CALCINHA
De renda sua textura
Moldando pele macia
Traduz sonhos na cama escura
Enquanto eu lhe tiraria
Perfumada pelo desejo
Eu te arranco com um beijo
Arrepiando seus sentimentos
Desvendando seus momentos
Calafrios em pensamentos
Que num toque se entregou
A essência do amor
De quem veio e lhe beijou.
Everson Russo
De renda sua textura
Moldando pele macia
Traduz sonhos na cama escura
Enquanto eu lhe tiraria
Perfumada pelo desejo
Eu te arranco com um beijo
Arrepiando seus sentimentos
Desvendando seus momentos
Calafrios em pensamentos
Que num toque se entregou
A essência do amor
De quem veio e lhe beijou.
Everson Russo
A
calcinha de renda vermelha de Lola.
Lola, apenas um nome. Sua
mãe nunca lhe disse o porquê. Era um mistério, de onde surgiu? Afinal Lola era
uma menina de dezessete anos, morena magra, sem formosura, seios pequeninos,
pernas finas, cabelos encarapinhado e o pior, era pobre. Mas conseguia
sustentar sua mãe que vivia em uma cadeira de rodas. Trabalhava em casa de
família como diarista e nunca pensou em ter um namorado. Ela entendia como era
e sabia que nenhum rapaz um dia iria se interessar por ela. Cresceu assim ali
naquele bairro pobre, e só Valeria como amiga. Valeria era diferente. Mais
espevitada. Saia à noite para as baladas e voltava tarde. Seus pais acostumaram
com tudo e virou rotina na vida dela. Convidou várias vezes para ela ir também,
mas Lola sabia que não seria bem vinda. Sabia que era feia, corpo magro e quem
poderia se interessar por ela?
Ramon era seu vizinho.
Nascera ali ao lado da casa de Lola. Nunca foram amigos, pois Ramon também era
meio esquisito. Não gostava do bairro que nascera e sabia que quando terminasse
a faculdade ele iria embora dali. Trabalhava no Banco do Estado, serviço
simples e salário pequeno. Quase todo gasto na faculdade São Judas no seu curso
de Arquitetura e Urbanismo. Não sabia que teria possibilidade de algum dia ser
um arquiteto famoso e isto não o incomodava. Queria trabalhar em um lugar onde
fosse respeitado e que pudesse mostrar seu valor profissional. No banco não
passava de um office-boy e poucos o respeitavam. Um dia Ramon ficou encucado.
Tudo porque ele viu pendurado no varal da casa de Lola uma calcinha de renda
vermelha. Seria dela? Teria que ser. Sua mãe nunca iria vestir uma calcinha
assim. Ficou pensando nela com a calcinha de renda vermelha. Tentou fazer dela
uma mulher sensual, mas não conseguiu. Não dava, Lola era o que é e nunca seria
uma mulher atraente usando uma calcinha de renda vermelha.
Foi Valeria quem inventou
tudo. – Lola, nem sempre o corpo é tudo, o que o envolve também. Vou lhe dar
uma calcinha de renda vermelha que tenho. Você não vai usar. Pendure-a no
varal. Todos que passarem irão ver sua calcinha. Ficarão intrigados como você
seria usando esta calcinha. Vai ser divertido saber que pelo menos terão
pensado em você e quem sabe alguém poderá ter tesão? Lola riu. Tesão minha
amiga? Nunca. Não com este corpo. – Valeria disse – Olha Lola sem querer
ofender, mas para todo chinelo Velho tem um pé que adora ficar ali. Quando
Valeria saiu deixando a calcinha de renda vermelha na sua cama, Lola olhou bem
para ela. Riu pensando como ficaria vestido com ela. Ficou tentada. Sabia que
não iria ser nenhuma beldade, mas a vontade chegou e foi tanta que ela se
despiu e olhando no espelho foi colocando devagar a calcinha. Passou pelos seus
joelhos e ali ela deixou parada. Viu seus ralos pelos cobrindo sua nudez entre
as coxas. Fechou os olhos e pensou que poderia estar sendo observada por um
homem em algum lugar.
Pela primeira vez Lola sentiu sua condição
de mulher. Teve desejos. Teve vontade de abraçar alguém, sentir o seu cheiro,
teve vontade de ser possuída. Mas não sabia como. Nunca fora. Era virgem e nem
tinha ideia de como seria. Abriu os olhos e se viu no espelho nua, tendo a
cobrir-lhe as partes íntimas uma calcinha de renda vermelha. Tirou logo e não
olhou mais no espelho. Vestiu seu vestido Velho de chita barata e saiu para o
trabalho. Ninguém iria trabalhar para sustentá-la e uma vertigem erótica não poderia
substituir o pobre dinheirinho que iria ganhar naquele dia. Saiu e viu muitos
vizinhos olhando para ela. Sentiu vergonha. Alguém teria visto ela só de
calcinha? Impossível. A janela estava fechada. Voltou e só de raiva pegou a
calcinha de renda vermelha e a colocou no varal.
Valeria quando chegou à
tardinha riu quando viu a Calcinha de renda vermelha no varal de Lola. Foi até
lá, mas ela ainda não havia chegado do seu trabalho. Mais tarde iria comentar
com ela como todos os vizinhos estavam alvoraçados com a calcinha de renda
vermelha presa no varal do seu quintal. Valeria não viu mais Lola naquela
noite. Saiu como sempre fazia como uma mariposa noturna em busca de sua
diversão, dos homens que amava. Nem prestou atenção na calcinha de renda
vermelha que estava presa no varal do quintal de Lola. Naquele noite Ramon
chegou tarde da faculdade. Quando ia entrar em sua casa reparou que a calcinha
vermelha estava lá. - Que coisa pensou. Uma calcinha de renda vermelha a me
importunar? Queria esquecer Lola e sua calcinha de renda vermelha. Tomou logo
uma ducha fria. Precisava. Sentia que seu corpo tremia. Desejos? Como? Por
Lola? Riu só de pensar. Não era Lola, era a calcinha de renda vermelha. Ela sim
lhe dava uma sensação enorme de possuir Lola. Não iria olhar em seu rosto, iria
esquecer seu corpo magro e sem graça, estava encantando era de ver Lola vestida
com a calcinha de renda vermelha.
Por vários dias a
Calcinha de renda vermelha de Lola não saia da cabeça de Ramon. Até seus
estudos estavam prejudicados. Na sala de aula da faculdade ele não se
concentrava. Não tinha jeito. Ele tinha de ver Lola com a calcinha de renda
vermelha. Enquanto isto não acontecesse ele não teria paz. Era um jovem
tranquilo, calmo e sempre respeitador até mesmo em seus pensamentos. Agora não
era mais assim. Passou a se masturbar com frequência sempre a pensar em Lola
com sua calcinha de renda vermelha. Em seus sonhos eróticos a possuiu em todos
os lugares. No cinema, no motel, em sua cama, na cama dela e em bosques de
parques da cidade que conhecia. Lola, Lola e sua calcinha vermelha de renda.
Tomou uma decisão. Iria conquistá-la. Acontecesse o que acontecesse. Mas iria
demorar a conquista. Ele não podia chegar a ela e dizer – Lola, eu estou louco
por você. Vista sua calcinha de renda vermelha e deixe-me olhar. – Não isto é
coisa de doidos. Mas como conquistá-la? E a vizinhança o que iriam dizer?
Afinal ele era um guapo bonito e tinha muitas moças do bairro que faziam tudo
para um convite dele. Bastava ele sorrir e piscar os olhos que elas vinham
correndo.
Aquele dia não foi
trabalhar. Ficou na varanda de sua casa esperando Lola sair ou chegar. Meio
dia, quatro da tarde, seis e nada. Lola não aparecia. Ele não sabia, mas Lola o
observava sorrateiramente atrás da cortina de sua casa. Ela também sonhou com
ele. Um sonho lindo, ela sendo possuída pela primeira vez. Ele um cavalheiro
entrou devagar para não machucar. Afinal Lola era virgem e sempre dói na
primeira vez. Ele foi calmo. Sentiu sua dureza em seu íntimo. Sentiu suas
caricias seus beijos e ela pela primeira vez chegou a um clímax que nunca tinha
chegado. Acordou suando. Isto era errado. O que Valeria tinha feito? Era
feitiço? Era apenas uma calcinha de renda vermelha, mas que transformou Lola e
Ramon. Ambos sabiam que queira ou não um seria do outro. Teriam que fazer o que
todo homem e mulher fazem. Lola sabia que quando Ramon a convidasse ela
aceitaria no ato. Não precisava de preliminares. Ela queria ser possuída. Seja
como for ela nunca pensaria mal dele.
Ramon não aguentou
mais. O dia inteiro esperando Lola chegar ou sair. Resolveu tomar uma decisão.
Foi até sua casa. Bateu e a porta se abriu. Ele viu o céu a sua frente. Lola nua
vestida com a calcinha de renda vermelha. Ele não sabia o que fazer. Sem membro
endureceu. Ele queria abraçá-la, beijá-la, fazer tudo que achava direito. Mas
entrou devagar em sua sala. Lola morena estava vermelha. O que Ramon poderia
pensar dela? Receber ele assim nua só de calcinha de renda vermelha? Ela não
era uma mulher de vida, não era uma moça oferecida. Ela era uma moça direita,
virgem e que sabia não ter atrativos, mas aquela calcinha de renda vermelha a
transformou. O jovem mais bonito do bairro a queria. Ela sabia disto. E depois?
Sabia por ter lido que após o ato muitas vezes vem o arrependimento. E se ele
se arrependesse? Seria só uma vez? Valeria a pena? Pelo sim e pelo não pegou
ele pelo braço e o levou ao seu quarto. Ele fechou a porta devagar, olhou para
ela nua só com a calcinha de renda vermelha.
Parece que o mundo
explodiu em goso. Um goso gostoso, animalesco, um goso de um homem e de uma
mulher. Ramon achou que estava voando no céu. Achou que seu corpo estava
experimentando um êxtase nunca antes conquistado. O assalto não foi uma única
vez. Ele assaltou seu corpo por varias vezes. Não falavam. A cúpula era uma
atrás da outra. Como ele conseguia? Mas ele estava extasiado com aquela mulher
e ela extasiada com ele. Nunca pensou que o ato fosse assim. Sempre teve medo
sempre correu dos homens, pois nunca pensava em ser possuída. Ramon sentou em
sua cama. Colcha branca agora vermelha como sua calcinha de renda vermelha. Não
se arrependeu. Para ele Lola era outra moça. Não a achou mais feia, magra sem
graça. Ele a queria para sempre. Um amor diferente estava nascendo. Ela também
sentia o mesmo.
Na rua ela andava
agora diferente. Olhava a todos como se fosse uma vencedora. Não era mais uma
moça, agora era uma mulher. Ramon também mudou. Era outro homem. Sabia que
tinha encontrado a mulher dos seus sonhos. Não esquecia a calcinha vermelha de
renda. Formou-se e se tornou um famoso arquiteto. Sempre corre para casa as
pressas para encontrar Lola. Seus desejos eróticos se mantinham firmes. Todas as
noites ele a possuía. Ela gemia de prazer quando ele lhe tirava a calcinha de
renda vermelha devagar. Devagar para não rasgar. Ambos sabiam que era uma calcinha
de renda vermelha encantada. Ela foi à razão deles se tornarem amantes e agora
casados viviam a vida de um casal em plena felicidade. Feliz para sempre. Nem
mesmo Jô, Martinho e Lolita seus filhos tiraram seus prazeres secretos. Eles
sabiam que quando o pai chegava se trancava no quarto de sua mãe. Saiam de lá
sorrido, de mãos dadas como se tivessem feito o grande amor de suas vidas.
A calcinha de renda
vermelha, guardada sozinha em uma pequena cômoda feito só para ela sorria.
Sabia que todas as noites ela seria usada. Mas não foi encantada por uma
feiticeira que sentia falta de um grande amor? E agora ela parecia viva, sabia
que estava ali por pouco tempo. Até a hora que Ramon ia chegar e amar Lola.
Assim termina a história. A história de uma calcinha de renda vermelha que fez
um casal feliz por todo o sempre.
CALCINHA
Ah que calcinha linda
De renda nunca foi não
Os fios todos bem justos
Querendo ser proteção
De renda nunca foi não
Os fios todos bem justos
Querendo ser proteção
Uma calcinha bem branca
Bem fina de algodão
Fugindo do cós da calça
Deixando-me com paixão
Bem fina de algodão
Fugindo do cós da calça
Deixando-me com paixão
Chateia-me esta peça
Nos dias de muito tesão
Só serve pra dar trabalho
De tirar molhada ou não
Nos dias de muito tesão
Só serve pra dar trabalho
De tirar molhada ou não
Depois do amor já feito
Volta ela ao lugar
Branca, seca, bonita
Fetiche de me matar
Volta ela ao lugar
Branca, seca, bonita
Fetiche de me matar
João Freitas
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