Perdido na estrada do
inferno,
Você é seu único Deus.
Além do frio sem inverno
E um nada prá esperar...
E eu te falo
Estrelas negras
Não aparecem no céu.
Sem o brilho da saliva,
Do teu cuspe prá acordar
Sangue estragado
vermelho
Na estrada para o inferno
E um infinito para
atravessar...
Demônio na noite,
Sou euuuuuu!
Sou euuuuu!
Sou euuuuu!
Passageiro de um destino
Que nem mesmo sabe onde
chegar,
Anjo negro suicida
E um profundo abismo prá
dragar...
Enfeitado em flor de
plástico
Você é seu único Deus.
Perdido na estrada do
inferno
E todo o resto prá dizer
adeus...
A loucura devora a alma
Por favor, esqueça
Dane-se Exploda-se
Que tudo apodreça
Demônio na noite,
Sou euuuuuu!
“Bruna”
Uma estrada para o
inferno!
“O
inferno são os outros”.
O tiro atingiu bem no meio da testa de
Salamanca. Um pequeno buraco na frente e outro enorme atrás. Ele caiu duro na
soleira da porta. Solange sua esposa veio correndo e nem soube quem a matou. Um
tiro perfeito no coração. Calixto ouviu um choro de criança, desceu do cavalo e
na pequena sala o menino de uns quatro meses chorava. Nem apontou atirou de
primeira. O tiro atravessou a boca do menino e ele morreu na hora. Calixto nem
foi ver se todos estavam mortos. Não precisava. Ele sabia que onde olhava a bala
estava lá. Sua pontaria era terrível. Largou os corpos lá e partiu para a casa
de Alencar. Não era longe, umas duas léguas no máximo. No caminho pensava no
dinheiro que o Coronel Calazans tinha prometido. Pagou a metade e a outra só
quando terminasse o serviço. O Coronel não explicou porque precisava de todos
mortos. Ele também não perguntou. - Cinco mil por cabeça – ele disse. Não quero
testemunhas, mate todos que estiverem por lá ou quem encontrar no caminho!
Do alto da
colina avistou a casa de Alencar. Na porta duas crianças brincando. – Seu pai?
– Na roça Seu Moço! Maria veio ver quem era. Não deu tempo. Três tiros três
mortos. Atrás da choupana Alencar chegou correndo. Mais um que recebeu um
prêmio, um passaporte para o inferno. Morreu na hora com um tiro na boca.
Faltavam ainda Nonô, Policarpo e Esmeralda. Matar uma moça sem pai e sem mãe?
Não importava. Ele fora pago para isto. Nunca teve dó, pena, piedade. Já tinha
perdido a conta de quantos havia matado. O dia estava terminando. Ele precisava
parar e arranchar. Não dava para matar todo mundo num só dia. Parou próximo a
um pequeno regato, jogou sua manta e dormiu. Acordou com uma fome “braba”. No
bornal preso na sela ele tirou um pedaço de carne seca. Comeu sem cozinhar.
Montou no cavalo e partiu. Na estrada viu alguém correndo. Estava em uma égua
pequena, quando ele viu Calixto pediu a Deus por sua vida. Não adiantou. Deus
não o atendeu. Morreu na hora com a bala de winchester que carregava preso a
sela. Calixto não queria saber quem era.
Ele
pensou que era alguém indo avisar os demais do matador que o Coronel contratou.
Agora ele está lá, na porta do inferno conversando com o diabo esperando outros
que em breve iriam chegar. Era um contratempo. Pensou em encontrar todos eles
desprevenidos. Bem, dinheiro não cai do céu. Estava fácil demais. Viu de longe
na trilha a fumaça na casa de Nonô. Quem sabe ele ainda não fora avisado? Ledo
engano. Ao atravessar o Ribeirão das Cobras balas zuniam sobre sua cabeça.
Calixto riu. Porra, o danado está armado! Parecia ser mais de um. Lembrou que o
Coronel disse que ele tinha um filho de desesseis anos. Bem os dois devem estar
armados. Vamos esperar a noite chegar. Procurou uma moita de capim colonião e
deitou dormindo na hora. Os tiros cessaram. Quem sabe eles achavam que ele
estava morto, mas ninguém foi lá para ver. Calixto acordou com noite escura.
Olhou sua winchester e viu que estava pronta para cantar. Arrastando foi
devagar até a casa de Nonô. Tudo escuro. Ele sabia que eles estavam lá dentro.
Ele sabia que fugir dele era cair na frigideira.
Meteu o
pé na porta e mesmo no escuro sentiu o fedor da morte. Não deu tempo para nada.
Três tiros, três mortos. Melhor era confirmar se estavam a caminho do inferno.
A noite todos os gatos são pardos. Mortinhos da silva. A mulher, o menino e
Nonô. Ele sabia que o Coronel iria pagar por cada morte que ele encomendou.
Procurou no quarto embaixo da cama se não tinha mais alguém. Não tinha. Calixto
estava cansado de tanto cavalgar. Ele sabia que podia ficar mais uma semana na
sela do cavado baio. Mas amanhã é outro dia e ele pensava que podia acabar de
vez com a empreitada. Faltava Policarpo e Esmeralda. Se Deus ajudasse ele
mataria os dois em um só dia. Resolveu dormir ali na casa de Nonô. Nem se
preocupou em tirar os cadáveres da sala. Deixe eles lá. Não estão mais no
corpo. Ou foram para o céu ou para o inferno. Deitou na cama de Nonô e dormiu
em menos de dois minutos.
Nem bem o
sol apareceu e Calixto já estava na estrada rumo à casa de Policarpo. Iria
deixar Esmeralda por último. Estava na campana há dias e precisava comer uma
mulher. Disseram a ele que Esmeralda era uma moça linda e gostosa. – Como ela e
meto uma bala nela depois de gosar pensou. Ele não entendia porque o Coronel
Calazans queria matar todos eles. Quem sabe a nova lei do usucapião? É o tal
negócio, você dá a mão e o cara quer tudo! Não dizem que quem tudo quer tudo
perde? Interessante que as roças que viu eram uma merda. Ficar ali contra a
vontade do coronel e não ter nada era só mesmo para filhos da puta que não
queriam trabalhar. Às onze da manhã avistou a casa de Policarpo, ele estava
sentado no banco na porta da sala. Será que ainda não sabia? Apalpou seu colt
45 e viu que estava bem no coldre. Já tinha visto as balas que colocara e elas
já tinham dono e destino. Chegou sério até onde estava Policarpo. Ele não era
de sorrir. Dizia para si mesmo que quem rí muito é viado.
Policarpo
olhou para ele e nos seus olhos Calixto viu a morte. Pulou do cavalo na hora
que o tiro ecoou. A mulher de Policarpo estava armada e esperando ele chegar.
Viado filho de uma puta. Quase me pegou. Policarpo deu um salto e atirando com
um Taurus simples errou o primeiro tiro e o segundo engasgou. Tá fudido home!
Comece a rezar, pois vai morrer agora disse Calixto. O primeiro tiro foi para
Lena a mulher dele que estava na janela pronta para o segundo tiro. Ela nem
sabe como morreu. De raiva Calixto descarregou o Colt em Policarpo. Cada tiro
ele dançava no ar. O sangue espirrava e as balas de Calixto brincavam em entrar
naquela pele negra, mas com sangue vermelho. Policarpo girou como um peão
danado, sentindo a morte tomando conta dele e pedindo ao demônio que matasse
aquele matador filho de uma égua. Calixto sentiu uma queimação na perna
direita. Sangue jorrava e a calça estava vermelha. Danado, ele me acertou.
Tirou a calça e viu que era um buraquinho de nada. A bala entrou e saiu.
Entrou
na casa a procura de filhos e não encontrou ninguém. O filho da mãe havia
despachado os três filhos antes da chegada dele. Agora seria difícil descobrir
onde estavam. Quem sabe na montanha do Grilo? Bem ele ia até lá depois de foder
e matar Esmeralda. Só de cueca foi até a bica no quintal e limpou a ferida da
bala. Ardeu mas nada parecido com a ultima bala que recebeu nas costas.
“Geraldino atirou nele pelas costas” Filho da puta! Ele até hoje nas prefundas
do inferno deve estar gemendo. Morreu com quinze facadas. Não ia desperdiçar
uma bala naquele demônio do caralho! Ficou de molho dois meses sem matar
ninguém. Se sentiu órfão. Não gostava de ficar parado. Ele gostava de matar,
matava tudo que era vivo e alguém pagava para acabar com o danado. Ele sabia
que tinha muito dinheiro guardado. Não gostava de bancos. Comprou um baú a
prova d’água, passou muito mel em volta, deixou secar e abriu uma pequena fenda
no Rio das Mortes e lá preparou para guardar seu baú cheio de dinheiro.
Calixto chegou à casa de esmeralda à tardinha. Encostada na soleira da
porta não fez nenhum sinal de medo ou que iria correr. Puta de uma morena
bonita e gostosa. Que lábios para morder ele pensou. Peitos enormes, cabelos
negros compridos do jeito que ele gostava. Sentiu um perfume no ar. Ela sorria
para ele e devagar levantava a saia para ele ver a calcinha dela. Filha da mãe!
Pensou. Me deixou duro. Saltou do cavalo e a pegou pelos cabelos arrastando até
a cama. Jogou-a brutalmente no estrado, tirou seu membro para fora, rasgou a
calcinha dela e meteu com força. Ele gostava assim. Este negócio de deixar a
mulher gosar é coisa de bicha escrota. Não dava folga. Metia com força e viu
que ela gemia. A puta estava gostando! Mulher é assim, sabe quando gosar.
Fechou os olhos para jogar toda a porra dentro dela. Não esperava o que ela
fez. Sentiu uma faca entrando em sua jugular. Espirrou sangue prá todo lado e a
respiração era difícil.
Agora sabia que ia morrer. Queria matar a puta dos infernos, mas não
tinha força. A faca encravada em sua garganta não lhe dava paz e nem maneira de
pensar. Ele morria aos poucos. Esmeralda sentou na cama se ajeitando e rindo.
Olhou para ele sem nada dizer. Ele olhou para ela e pensou que poderia ter
feito dela sua mulher. Precisava de uma mulher assim. Valente sem medo e
gostosa prá burro. O jeito era esperar o capeta chegar. Não ia rezar, sabia que
Deus não iria perdoar seus pecados. Nunca rezou na vida. Nem mesmo quando matou
o Monsenhor Diácono na sacristia. Matou rindo e o pendurou na imagem do cristo.
Imagem? Uma estátua feia e sem valor para ele. Melhor fechar os olhos e só
abrir quando chegasse ao inferno. Não deixou nada para trás, nunca teve nada a
não ser seu dinheiro preso em um baú na beira do rio. Ia ficar para as piranhas
se elas gostassem das verdinhas de cem.
Esmeralda foi até o córrego e tomou um belo banho gelado. Lavou bem suas
entranhas para não ficar marca daquele bandido filho da puta. Vestiu uma calça
simples e uma camisa estampada. Colocou um chapéu de palha e partiu no cavalo
baio de Calixto. Bom cavalo, marchador. Ela conhecia um bom animal. Estava
escurecendo quando chegou à fazenda do Coronel Calazans. Ele a esperava em pé
na varanda. – Matou? – Mortinho da silva Coronel. Bom serviço! – Desceu os três
degraus e entregou a ela uma sacola de dinheiro. Estava livre de todo mundo.
Olhou para Esmeralda, vai ser bonita e gostosa assim no inferno, pensou! Ela
sorriu. Sabia quando o Coronel queria foder. Mas não desta vez. Ela não
confiaria nele nunca. Meteu a espora no baio e sumiu na trilha da Ema. Ninguém
nunca mais ouviu falar dela.
Prologo: - Juventino notou que Calixto não mais apareceu no seu
casebre na beira do Rio Pardo. Passou um mês, dois e nada. - Morreu o
desgraçado pensou. Foi até a beira do rio onde sempre viu Calixto tirar e
colocar um baú dentro d’água. Achou a cordinha de nylon e a puxou. O baú veio à
tona. Abriu a tampa e viu sorridente um monte de dinheiro. Melhor ficar com ele
do que com os peixes do rio, pensou. Arrastou o baú até sua casa. Vovó Mafalda
sorriu quando viu tanto dinheiro. Juventino nos seus treze anos nem sabia
quanto tinha, sua Avó foi quem disse que eles tinham enricado. Mudaram para São
Lourenço uma cidade bem grande e que ninguém iria perguntar aquela velhinha e
aquele negrinho como eles conseguiram comprar a casa de Dona Antônia. É como
dizem. A males que vem prá bem. Calixto no inferno e Juventino gastando seu
dinheiro a rodo. Dizem que eles viveram felizes para sempre!
Aqueles que escapam
do inferno
nunca falam sobre isso
e nada mais incomoda eles
(...)
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou mesmo morrer.
Quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão indo? "
eles vão responder: "bem, muito bem... "
Uma vez que você foi para o inferno e voltou
é o bastante
é a mais silenciosa celebração conhecida.
Uma vez que você foi para o inferno
e voltou você não olha para trás
quando o chão range.
o sol está no alto à meia-noite
E coisas como os olhos de ratos
ou um velho pneu em um terreno baldio
pode torná-lo feliz.
(...) Uma vez que você foi para o inferno
e voltou.
nunca falam sobre isso
e nada mais incomoda eles
(...)
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou mesmo morrer.
Quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão indo? "
eles vão responder: "bem, muito bem... "
Uma vez que você foi para o inferno e voltou
é o bastante
é a mais silenciosa celebração conhecida.
Uma vez que você foi para o inferno
e voltou você não olha para trás
quando o chão range.
o sol está no alto à meia-noite
E coisas como os olhos de ratos
ou um velho pneu em um terreno baldio
pode torná-lo feliz.
(...) Uma vez que você foi para o inferno
e voltou.
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