Não fuja
deste desejo, te quero por inteiro
Sem pensar
num amanhã
Quero
viver o agora, quero delirar de prazer
Realizar
todas suas fantasias
Ser
possuída e dominada
Por você…
Borboletas
também querem voar!
Esta historia aconteceu na Itália
na cidade de Milão, acho que foi em meados de janeiro de 1965. Não sei onde li
ou se foi eu quem escreveu. Risos. Não sei se é verdadeira, se é real, não sei
mesmo. Minha mente se confunde. Ela era jovem, cabelos
compridos castanhos avermelhados, olhos castanhos, linda. Lábios carnudos,
pedindo beijos. Tinha sonhos, como todas de sua idade. Escondidos claro,
ninguém sabia. Gostava de sorrir, de sentir o mundo, fantasiava sair por aí,
conhecer outros lugares, viver, sonhos que toda jovem tem.
Todas as manhãs lá estava na
janela. Observava as pessoas passando, uns vindo, outros indo caminhando com
olhos baixos parecendo não ter destino certo. Sempre reparara nele. Um jovem de
aparência meiga, olhos negros, andava de cabeça curvada como se soubesse seu
destino. Parecia firme nos seus passos.
Ela sentiu desejos pelo jovem.
Desejo só seu. Ninguém podia saber. Católica fervorosa escondia de si e de seu
Deus. Tinha medo. Rezava. Pedia perdão. Mas dentro de si, fervia estas
fantasias pecaminosas. Ele sempre a via, de soslaio, sem encarar. Tinha medo,
Nunca teve uma garota, nunca beijou. Mas sentia por ela um desejo profundo.
Amor? Paixão? Não sabia.
Chegava a casa, sentava em seu
banquinho e ficava com a mente em devaneio, procurando concatenar um presente
sólido para ela e para ele. Morava só. Seus pais haviam falecido. Era
carpinteiro. Aprendera com o pai. Tinha medo de se aproximar. Tinha medo de ser
repelido. As fantasias dele ficavam escondidas no recôndito de sua memória,
feito monstros poderosos, que não deixavam ver a beleza de um amor profundo.
Planejou, mentalizou um plano
sórdido. Era um maldito. Achava ter nascido para o mal. Não era religioso,
diziam que ele era frio, calculista, não tinha amor, não tinha passado. Ela
sempre ia só à igreja à noite. Ele a espreita já sabia seu destino, onde
passava e em um beco, subjugou-a colocando um lenço embebido em éter em seu
rosto, ela desmaiando em seguida.
Tinha alugado uma casa, na
periferia afastada de tudo e de todos. Levou-a até lá. Até o porão, fechado,
sem janelas, só com uma porta. Tinha preparado tudo. Iluminação, cama, água,
roupas, alimentos. Deixou-a na cama, fechou a porta e se foi. Voltou dois dias
depois. Abriu a porta, ela desesperada, gritando, explodindo e dizendo,
maldito, filho da puta, desgraçado o que fez comigo? Ela o arranhava, o mordia,
tentava fugir. Ele mais forte, a dominava. Nada dizia, permanecia calado.
Uma semana, duas, ele sempre levava
duas vezes por semana, sua alimentação e roupa de cama limpa. Sentava num
banquinho de madeira e ficava olhando para ela, sempre de cabeça baixa,
admirando, sonhando, mas sem nada fazer.
Ela não parava de gritar. Palavrões
que nunca tinha dito. Maldito! Perverso, desgraçado filho do Demônio do
Príncipe das Trevas, O que queres de mim? – Queres me possuir? Possua filho da
mãe mas me solte pelo amor de Deus! Ele nada dizia. Permanecia calado e ia
embora. Ela se desesperava. Quem era? Seu nome? Sua voz? Meu Deus!
Um mês, dois meses. A rotina de
sempre. Agora ela ficava sentava na cama, olhando para ele com os olhos
vermelhos, inchados de tanto chorar. Calada também. Viu que gritar e xingar não
adiantava nada. Tentou todas as formas de fuga. Bateu com o banquinho em sua
cabeça quando entrou. A casa de grade não deu para fugir. Ele não reagiu. De
novo em seu banquinho, sem falar, sem tentar nada, ficava ali sentado de cabeça
baixa.
Seis meses, ele sabia das buscas, das
investigações na cidade. Desistiram. Acharam que ela tinha fugido da cidade com
outro. Nada descobriram. Um ano. Ela calada, ele calado. Ela nunca entendeu.
Quem era ele? Um Louco? Um psicopata? Que era isso meu Deus? Como um homem
podia agir assim? Nunca pensou que este era seu destino. Quem era ele? Como seria
ele? O que fazia, o porquê de tudo aquilo? Sem respostas. Ele sempre calado.
Quase dois anos. Começou a se
apaixonar por ele. Calada, nada dizia. Mas as fantasias voltaram. Uma vontade
louca de fazer amor com ele. Um dia ficou em sua frente, tirou suas roupas e o
possuiu ali mesmo com ele sentado no banquinho, sem dizer nada, sentiu seu
membro duro dentro dela. Latejante. Fechou os olhos. Sentava e levantava. Que
prazer meu Deus! Ele aceitou que ela conduzisse. Não falou nada. Nunca havia sentido
prazer assim em sua vida. Ele não gemeu uma única vez.
Foi embora. Ela sabia. Ele nunca mais
iria deixá-la sair. Uma ou duas vezes chegava, sentava no banquinho, ela o
possuía, tirava suas roupas ali ou na cama. Acariciava o seu membro, colocava
na boca, tentou fazer o mesmo para ele imitar. Nada. Sempre calado, viu que
sentia tudo, gemia rouco, ela fazendo amor bruto e animal com ele, de todo
jeito, ele nada dizia, pois era ela quem comandava tudo.
Cinco anos. Ela estava perdidamente
apaixonada por ele. Desgraçado. Mudou sua vida. Donzela virgem e agora amante
do homem que a sequestrara. Seus desejos
de fugir acabou. Não tinha mais sonhos. Esquecera sua família. Esquecera-se de
tudo. Aceitava ser uma prisioneira. Sua vida era aquela. Ela sabia. Conformava.
Contava os dias que ele iria aparecer. Era sua única forma de combater a
solidão.
Quinze anos. Seus cabelos começaram a
embranquecer. A rotina de sempre. Ele chegava, ela olhava para ele com olhos de
gazela faminta. Esquecia tudo. Fazia amor com ele. Gritante, calmo, sensual. Gostava
do seu sexo, adorava ele duro dentro dela. Esquecia-se de tudo quando sentia o
jorro quente dentro de sí. Ele sempre
ali, olhando para ela, nada dizia. Agora ele gozava, vestia as roupas e ia
embora. Ela não sabia seu nome e nem conhecia sua voz.
Trinta anos prisioneira. Uma tosse
rouca, seu corpo definhando, ele lhe dando remédios, uma semana, duas e ela se
foi.
Ele se dirigiu a um bosque
de azinheiro, procurou a árvore mais alta e se enforcou.
Alguns meses depois o encontraram
pendurado, com o corpo perfeito sem nenhum sinal cadavérico.
Descobriram a casa. No porão a
encontraram. Bonita, deitada na cama rosto angelical, vestida de noiva, cabelos
soltos. Nada parecia que ela estivesse morta. Sorria, como se alguém estivesse
com ela.
Comentaram muito do acontecido, mas
ninguém, ninguém mesmo até hoje foi capaz de explicar o que aconteceu.
Milão, outubro 1998. Uma nota no jornal
Corriere Della Sera falava pouco do acontecido. Quase não dizia nada. Alguém se
interessou pelo fato. Ele conhecia uma moça, linda, sempre a via quando passava.
Quem sabe?...
Me chama, me conta, me diz
Como vai sua vida
Mas diz a verdade com jeito,
Para não machucar
Engana que sente saudades
Que ainda não me esqueceu
Que seu amor ainda sou eu...
Confessa que eu tinha razão
E você estava errada,
disfarça
E não diz que esse outro
Te faz feliz, me engana
Me esconde a verdade
Sonhar é melhor que sofrer,
Mente para mim, me ajuda a
viver!
Nenhum comentário:
Postar um comentário