Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Um golpe de Mestre.
O Comendador Teobaldo Lascarim
estava com os olhos vidrados, uma dor terrível em todo o corpo nu e amarrado em
uma mesa com as pernas abertas. Gerônimo não o perdoou. Logo ele quem O
Comendador empregou com seu principal capataz na Fazenda Luar do Sertão e
sempre o prestigiou. Agora queria matá-lo e no fundo até que tinha razão, mas
“pombas” ele não ofereceu a triplicar seu salário? A comprar um carrinho para
ele? A dar a melhor casa da fazenda para ele? O Comendador não podia se mexer.
Sentia no seu traseiro gordo o enorme pedaço de pau que o Filho da Puta do
Jerônimo tinha enfiado. Já não sangrava mais e Jerônimo sempre que aparecia
tinha o prazer inato de tirar e enfiar de novo – Se continuar assim eu vou
morrer! Ele disse. - Que morra
desgraçado. Isto não é nada com o que ainda vou lhe fazer! O Comendador
Teobaldo Lascarim sabia que não haveria perdão.
O Comendador sabia que ele não
teria salvação. Se o Delegado Paludo desconfiasse tudo bem, ele nunca poderia
achá-lo ali naquela choupana proximo ao Rio Verde. Mas seria um milagre e ele
nunca acreditou em milagres. Gerônimo vinha à noite e pela madrugada. Sabido o
cara. Trabalhando ninguém desconfiaria dele. Porque entrou naquela fria?
Maldito tesão dos infernos. Sempre ele para desgraçar sua vida. Não fora a
primeira vez e se não fosse suas posição na comunidade, já teria levado alguns anos
de cadeia. Lembrava-se de tudo. Como todos os dias ia até a cidade para ver
como andava seu Cartório do 1º Ofício. Quase não ficava lá. Viu Nininha
correndo para pegar o ônibus da escola. Não conseguiu. Ele parou e ofereceu uma
carona. Ela sorridente entrou no seu Buick reformado. Ele adorava aquele carro.
Tinha mais dois zero quilômetros na garagem de sua fazenda, mas o Buick era seu
preferido.
Nininha parecia ter onze ou
doze anos. Magrinha uma teteia, pois seus seios exuberantes já demonstravam sua
força. O Comendador olhava de esguelha sem tirar os olhos da estrada. Ele
gostava de meninas. Em fins de semana sempre tinha uma ou duas a disposição na
fazenda. Pagava bem aos pais para não ter problemas depois e sabia que o
Delegado Paludo também tinha as mesmas taras. Quer saber? Todos os homens proeminentes
em Natividade eram pródigos em procurar uma menininha para passar o tempo.
Sempre tinha pais que vendiam e sabiam que pagavam bem. Ele com sua mão direita
colocou nas pernas de Nininha. Ela sorriu para ele. Sentiu seu corpo ferver.
Estava bom demais aquilo. Sem mandar ela acariciou sua protuberância com sua
mãozinha pequena. Ele entrou em uma estrada de terra e não deu outra. Possuiu a
menina ali mesmo. Ela não reclamava só pedia para ser atrás, pois era virgem.
Não gritou e nem gemeu.
Mas que “merda” no dia seguinte Jerônimo
o pegou de jeito ao sair na porteira da fazenda. O Comendador não esperava
aquilo. Jerônimo era seu empregado e sempre foi pacato e obediente. Com
brutalidade o empurrou para o lado do passageiro e com um facão o mandou ficar
calado. Engatou uma primeira e uma segunda no Buick e saiu a toda pela
estradinha. Quando percebeu estavam na Beira do Rio Verde, numa choupana que há
tempos ninguém usava. Jerônimo não dizia nada. O amarrou na pequena mesa e
cortou suas roupas com o facão o deixado nu. O pior aconteceu. Sentiu quando
Jerônimo enfiou aquele galho cortado em seu traseiro. Como doeu e ele nem sabia
por que Jerônimo fazia isto. O deixou lá amarrado à mesa com as pernas abertas
e se foi. O Comendador gritou feito um peão danado. E quem ouvia? Ninguém ele
sabia. Ficou rouco de tanto gritar. À noitinha Jerônimo apareceu. Deu-lhe água
e um pouco de arroz com feijão. O Comendador sempre perguntando o porquê ele
fazia isto com ele.
Só no segundo dia ele disse.
- Se quer sair daqui sem morrer bode Velho escreva um bilhete para o Gerente do
Cartório dizendo que fez uma pequena viagem e só daqui a alguns dias irá voltar.
Já estava ali há dias ele mesmo nem sabia quantos. Sentia que não ia durar muito.
Sempre Jerônimo lhe dando comida e água e enfiando o galho naquele lugar. A
noite ele ficou sabendo o porquê. Nem sabia que Jerônimo era o pai de
Nininha. Ele nunca foi a sua casa e
nunca viu a menina com ele. Jerônimo não falou mais nada. Só disse que ele iria
morrer da forma mais horrenda do mundo. Com um pau enfiado em seu trazeiro,
amarrado a uma mesa e ele iria parar de levar comida e agua. Que você morra seu
Filho da Puta ele disse. No dia seguinte sua ração de água e comida foi
cortada. O Comendador chorava a cântaros. Pedia perdão dizia que daria tudo
para ele soltá-lo. No dia seguinte Jerônimo pôs as cartas na mesa: – Com um
Lepitot o mandou transferir todo seu dinheiro na conta de alguém chamado
Aristides Peixoto.
O Comendador Teobaldo
Lascarim passou uma noite do cão. Ele não acreditava em uma palavra do que
dizia Jerônimo em soltá-lo. Mas sempre a duvida está presente e se fosse
verdade? Melhor dar o dinheiro a ele e rezar para que ele o soltasse.
Transferiu dezoito milhões da poupança e quatro milhões de sua conta pessoal.
Pelo menos seus investimentos não poderiam ser transferidos e ele poderia fazer
dinheiro com eles quando quisesse. Achou que tinha morrido quando ouviu vozes.
Era o Delegado Paludo e mais três praças. Soltaram-no e o levaram para o
Hospital Santa Maria. Ficou lá dez dias. Recuperou logo suas forças e só a
parte do trazeiro é que ardia demais. O delegado lhe disse que encontraram seu
Buick perto de Santana do Livramento há mais de setecentos quilômetros de sua
cidade. Prometeu a Deus que nunca mais iria olhar para uma menina. Para ele
chegava àquela que quase o matou. Promessas, promessas... E quem acredita
nelas?
Nininha de óculos escuros,
escondida em um biquíni para adultos, se refastelava em uma cadeira da praia
particular do Hotel Sirenusi em Mar Del Plata. Estava só e Aristides, ou
melhor, Jerônimo tinha viajado até o sul do Brasil a procura de um emprego em
alguma fazenda de um ricaço. Nininha na realidade tinha dezessete anos e rosto
de anjo de doze. Todos achavam que ela era uma menininha e ela fingia bem.
Sabia corar, sabia rebolar, sabia gemer se preciso quando uma vara a penetrava.
Ganhou muito dinheiro com isto e pretendia ganhar mais. O Comendador foi uma de
suas vítimas. Tudo planejado de antemão. Aristides era um excelente peão
boiadeiro e não tinha dificuldades de se empregar em qualquer fazenda. Conheceu
Aristides em Araçatuba há cinco anos. Ele bêbado tentou agarrá-la. Ela o levou
até sua casa na periferia e ali ele desmaiou. No dia seguinte ela fez sua
vontade. Ele achando que era uma menina virgem.
Tudo foi o começo. O medo
de ela contar para alguém, principalmente o delegado o fez escravo dela. A
danada filmou tudo que ele fez com ela. Como era sabida. Quando ele soube que
ela tinha dezessete anos ficou possesso. Tentou estrangulá-la, mas ela com um
punhal no seu pescoço o fizeram desistir. Ficaram sócios nos golpes que ela
armava. Um dia pensou em sumir com o dinheiro, pois todos depositavam em seu
nome em uma conta que tinha em Montevidéu. Ela o engendrou de tal jeito que ele
não teve escapatória. Tinha uma declaração dele que a tinha estuprado enquanto
dormia e tinha o filme. A danada não se sabe como tinha uma identidade onde
dizia ter onze anos. Ela com outra identidade falsa tinha contas em vários
bancos. Dava para Aristides dez por cento do que conseguiam e pagava todas suas
despesas. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde tinha de dar um sumiço nele e
isto não seria difícil.
Em uma tarde de novembro, na cidade de
Jersey no Rio Grande do Sul, durante uma exposição de gado Holandês Aristides
conseguiu um emprego na fazenda do Coronel Salud que adorou seu modo de tratar
os animais. Nininha chegou à noite e viu o Coronel Salud. Não demorou dois dias
e planejou tudo. Aristides era seu pau mandado e ficava admirado em ver aquela
menina, com cara de novinha e corpo sem graça a não ser os seios atrair os
homens como ela atraia. Ele não reclamava, pois sua conta no banco tinha engordado
bastante desde que a conheceu. E assim, de golpe em golpe Aristides um dia foi
traído pelo destino. Ou será que foi por ela? Quando o Coronel Salud sofria com
um galho no trazeiro, nu e amarrado em uma mesa foi surpreendido pelo Delegado
Praxedes. O delegado não era boa bisca e chegou atirando. Aristides com os
olhos arregalados nem tempo teve de saber o que ouve e como o delegado ficou
sabendo. Agora Aristides prestava contas na porta do inferno onde o diabo rindo
o esperava.
De Nininha ninguém soube mais.
Um dia o Comendador Teobaldo Lascarim viu em um jornal da capital a foto do
Príncipe de Astúrias George Lascanes que se casava com uma jovem mexicana.
Presente Presidentes Reis e Rainhas. A foto não deixava dúvidas. Era Nininha. Ele
riu e correu a mostrar ao delegado Paludo. - Comendador, deste buraco não sai
coelho. Acusar esta menina dos crimes que cometeu aqui é mexer com o diabo. O
cara é príncipe e vai ser rei. Deixa prá lá. Um dia ela encontra seu destino e
vai se danar também. O Comendador riu baixinho. Foi duro o pau que ele carregou
no traseiro por uma semana. Mas a menina era uma delicia. Ele nunca esqueceu a “trepada”
que deu com ela. Mas não dizem que existem males que vem para o bem? Hoje ele
está casado com Dindinha, uma menina de catorze anos de cair o queixo. Afinal
ele gostava disto e se sofreu merece agora melhor sorte. Nem imaginava que
Dindinha era amante de Ponsigolo. Um peão que ele empregara seis meses antes.
É... Não tem jeito. Que assim
seja, pois não dizem que enquanto houver cavalo São Jorge não anda a pé? Risos.
“Se algum dos senhores quiser mandar uma mensagem ao diabo,
digam-me imediatamente, pois estou prestes a encontrá-lo.”
Via Láctea
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”.
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”.
E eu vos direi: “Amai para
entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”.
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”.
Olavo
Bilac
Nenhum comentário:
Postar um comentário