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domingo, 7 de setembro de 2014

O Agente Funerário e a mulher do Barão da Mexerica.


O FUNERAL

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Evitem o latido do cachorro com um osso suculento,
Silenciem os pianos e com tambores lentos
Tragam o caixão, deixem que o luto chore.

 
Deixem que os aviões voem em círculos altos
Riscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
Ponham gravatas beges no pescoço dos pombos brancos do chão,
Deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão.

 
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,
Minha semana útil e meu domingo inerte,
Meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção, meu papo,
Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado.

 
As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas;
Empacotem a lua e façam o sol desmanchar;
Esvaziem o oceano e varram as florestas;
Pois agora nada mais de bom nos resta.


O Agente Funerário e a mulher do Barão da Mexerica.

                    Esta história eu ouvi de um amigo meu, quando nos encontramos em uma viagem de trem até Vitória no Espírito Santo. Minha empresa me mandou lá para tomar uma providencia urgente sobre alguns funcionários da filial. Gostava do trem. Fui um dia antes para chegar na data certa. Não gosto muito de avião. Sentou ao meu lado um senhor já de idade, mas extremamente simpático. Valdo Feer as suas ordens disse. Uma conversa boa gostosa e fomos jantar juntos no vagão restaurante. Contou sua vida, seus amores suas histórias. Uma ficou marcada. O Agente Funerário de Rio Verde. Guardei tudo para contar a voces esta história que ele me garantiu verídica. Para dizer a verdade não acreditei. Se fosse verdade mesmo ele estaria com mais de cem anos. Mas quem sabe ele tem mesmo?

                            Toda tarde Picolino ia para os quartos dos fundos de sua Funerária mais conhecida como a “Aquela do sono gostoso e profundo”. Ninguém sabia o que ele ia fazer. Dormente e Mafalda que trabalhavam para ele nunca entraram naquele quarto. Sabiam que se perguntassem ou fossem lá seriam demitidos na hora. Emprego difícil, Picolino pagando bem porque facilitar? Claro eles sabiam da fama de Picolino. Nenhuma viúva deixava de visitar o quarto nos fundos de Picolino. O que todos não entendiam era por que. Picolino era feio. Alto. Cara chupada, nariz fino, olhos sumidos, cabelos negros com guméx para fixar mais para trás e sempre com um terno preto e chapéu coco preto.

                                Contaram-me uma vez, não sei se é verdade que Picolino mandou sua esposa para melhor só porque ela reconheceu um troço grande. Ele estava para mandar um tal Jamil Peixeira para ser cremado quando viu no seu corpo nu o maior membro que ele tinha visto na vida. Pediu desculpas ao morto o Jamil e disse a ele – Não posso mandar o senhor para o crematório com essa coisa enorme. Isto tem de ser conservado para a posteridade. Ele com um bisturi corta o treco do Jamil, guardou e o levou para casa. Não resistiu e resolveu mostrar a monstruosidade para a mulher que ao ver o conteúdo gritou! – Ai meu Deus! O Jamil morreu? Risos. Não sei se a história é verdadeira.
                    
                       Bem quando cheguei na cidade me disseram que ele não era casado. Viúvo talvez. Não importa, portanto vamos voltar à história. Mesmo com aquele olhar e aquela maneira de cadáver ambulante, o danado atraia as mulheres. E como atraia. Todos se perguntavam o que ele tinha assim para que elas caíssem em cima dele como moscas no mel. Seu estilo cadavérico? Conversa de macho? Mandioca grande? Ninguém contava. Nenhuma mulher falava. Na cidade os maridos ficavam de orelha em pé. Ninguém queria morrer e cá prá nós, morrer ninguém quer mesmo. Risos. Mas lá em Rio Verde pensar que todos estavam te pranteando e Picolino comendo sua mulher ali na funerária?

                      Era comum a Funerária estar sempre cheia. As mulheres vinham e ficavam a passear em voltas dos caixões, vendo os preços, quem sabe o mais luxuoso e pagar a prestação. Claro, isto não importava para quem morreu, mas quem fica sempre quer impressionar. E atrás vem a mortalha, a decoração do lugar no dia da morte, plantas e flores, a coroa de flores e claro um pedreiro para arrumar o tumulo da família se houvesse. Ficavam todas alvoroçadas quando Picolino vinha atender. Picolino tinha na parede vários diplomas de cursos que fez para cuidar dos mortos. Um deles fazia questão de mostrar pessoalmente. Tratronopraxia Avançada de Terapia Facial. (quase quebrei o queixo para falar) Picolino fazia os mortos reviverem de tão bonitos. Alguns até diziam – Parece que está dormindo!

                     Telúrio era um homossexual muito conhecido em Rio Verde. O único que saiu do armário apesar de todos saberem que a cidade era cheia deles, mas enrustidos. Tinha uma queda por Picolino. Ninguém soube até hoje se tiveram algum caso ou se ele foi até o quartinho dos fundos da funerária. O que ninguém sabia é que Telúrio ajudava Picolino a deglutir a mulher do Barão da Mexerica. A Baronesa Olga Cata Prússia chamava a atenção pelo seu porte. Linda, alta cabelos negros encaracolados. Usava brincos enormes, uns lábios carnudos vermelhos e por onde passava deixava um rastro de “Belle et Saine” um perfume que só ela usava e que vinha de Paris para ela. Coisa de duzentos mil reis.

                    Ninguém conhecia sua história. Chegou casada com o Barão das Mexericas numa tarde no trem da Central vindo da capital. O Barão, ou melhor, Doutor Archimedes Cata Prússia era um homem rico. Milhares e milhares de acres de pés de cacau. Ele tentou quando foi a capital comprar o titulo de barão pediu para ser o Barão do Cacau, mas já tinha outro. Disponível só o Barão das Mexericas.  Sem alternativa aceitou. Dizem que ela era uma das moças mais bonitas do Bordel de Madame Solange, lá na Ladeira da Montanha. Assim me contaram e o Barão se encantou por ela. Ninguém tinha certeza. Fuçar no assunto era morrer nas Mãos do Barão das Mexericas. Um olho na mulher dele, um tiro no olho ou na bunda e bem no buraco como ele gostava.

                    Eu não sei não, mas acredito que o Barão das Mexericas era cornudo. Mas se era mesmo porque não mandou matar ou ele mesmo podia ter liquidado Picolino? Quem na cidade não sabia que tinha um belo par de chifres na testa colocada gostosamente por Picolino? Um segredo que muitos tentavam saber. Mas era difícil. Muito. A mulherada não contava nada. Na beira do rio das Borboletas, lá onde ele tem as corredeiras cheias de pedras e onde as lavadeiras trabalham e se divertem, as fofocas correm longe. Mas sobre Picolino? Nada. Simplesmente nada. Um silencio sepulcral.

                   Rio Verde há quatro meses estava sem Delegado. O prefeito foi avisado da chegada de Mauzinho Tirocerto o novo Delegado transferido da comarca de Itabaiana. Foi informado que era um homem mau, não perdoava ladrão e assassino. Ele gostava de ser o Juiz e o Carrasco. Dizia que bandido bom é aquele que cheira a defunto. Dr. Mauzinho chegou a grande estilo no trem da tarde da Central do Brasil. Esperava Banda de Musica. Não tinha. Procurou autoridades. Nenhuma. Porra! Vou tirar o couro desta merda de cidade! Ele mesmo e sua bela mulher Pepita Tirocerto foram a pé para o hotel Bento das Flores. O prefeito quando soube, chamou o Doutor Juiz, o Doutor Promotor e correram para o hotel. O Delegado Mauzinho Tirocerto os mandou a merda. Não vou receber ninguém.

                  Assim começou o trabalho do Delegado Mauzinho Tirocerto em Rio Verde. Contra tudo e contra todos. Vão se foder comigo pensava. Mandou um recado para o prefeito. Urgente, quero uma casa boa no centro da cidade. Não tinha. A única era de Picolino. Estava vazia, mas ele nunca quis alugar para ninguém. O prefeito explicou ao delegado. Na mesma hora o valente homem foi à funerária. Vou mostrar a este “bosta” quem sou eu. Entrou sem bater e gritou: Quem é o dono desta merda?

                Bem não sei como, mas me contaram que Picolino levou o delegado para o quarto dos fundos e ele nunca mais encheu o saco de Picolino. Mas sua mulher a Pepita Tirocerto passou a frequentar e mais um dos rioverdenses foi coroado com um belo par de chifres na testa. Na morte do Doutor Malacacheta dos Santos a cidade em peso compareceu no velório. Para dizer a verdade sua mulher dona Zenilda dos Santos não era muito bonita e mesmo assim foi parar no quarto dos fundos de Picolino. Como eram muito ricos, donos de duas casas de comercio na cidade e único revender Ford da cidade ela resolveu dar uma grande festa na morte do marido. Bem isto era comum naquela época.

                Contrataram uma Madame da Capital, uma tal de Eufrásia Rigoleto que era bamba na preparação de tais festas e muito falada em toda a capital. Ela organizou uma festança e rápida, pois o defunto já tinha dois dias que tinha morrido. Claro Dormente e Mafalda se locupletaram. O defunto sempre bonito e cheiroso. E a mulher dele não parava de ir ao quarto dos fundos de Picolino. Madame Eufrásia vendo aquilo resolveu participar também. Uma saia outra entrava e Picolino lá. Puxa vida, que animal era esse para dar tantas assim uma atrás da outra?

              O Delegado Doutor Mauzinho Tirocerto chegou com a mulher dona Pepita Tirocerto. Ela disse que tinha de ir à toalete, mas o delgado sabia aonde ela ia. No quarto dos fundos de Picolino. Ele fechou a cara e não disse nada. O que aquele homem tinha? Deus do céu! Ninguém se revoltava dos chifres que estavam levando? A mulherada da cidade toda passou pelo quarto dos fundos de Picolino naquele enterro onde os comes e bebes corriam solto. E olhem, ninguém, ninguém dizia nada. Quase cinco mil habitantes e ninguém para se revoltar contra Picolino?

               Lamartine de Vilavenco da Anunciação Caravajio, era um simples caixeiro viajante. Nunca fez aquela área, pois era de um colega seu. Agora que ele se demitiu da companhia Lamartine ficou encarregado. Chegou a Rio Verde no expresso da Central do Brasil as cinco da tarde de uma sexta feira, data programada para o enterro do Doutor Malacacheta dos Santos. A cidade vazia. Um moleque contou o que estava havendo. Foi ao hotel e estava fechado. Chamou o moleque para tomar conta de sua mala. Lá foi ele para o cemitério. Nunca tinha visto uma cidade parar por causa de um enterro. Assustou com tudo. Comida farta, bebida farta e nunca viu tantas mulheres bonitas.

                 Ficou de olho em uma. Moreninha linda, baixinha quase da altura dele. Devia ter o mesmo que ele um metro e cinquenta e cinco. Sempre gostou de jovens da altura dele. Adorava fazer o “negócio em pé”. Cada um com suas manias e suas taras. Quando ia aproximar viu que ela foi pelo corredor da Funerária sem olhar para trás. Achou que era um chamariz para ele. Não se fez de rogado. Ela entrou em um quartinho dos fundos. Riu para sí próprio. Está no papo! Abriu a porta já com o negocio em ponto de bala! Meu Deus! Que diabo era aquilo? A moreninha estava de quatro com as calcinhas rasgadas gemendo e o Capeta atrás enfiando um membro enorme nela. Minha nossa senhora, ia sair correndo e o capeta com um olhar não deixou. Soltou à moreninha e colocou-o de quatro. Maldito demônio dos infernos! Comigo não seu filho da mãe!

                    Gritou alto. Jesus amado socorrei-me! O capeta ou o demônio sei lá gemeu e pegou uma espada em chamas e ia cortar seu pescoço. Pulou uma janela e sumiu em uma rua da cidade. Sua mala ficou lá. Uma semana depois chegou com vários milicos da capital. Não acreditaram nele, mas ele disse que se não fossem com ele publicava em todos os jornais da capital. Chegaram à estação e ela vazia. A cidade vazia. Parecia uma cidade fantasma. Foram até a delegacia. O delegado Mauzinho Tiro certo, o chifrudo mor, recebeu a todos com cara amarrada. Olhou para Lamartine com os olhos em chama. Filho da Puta! O Delegado era um merda. Um cornudo que gostava de ser. Foram até a funerária. Pranteavam um morto. Lamartine riu. Agora vamos pegar o danado com a boca na botija. Levou o tenente até o quarto dos fundos. Abriram e a surpresa. Picolino e duas mulheres de joelhos rezando em frente à Santa Erotildes.      
                                           
                      O tenente estava puto. Vamos embora. – Vamos sumir daqui. Não sei onde arrumou esta historia do demônio. Riram dele. Resolveu ficar até o dia seguinte. Afinal eram anjos ou demônio? Lamartine foi dormir. Não conseguiu. Uma luz vermelha em seu quarto. Picolino de capeta rindo. Mostrando o membro enorme. Lamartine saiu correndo. Correu pela estrada até a cidade de Batislau Amarelo. Pegou o trem. Na capital contou tudo para seus amigos repórteres. Riram dele, mas um resolveu ir até a cidade de Rio Verde. Na estação o bilheteiro disse que não havia aquela cidade servida pelo trem. Lamartine quando ficou sabendo correu mais ainda. Saiu pela fronteira do Paraguai. Deve estar correndo até hoje. Nos seus pensamentos a capetaiada estava montando um inferno particular nas cidades. Pegando todo mundo de quatro! Nunca mais voltou ao Brasil. A ultima noticia dele é que havia passado pela Mongólia. Lá nos montes Urais. Nunca mais souberam dele.

                    Se você quiser um bom enterro, procure o Picolino. Será um enterro nota dez. Mas não leve sua namorada e ou sua mulher. Risos. Agora me lembrei. Você é o morto. Não pode fazer nada. Feliz bom inferno para você chifrudo!

                                             Suspiro - o derradeiro

Por quais devaneios tu reclamas,
Se tu és um homem coroado,
Entre mil margaridas e rosas,
E gritas: “Deus! Estou acordado!”.
 
Que angústia invasora é essa?
Quando tu foste abençoado
Pelo padre, anjo dominical,
E gritas: “Deus! Sou um desgraçado!”.
 
Que paixão derradeira é essa?
Por entre o véu de rendas bordado,
Que na escuridão se manifesta,
Gritando “Deus! Estou acordado!”.
 
Que choro de lamento é esse? 
Teu terno italiano foi passado.
Lindos sapatos te adularam.
Só porque vivo fostes sepultado?
 
Que engraçado! Até na morte tu és ingrato!


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