Saudade
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não
existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Quando e preciso ser homem.
Eu queria
esquecer. Esquecer-se de tudo que meu passado insistia em trazer para o
presente. Colocar bem no fundo do baú tudo que eu gostaria de esquecer e tirar
da minha memória. Sempre tentei ser honesto, homem honrado e nunca esqueci
aquele poeta desconhecido que um dia escreveu – Você não precisa ser homem,
basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar
e calar, sobretudo ouvir. Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros,
de sol, da lua, do canto da Cotovia, dos ventos e das canções da brisa. Não sou
bonito, nunca fui, mas tive algumas aventuras que para mim não passaram de
tempos perdidos. Minha família tentou tudo para que eu fosse um doutor, mas não
deu. Até que me esforcei e quase cheguei lá, mas a bebida tomou conta e por
mais que me esforçasse não conseguia parar. Eu tinha hora para começar e não
para parar. Nos bares que frequentava amigos ainda pagavam uma dose ou outra,
mas aos poucos isto foi rareando. Sem dinheiro, sem emprego nada mais me
restava do que viver à custa dos meus pais.
Um dia assisti
a um crime bem na minha frente quando voltava para casa. Não vi que deu as
facadas, pois estava embriagado e meus olhos nada enxergavam. Uma nevoa espessa
parecia flutuar em minha mente. Tentei socorrer a vitima, mas socorrer como?
Alguém passava na hora e me viu ajoelhado junto a ela com a faca na mão. Chamou
a policia, fui preso, julgado e condenado há trinta anos em regime fechado. Não
reclamei. Merecia por ser tão idiota, pois se não tivesse bebido isto não teria
acontecido. Na prisão não bebi mais e nem me tornei um viciado em drogas.
Graças a Deus. Achei que a prisão seria meu castigo e se um dia saísse seria
outro homem. Tentaram me convencer a participar das reuniões que os pastores
faziam. Não me interessei não porque não acreditasse em Deus. Eu acreditava.
Naquele momento achava que seria falsidade me arrepender só por acreditar em
Jesus.
Cinco anos
depois fui solto. Disseram que o verdadeiro assassino foi preso. Ninguém me
procurou para se desculpar. Não me importei com isto. Foram cinco anos de
abstinência. Na saída não vi meus pais. Depois fui saber que foram embora para
sua terra. Interior do Maranhão. Não deviam saber de mim. Resolvi ser outro
homem, estudar, trabalhar mostrar que a sociedade poderia acreditar em mim.
Assim fiz e em oito anos me formei em engenharia civil. Mais três anos e já era
um diretor de uma grande empresa construtora. Como era sozinho me entregava de
corpo e alma ao meu novo sonho de me tornar dono de uma empresa como aquela. Não
sei o que deu em mim em uma noite quando cheguei a minha casa. Encontrei
deitada no sofá a Dona Josefa, faxineira que vinha três vezes por semana fazer
limpeza. Ela estava com a saia levantada e sua calcinha deixava transparecer a
sua penugem. Fiquei tonto. Um calor enorme no corpo. Havia mais de oito anos
sem sexo. Meu membro endureceu. Fechei os olhos, tirei sua calcinha e entre
nela sem pedir licença.
Vi que ela
acordou e não disse nada. Deixou que eu a possuísse sem reclamar. Nem camisinha
usei. Jorrei tudo que tinha direito e não parei por ai. Parecia ensandecido por
sexo. Estava insaciável. Exausto fui para minha cama e dormi o sono dos justos.
Durante uma semana ela fingiu que não houve nada e eu também. Não era uma
mulher jovem, devia ter seus trinta anos ou mais e até que era simpática, mas
muito magra. Baixa, morena carnuda, cabelos crespos uns olhos castanhos
profundos e sempre que me via abaixava a cabeça e nada dizia. Não pediu
favores, não pediu nada. Seu salário continuou o mesmo. Durante três semanas
minha mente matutava sobre o que fazer. Não fui homem para ela. Usei-a como se
fosse uma lata de lixo, sem pedir licença e como se fosse o capitão do engenho.
Se arrependimento matasse eu estaria morto.
Passou um mês,
dois e ela calada claro, trabalhando e executando a função que competia. No
quarto mês notei que sua barriga crescera. Fiquei pasmo. Boquiaberto. Passei
uma noite em claro. Ela engravidara? Um maldito eu era. Tinha de tomar uma
atitude. Mas qual? Oferecer-lhe dinheiro? Casamento? Eu? Afinal ela uma simples
faxineira e eu um executivo de sucesso. Naquela tarde sai mais cedo do
trabalho. - Dona Josefa, falei, poderíamos conversar? Só eu falei. Ela nada
dizia e só de cabeça baixa. No dia seguinte trouxe sua mudança. Duas malas e
mais nada. Passou a morar no quarto de hospedes. Continuou executando suas
tarefas, mas dificilmente trocávamos uma palavra. Eu a respeitava e nunca
tentei fazer sexo com ela novamente. Nunca perguntei o que ela sentia e sabia
se perguntasse ela não responderia. Não era minha esposa, não era uma faxineira,
mas afinal ao que ela era? Quem sabe uma concubina, mas sem formalização de
corpos. Todo seu pré-natal foi custeado por mim. Ficou em um quarto especial
quando deu a luz.
Nancy nasceu
com três quilos e meio. Linda. Nunca vi uma criança como ela. Achava que era a
mais linda da face da terra. Josefa teve um parto normal, mas no segundo dia
sofreu uma parada cardíaca e não se recuperou. Morreu uma semana depois. Chorei
como se ela fosse minha esposa. Acredito que tinha por ela um amor diferente,
fechado, preso no coração e que não se soltava. Nunca soube se ela tinha
parentes, nunca me contou sua vida. Agora nada mais importava. Eu tinha Nancy,
eu faria dela a rainha do mundo! Cerquei-a de tudo. Contratei uma babá, quando
ela fez cinco anos fiz questão de contratar uma governanta trilíngue. Ela ia
cursar a melhor escola, teria as melhores roupas, tudo dela seria como de uma
princesa. O que ganhava era para ela. Minha empresa crescia a olhos vistos, eu
era outro homem. Não tinha olhos para outras mulheres e olhe que muitas faziam
de tudo para me conquistar. Agora só via minha filha. Amava-a mais que tudo.
O tempo foi
passando, Nancy crescendo e cada dia mais linda ficava. Adorava sair com ela, teatros,
cinema, melhores restaurantes e entrava de braços dados. Todos olhavam
abismados. Lembro quando fomos a Paris e entramos no L’ambroisie um dos meus
restaurantes prediletos e todos os olhos masculinos se viraram para ela. Um porte
de princesa um sorriso encantador e eu sabia que se ela mandasse todos eles
ficarem de joelhos em frente a ela eles obedeceriam. Uma noite de gala fui
convidado para um espetáculo que se apresentava ano Teatro ala Scala em Milão
na Itália. Eu sabia que era uma das mais famosas casas de ópera do mundo. Don
Fagundes um conde bem considerado em Roma fez o convite. Fiquei sabendo que
iriam apresentar “Die Walküre, e como não conhecia lá fui eu de braços dados
com Nancy”. Ela nos seus dezesseis anos parecia uma jovem de vinte e um. Qual
não foi a surpresa que ela sem perceber foi até o balcão onde estávamos e o
teatro em peso deu um sussurro de admiração. Logo uma salva de palmas. Ela
ficou vermelha de vergonha e sentou sem levantar mais.
A levei para
as mais lindas cidades do mundo. Eu a amava como um pai amoroso ama sua filha.
Mas como dizem por aí, tudo que é bom dura pouco. Minha sina nunca foi marcada
de felicidade para sempre. Eu mesmo estava espantado por ter tido a sorte que
tive. Fiquei riquíssimo, uma linda filha, uma mansão na Côte d’Azur na França.
Sempre passava as férias lá. Nancy era loira, naturalmente loira com cabelos
amarelos cor de palha, olhos azuis um lindo corpo que atraiam homens que davam
tudo para ficar ao lado dela. Estudava em um colégio feminino e Gustavo seu
guarda costa já passava dos sessenta anos. Um dia Nancy desapareceu do colégio.
Fiquei petrificado. Um medo grande de perdê-la. A polícia dizia para esperar
vinte e quatro horas. – Moças desta idade sempre dão um passeio mais longo e
davam risadinhas nada agradáveis. Passaram mais de vinte dias e nada. Contratei
uma agencia de detetives, a melhor da cidade. Disse que pagaria oque fosse para
encontrarem-na.
Moreno o Chefe
dos detetives me procurou no escritório em uma terça feira. Mostrou-me fotos
dela. De braços dado com Anthony Pergiano. Um mafioso contrabandista dos mais
perigosos. Não disse nada. Saí correndo e ele atrás dizendo que não era o
melhor caminho. Na Vinte e Cinco de Março subi correndo o prédio do mafioso.
Barraram-me no terceiro andar. Pelo celular mandaram deixar-me entrar. Minha
linda filha, a quem eu mais amava sentada no colo daquele filho da puta mafioso
foi como uma facada no coração. Ele devia ter uns trinta anos no máximo. – Porque
Nancy, por quê? – Ela abaixou a cabeça e balbuciando disse que o amava. Não me
disse nada, pois sabia que seria contra. – E porque não deu notícias? – Anthony
proibiu. Disse que eu era dele e de mais ninguém. Olhei nos seus olhos e
parecia que chorava as escondidas. Não me deixaram falar mais nada.
Escorraçaram-me e ela nada fez para impedir.
Maldito
mafioso. Filho de uma puta descarado. Não ia ficar assim. Sabia que ela estava
sofrendo uma pressão enorme. Moreno o detetive contratado me disse que a
policia nada ia fazer. Ele mandava na policia. Lembrei-me de Parafuso. Um negro
enorme que conheci na prisão. Sempre conversava comigo mesmo sabendo que não
teria resposta. Precisava encontrá-lo a todo custo. Não foi difícil. Moreno o
levou em minha casa uma semana depois. – Preciso de um favor. Preciso que
consiga alguém para matar um homem poderoso. Um mafioso que tem a polícia nas
mãos. Parafuso não perguntou o nome. Só disse onde ele morava e se tinha uma
foto. Mostrei-o com minha filha abraçados. – A moça não eu disse. Ela é minha
filha. Dei a ele trinta mil reais. – Faça o serviço e recebe mais duzentos mil.
Ele calado saiu. Um mês depois os jornais em letras garrafais anunciavam a
morte do mafioso – O senhor Anthony Pergiano morreu hoje. Deram nele onze
tiros. Ele achava que tinha o corpo fechado. Não tinha guarda costas. A policia
jurou que o crime não ia ficar impune.
Ninguém sabia
onde andava Nancy. Eu sabia que a tinha perdido. Se ela amava o mafioso não ia
me perdoar nunca. Um mês depois recebi a noticia. Notícia não foi um coice de
multa no rosto. Forte, marcou. E como marcou. Encontraram-na morta num Beco da
Rua Augusta. Foi morta com onze tiros. A mesma quantidade que recebera seu
amado. O mafioso filho da puta. Chorei e como chorei. O mundo desabou sobre
mim. Eu sabia que em minha vida nunca seria feliz. Onde colocava as mãos o
sangue derramava. Um ano depois vendi tudo que tinha. Já havia pago os duzentos
mil ao parafuso que sumiu da cidade. Não me disse aonde ia. – Olhe seu Freedy,
não fique por aqui ele me disse. Esta quadrilha não vai perdoá-lo. Mais cedo ou
mais tarde o senhor vai receber o mesmo que sua filha. Eles já sabem que fui eu
e olhe, nunca disse nada para ninguém que o senhor foi o mandante. Estou indo
para Bolívia e de lá sem destino.
Cheguei a Matões
do Norte onde meus pais moravam uma semana depois. A cidade é considerada uma
das quatro mais pobres do Brasil. O sitio onde estavam meus pais fazia pena. Um
casebre de pau a pique. Com as próprias mãos fiz uma puxadinha de um quarto.
Minha morada. Com as próprias mãos também construí minha mesa e uma cadeira. Ia
a pé até a cidade para fazer uma feira. Uma feira pobre. Não podia chamar a
atenção. Quer saber? Eu vivia feliz ali. Consegui esquecer tudo que fui e tudo
que eu era. Só não dava para esquecer Nancy. Nem lembrava mais de Josefa. Que
Deus a tenha. Foram quatro anos labutando no campo, onde fiquei “maneiro” com
uma enxada e um enxadão e de olho na estrada. Nunca mais ouvi falar nos
mafiosos. Deixaram-me em paz. Casei com uma rapariga nova que não conhecia.
Seus pais ofereceram para mim por cem reais. Aceitei mas disse a ela que não
teríamos filhos. Não poderia sofrer de novo a sede de vingança dos mafiosos
filho da puta.
Lena não sabia
que seu marido era bilionário. Nunca iria saber até minha morte. Um advogado em
São Luiz providenciou tudo. Não disse tudo. Só que tinha cinco mil em poupança
e se morresse era dela. Risos. Eram mais de um bilhão e quatrocentos milhões de
reais. Dinheiro suficiente para transformar aquela cidade em um paraíso. Eu? Eu
continuei pobre. Tirava minha comida da lida diária aqui e ali. Do feijão
plantado, do pequeno arrozal e da horta que fez inveja a muitos vizinhos. Lena
foi à mulher que não tive. Gostava de mim e fazia tudo por mim. Ela não sabia
que seria a mulher mais rica do brasil. O que iria fazer com tanto dinheiro?
Iria casar novamente? Quase não pensava nisto. Não precisava pensar. O dinheiro
muitas vezes é uma desgraça e só quem o tem sabe explicar melhor. Eu esperava
que ela fosse feliz, que tivesse tudo que quisesse apesar de que nunca me pediu
nada.
Fiz setenta e
cinco anos ontem. Os cabelos brancos aparecendo em quantidades. Apesar de ter
uma aparência magérrima me sentia bem. Nunca senti dores e peço a Deus para não
demorar em me levar. Sempre penso o porquê não morri até hoje. Aprendi a gostar
de todas as tardes ficar cochilando em um banco na Praça de Matões do Norte.
Fiz muitos amigos, até me convidaram para me candidatar a prefeito. Dei boas
risadas. Minha vida era outra. Só esperava a hora de partir para o céu e pedir
perdão a Josefa e Nancy. Não sabia se iriam me perdoar. Oscar Wilde já disse
que o amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O
amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem
amor!
Fim.
Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...