mas não era a hora, tudo tinha sua hora e seu lugar. Eles dois estavam marcados para morrer!

                Juca Soldado não fez um epitáfio. Nem uma cruz colocou na ultima morada de Flor Bela. Todas as noites, ele ia até lá e colocava uma rosa, ou uma gardênia do seu jardim. Ajoelhava e dizia: - Se eu te oferecer uma flor! Receba-a, com carinho... Ela é coberta com pétalas do eu amor! Cuida dela direitinho!! E lembra-se de mim. Não se esqueça... Ela é de pele, Revestida de pétalas macias. Onde guardo todos Os sonhos com você. Juca nunca deixava de chorar. Um homenzarrão de trinta anos, alto e forte e chorava, seu amor era mais forte que tudo. Uma vez por ano ia até a curva da Aranha e lá colocava uma cruz de madeira. Substituía a velha que já estava apodrecendo com o tempo. Não escreveu nada nela. Toda a cidade deu falta de Clotilde e do Coronel Turbino. Eles desapareceram. Nada na fazenda e nada na tapera onde morava. Ninguém nunca mais ouviu falar deles.

               O Gavião do mar foi quem que contou para o Gavião da Montanha que ele viu onde estava Clotilde e o Coronel Turbino. Estavam enterrados bem no alto do Morro Doce, lá aonde ninguém vai. Num sopé cheio de espinhos, onde o vento sopra e só deixa poeira no ar. Ficaram assim com o corpo todo amarrado em uma vala cônica, só a cabeça para fora, vermelhos e roucos de tanto gritar pedindo socorro. Morreram bicados pelo Abutre das Sete Mortes. Ele se deliciava com a carne apodrecida e por vários dias se serviu do banquete. Ninguém nunca soube e ninguém nunca acusou Juca Soldado pelo sumiço deles. Rolando o Barbeiro sorria. Ele sabia de tudo que aconteceu. Mas valia a pena contar? Para que? O tempo passou, Juca Soldado morreu de desgosto e tristeza. Ninguém nunca saberia de seus lábios a morte horrível de dois homens que mereciam ter a morte que tiveram.

                 Mas Rolando o Barbeiro já sabia que o Santo Homem da curva do destino sabia muito mais. Ele falava com os mortos, ouvia seus causos, sentia seus abraços e rezava por todos eles. Cortando seu cabelo naquela tarde quente de setembro ele sorriu e contou baixinho para Rolando o Barbeiro; - Eles estão felizes, ela agora tem três ao seu lado. São casais jocosos, amantes do mal, que correm nas nuvens do céu e nem se lembram mais do pecado que cometeram.

CONSEIO

Era assim que eu lhe dizia
Menina você me insurta
Repare essa saia curta
Cuidado que o povo espia
Pois quando ocê vai passando
Os ôme ficam rezando
Prá que dê uma ventania…
Assuba mais o decote
Que assim tá muito descido
E prú favor tomem bote
Uma barra nesse vestido
Menina: ninguém é santo
Repare que em tudo canto
Tá assim de ôme inxirido…
Mas vosmecê repare só
Ela não tinha receio
Se eu falasse era pió
Porque depois do conseio
Prú capricho ela botava
Um vestido que amostrava
A “metade” du jueio…
Pois vosmecê logo imagina
O que isso tudo veio dá…
Coitadinha da menina,
Eu cansei de lhe avisá.
Pois sabe o que acunteceu??…
Ela casou-se cum eu
Tem dez filhos pra criar.
Pompílio Diniz

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