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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Quem matou Joventino Praxedes?



Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Quem matou Joventino Praxedes?

                 O crime aconteceu em uma manhã poeirenta de agosto. Ele estava lá, estirado no chão na beira do Córrego Sant’Anna. Com uma sunga indecente seu corpo melado pelas formigas e bichos da mata que passeavam preguiçosamente naquelas delicias que eles sempre aproveitavam nos mortos. Quem o matou fincou quatro forquilhas e o amarrou como se ele fosse um grande X a ser visto pelo céu. O que ele o assassino queria dizer ninguém podia afirmar. Várias hipóteses foram levantadas. Poderia ser Madame Nataly? Afinal ele era seu funcionário e amante. Pelo menos a boca pequena todos diziam. Na casa grande que ela transformou em uma enorme boate todos sabiam que ele nunca fora seu filho como ela dizia. Já o tinham visto se esfregando e fazendo amor com ela em uma bela e frondosa figueira que existia nos fundos da Boate dos Prazeres. – Filho? Pois sim!
                  Ninguém sabia quando ele chegou à cidade. Uns dizem que ele veio com ela quando comprou a casa de Dona Filó e para surpresa de muitos foi transformada em boate. As famílias que sempre se arvoraram como católicas praticantes reclamaram com o Padre Nilton, com o Prefeito Josmar, com o Juiz de Direito Nonato e até com o delegado Molejo. Todos disseram que ela não estava cometendo nenhum crime e iria trazer para a cidade melhores arrecadações, pois já se sabia que ela tinha uma enorme Indústria têxtil na capital. Já corria de boca em boca que ela iria fazer a maior indústria têxtil do estado em Rio Verde. Quatro anos depois a indústria foi esquecida. Nada aconteceu e nem se tocou mais no assunto. Madame Nataly continuou com sua boate, bem frequentada pelas autoridades locais e com a complacência do Delegado do Prefeito e do Juiz. Todas as noites a maioria deles corria para a Boate onde se sabia que boas bebidas, um bom carteado e boas senhoritas sempre estiveram à disposição, claro se pudessem pagar.

                   Ninguém nem ligava para Joventino. Uma figura apagada e que quase não aparecia no salão quando a sociedade de homens ricos lá compareciam. A acusação a Madame Nataly caiu por terra quando o Delegado, senhor de grandes bigodes e casado com Manuelita uma portuguesa miúda e calada, disse para quem quisesse ouvir que na noite do crime ele estava na boate, pois era um homem da lei e não podia aceitar brigas ou discussões naquele estabelecimento. Ele jurou ao Delegado da capital enviado pelo governador que durante toda a noite jogou um belo carteado e já de madrugada foi desafiado por ela para uma mão de pôquer. Portanto ele nunca poderia ser incriminado. A pergunta continuou a ser feita por todos habitantes da cidade: - Quem matou Joventino Praxedes? Diziam que o prefeito Josmar tinha grande ciúme dela com ele e podia ser um suspeito. Ao ser inquirido riu e mandou chamar Rosinha – Diga a eles que passei a noite toda com você! E o Juiz? Não teve um pega com o prefeito por causa dela? E todos não sabiam da sua discussão com Joventino?– Não me acusem, rosnou – Foi à única noite que passei em casa ao lado do meu filho e de Jovelina minha esposa.

                 O Delegado Delgado diziam que era o melhor investigador do estado. Ficou trinta dias procurando uma pista. Havia uma rosa no chão machada de sangue ao lado do corpo. Na rosa não conseguiu nenhuma digital. Rosa é rosa, só tem espinhos e um deles achou o dedinho fininho do Delegado que gruiu alto. Pensou e pensou. Tinha que acusar alguém e levá-lo as raias do tribunal. Paquetá um faz tudo na boate poderia ser um suspeito. Mandou investigar sua vida. Surpresa: - O filho da mãe passou toda sua vida em um seminário e só não foi padre porque sempre o encontravam masturbando. Claro que o delegado não achou nadica de nada que pudesse incriminá-lo. Mesmo todos sabendo que ele era amante  e junto com Juventino faziam par nas altas madrugadas, para transar em dupla com Madame Nataly ele estava limpo. Mas e dai? E ela? Não podia ser a assassina? Puta merda pensou, Já vi todos os tipos de crime, mas igual a este não. Vai ser foda achar uma pista. Quem o matou teria que ser algum cliente de Madame Nataly. Tinha que chafurdar em toda sua freguesia para achar o culpado. 

                 Foi Nico Estripa quem lhe deu uma pista. – Olhe delegado, um dia vi o Jovelino Praxedes tentar namorar Mariazinha. Ela não deu bola para ele. Namorava o Açougueiro Totonho e dizia que o amava e ele era o homem de sua vida. – O delegado pensou e pensou. Será que o açougueiro resolveu vingar as investidas de Jovelino na sua noiva? Até que podia ser, pois ele foi morto com duas facadas certeiras no coração. Ele já tinha visto centenas de crimes assim. Mandou prender Totonho o açougueiro. Os praças voltaram de mão vazia. – Cadê o home porra! Doutor o home casou com Mariazinha no mês passado e mudou para Pedra Azul. Não pode ser ele não! Merda! Pensou o delegado. Não sabia mais onde procurar. Quem poderia ter matado Jovelino Praxedes? Ele se perguntava e toda a cidade o perguntava também.
       
                 Um mês depois recebeu uma carta do Governador: - Se não consegue saber quem foi, retorne para a capital. Que foda-se quem matou Jovelino Praxedes. Encerre o inquérito como crime insolúvel. Ele não tinha mais nada a fazer ali, juntou suas traças pôs na mala e na rodoviária o povo o olhava enviesado. Do outro lado da Rua Nicota ria baixinho. Esperava o delegado partir para ela partir também. O filho da puta do Jovelino a cantou em uma noite de quermesse e ofereceu vinte paus para comer seu trazeiro. O filho da mãe nem carro tinha, ela foi na garupa da bicicleta até a entrada da mata do Jambreiro. Queria logo mandar bala, mas ela disse que só dava para ele se o amarrasse em forma de cruz. Ele ia gosar como nunca gosou na vida. O besta se deixou amarrar. Ele lhe meteu a faca pequena que trazia na bolsa, ele berrou feito um jumento capado.

                  Achou a chave do quartinho dele que morava nos fundos da boate. Foi lá e encontrou o que procurava. O monte de nota de cem e de cinquenta. Mais de vinte mil pratas. Desta vez valeu mais que Muriel Boa Morte de Espera Feliz. Ela riu quando lembrou. Outro idiota que só queria comer seu traseiro e mais nada. Ter bunda grande dá nisto pensava e ria. Um duro de tudo, pois não conseguiu nada dele nos bolsos. Na sua casa não podia ir. Era amasiado com uma mulher de vida que não saia de lá. Ela ria baixinho ao lembrar quando ele morreu de pau duro feito aço. Saiu de lá e agora em Monte Verde queria algum melhor. Sabia que Joventino Praxedes a olhava há tempos. Era questão de dias ele a levar para o mato. Deu o último olhar no Delegado Delgado. Um bosta de delegado ela pensou. Bem cada um sabe onde aperta as botas. Melhor fazer minha mala e partir. Quem sabe consigo outro trouxa que só pensa no seu pau? 
       
Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Produndissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

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