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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O rocambolesco escândalo da virgem Rebecca e o famoso Senador X.



Soneto do Prazer maior.

Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:

Faze-la vir abaixo, e com cautela.
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Aperta-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que ha no mundo.
Bocage

O rocambolesco escândalo da virgem Rebecca e o famoso Senador X.

          Foram anos a procura dela. Anos que gastei o que tinha e fiz o que podia para saber seu paradeiro. Rebecca era única. Eu sabia que não ia amar a mais ninguém pois sem ela a vida para mim não tinha valor. Apesar de tudo eu não importava o que ela fez e a receberia de braços abertos. As notícias sobre ela deixaram de virar manchetes mas ninguém sabia onde ela foi parar. Dizem que as paixões nos levam a cometer erros e que o amor nos faz cometer desatinos que mais cedo ou mais tarde iremos nos arrepender. Um poeta anônimo escreveu que a cada dia que se passa você vai subindo um degrau dessa imensa escada algumas vezes você perde a força e cai depois se levanta e continua a subir essa escada de cabeça erguida. Pode ser. Eu não desisti e não vou desistir.

         Como fomos felizes juntos em nossa infância. De mãos dadas nunca iriamos saber o que o nosso futuro nos reservaria. Lembro-me de vê-la sorrindo na beira do Lago das borboletas, correndo entre elas, brincando sem as machucar. Apesar dos seus oito anos a cena merecia ser filmada e passada em todas as telas de cinema que existissem neste mundo. Eu fiquei ali inebriado com seu balé em meio às flores silvestres e a revoada das borboletas das mais variadas cores. Você se foi e eu voltei lá diversas vezes e não a vi. Sentado na Praça do soldado onde repassava a prova de história que teria no dia seguinte vi você parada na minha frente a dizer oi. Olhe quase cai do banco de madeira ao ver você. Sei que você sempre disse que foi o início de uma grande amizade. Para mim nunca foi.

        Alguém um dia me disse que a mais nobre paixão humana é aquela que ama a imagem da beleza em vez da realidade material. O maior prazer está na contemplação. Pode ser verdade. Eu nunca me cansava de olhar para você. Foram anos de juventude contemplativa e poucas vezes senti sua pele morena em minhas mãos. Nunca beijei você. Nunca. Quer saber? Nem sonhos eróticos eu tinha. Eu dizia para mim que poderia não ser hoje, poderia não ser amanhã mas algum dia eu iria realizar o meu grande sonho de ter você junto a mim para sempre. Quando tudo aconteceu você ia fazer dezesseis anos. Todos os anos que brincamos juntos, que cantamos e como sua voz era maravilhosa, como passeamos pelas ruas de Campos Dourados e eu sabia que ninguém duvidava que um dia iriamos fazer o par perfeito, nos casar, ter uma família e viver feliz para sempre. Mas isto só na minha mente. Ninguém nunca aceitaria estarmos casados. Sociedade hipócrita.

      Maldito Senador. Maldito mil vezes. Eu era uma pulga, um mosquito que ele com um simples bater de mão me destruiria. Porque foi a nossa cidade? Era pequena e ele que queria conquistar o mundo não precisava ter ido lá. Seu discurso em frente à Matriz de Santo Antonio foi arrebatador. As moçoilas da cidade estavam em estado de êxtase. Quando ele jogava seu topete já embranquecido de um lado ao outro elas suspiravam. Fizeram fila na porta do seu hotel. Diziam que ele era solteiro e aspirante a Presidente da Republica. Como foi bajulado. A cidade inteira ficou aos seus pés. Porque seu pai o convidou a sua casa? Não precisava. Mas ele foi só era uma das famílias mais conceituadas e como médico seu pai seria um cabo eleitoral dos mais perfeitos.

       Eu fiquei em frente sua casa, junto a uma multidão enquanto o Senador X se refastelava com o almoço cinco estrelas que sua mãe fazia. Você chegava à janela, me dava adeus, sorria e voltava para dentro. Os erros são os rascunhos da vida. E foi naquele dia que eu descobri uma coisa fantástica, talvez a mais fantástica de todas: Quando a gente para de procurar desesperadamente por um amor, a gente percebe que não pode amar qualquer coisa. Eu amava só você e mais ninguém. Fiquei feliz com a partida do Senador X. Mas o que me contou a noite me deixou atordoado. Seu pai autorizou você a ir morar na capital na casa do Senador X. Ele tinha prometido que você iria estudar no melhor colégio. Iria aprender a viver na melhor sociedade brasileira, prometeu mundos e fundos. E o pior, disse que a trataria como se fosse à filha que nunca teve. Eu gostaria de ter lhe dito que nunca acredite em uma lágrima, acredite na pessoa que derramou esta lágrima por você.

          Ele mandou sua limusine para sua viagem. Tentei me aproximar mas seu pai não deixou. Pediu-me que não atrapalhasse seu futuro brilhante. Eu perdi o sentido da vida. Sem você ela para mim não tinha mais valor. Pensava como estava vivendo, se sorria como outrora, e se deixou que o maldito Senador X a tocasse. Isto me embrulhava o estomago. Nunca podia imaginar ele acariciando seu rosto, seus seios, todo seu corpo que pensei que um dia seria meu. Sei que você não sabe, mas pense, pense que existe alguém que sorri só a ouvir o teu nome? Mas o mundo não para de girar, a vida segue sua rotina e o tempo foi passando, passando, e eu não me interessando por ninguém. O que aconteceu me deixou atabalhoada. Os jornais estamparam em letras garrafais – O Senador X quase foi morto por um jovem de nome Rebecca.

           Aquilo era impossível. Seus pais não me diriam nada. Com os parcos recursos que um dia guardei para nós parti para a capital. Eu sabia que não seria recebido pelo Senador X. Mas eu precisava saber onde você estava. Eu não ia deixar você sozinha. Eu jurei que éramos um só antes e seriamos sempre a mesma pessoa. Não iria condenar o que fizeste. Nunca. Perdoar é libertar alguém da culpa e descobrir que o prisioneiro era você! Fiquei vários dias no portão tentando saber de alguém onde você estava. Um jardineiro sorriu para mim. Era novo, me achou bonita. Sorri para ele. Deixei que me acariciasse apesar de sentir asco. Contou-me que por ser menor você foi para a Fundação Casa. Onde internam os menores infratores. Disse-me mais que você iria ficar lá por dois anos até fazer 18 anos. Eu não iria deixar. Combinei com o jardineiro de voltar à noite e deixar que ele me possuísse. Maldito que se masturbasse a vontade, pois ali nunca mais voltaria.

             Precisava conhecer alguém que trabalhava ali. Ninguém iria me deixar entrar. Afinal estava com meus dezessete anos e o que poderia acontecer é ser presa também. Uma mocinha magrinha muito simpática estava saindo do prédio. Aproximei-me. Disse que uma prima estava ali se ela conhecia. Ao dar o nome ela sorriu. – Olhe sua prima não está mais aqui. Ficava o dia inteiro gritando, dizendo que ia se matar. Foi levada para o Hospital psiquiátrico de Sorocaba. Meu dinheiro estava acabando. Comia quase nada. Um Cachorro quente aqui outro ali, mas deu para comprar uma passagem de ônibus até Sorocaba. Não foi difícil encontrar o hospital. Difícil era entrar lá e descobrir onde estava Rebecca. O jeito era me prostituir com um guarda. Não seria fácil. Era virgem, mas por Rebecca eu faria qualquer coisa.

            Antonio foi uma bela surpresa. Quando me aproximei dele ele sorriu para mim. Quando disse o que queria ele se assustou, quando ofereci meu corpo ele fechou a cara e disse que aquilo ele nunca faria. Era evangélico e respeitava todas as mulheres que um dia apareceram em sua vida. Disse que iria ajudar. Que eu voltasse no dia seguinte e ele iria se informar onde Rebecca estaria internada. Arrumou-me um uniforme de faxineira. Entrei sem problemas junto com ele. Quase chorei quando vi Rebecca. Estava um trapo. Aquela menina linda e formosa era sombra do agora. Ela não me reconheceu e só no segundo dia um lampejo passou em sua mente. Antonio me ajudou a fugir com ela. Deu-nos uma carona até Campinas. Não poderia voltar a nossa cidade. Ela seria presa novamente. O dinheiro acabou. Tive que me prostituir. Um rufião me fez uma proposta para trabalhar em São João da Barra. Estavam construindo o grande porto e era um ótimo local para fazer dinheiro se prostituindo.

              Rebecca me seguia onde fosse. Não era dona de si mais. Não tinha domínio sobre si e era mais um robô humano a me seguir. Faz onze anos que estamos morando em São João da Barra. Compramos a Boate Nostradamus. Ela não é a melhor, mas não nos deixou na miséria. Falta pouco para irmos embora daqui e quem sabe abrir um pequeno comercio em alguma cidade. Rebecca dorme comigo na mesma cama. Não fazemos sexo. Ela não sente nada. Mas eu durmo abraçado com ela. Eu a amo mais que tudo na vida. Nunca me perguntou pelos seus pais e pelo Senador X. Não contei para ela que ele e a família tinham morrido em um acidente aéreo. Não importava para ela. Eu e ela já temos mais de dezoito anos. Sei que seremos felizes, pois eu vou cuidar dela por toda minha vida. Como disse Shakespeare, é muito melhor viver sem felicidade do que sem amor. E eu amo muito a minha querida Rebecca. Sei que não disse, mas me chamo Monalisa e não sou bonita. Mas importa?  

Soneto do Monge caluniado.
 [anônimo]
Língua mordaz, infame e maldizente,
Não ouses murmurar do bom prelado:
Ainda que o vejas com Alcippe ao lado.
Amigo não será, será parente:

Geral da Ordem, pregador potente,
No jogo padre-mestre jubilado,
E também caloteiro descarado
Pode ser que o repute alguma gente:

E que te importa que fornique a moça?
Que pregue o evangelho por dinheiro? [pé quebrado]
Que em vez de andar a pé ande em carroça?

Talvez que disso seja um verdadeiro
Dos monges exemplar, da Serra d'Ossa,

Pois que dos monges é hoje o primeiro. (anônimo)

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